Prefeitura alega desconhecer problema na barragem após 4 meses de operação

Ricardo Rodrigues - Hoje em Dia
02/01/2016 às 07:46.
Atualizado em 16/11/2021 às 00:51
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Em nenhum momento, a Prefeitura de Mariana soube que a barragem da Samarco apresentava defeitos desde 2009, afirmou o secretário municipal de Meio Ambiente, Rodrigo Carneiro, ao comentar reportagem do jornal “Folha de S. Paulo”, ontem, mostrando que a estrutura de Fundão apresentou problemas quatro meses após o início de operação, em dezembro de 2008. A barragem ruiu em 5 de novembro último, causando ao menos 19 mortes e o despejo de 35 milhões de metros cúbicos de rejeito na bacia do Rio Doce. O secretário disse também que não teve acesso ao último relatório de inspeção, elaborado em julho de 2015 pela empresa Vogbr, apontando que Fundão tinha histórico de infiltrações e de entupimentos no sistema de drenagem.
 
Segundo o documento obtido pela “Folha de S. Paulo”, em 2009, um dos diques apresentou infiltração de um metro de diâmetro e erosão interna, o que pode causar ruptura. A Samarco interrompeu o lançamento de rejeitos e esvaziou o reservatório. Um aterro foi construído para controlar a erosão, diz o relatório.
 
Carneiro conta que assumiu a pasta do Meio Ambiente em junho de 2015, embora já trabalhasse na prefeitura, mas nunca teve acesso ao relatório entregue à Samarco pela empresa, um mês depois. “A prefeitura não teve acesso à documentação. Havia a conformidade do empreendimento, há quase 40 anos em Mariana, sob fiscalização de responsabilidade da Supram (Superintendência Regional de Regularização Ambiental), em nível estadual, e do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral), na esfera federal, por ser um empreendimento de grande porte”, disse o secretário. Após o desastre, ele diz ter pedido cópia do licenciamento à Samarco.
 
Segundo ele, a instalação de sirene poderia ter sido condicionante no alvará de funcionamento, para evitar tragédias como a ocorrida no dia 5 de novembro, “mas os órgãos de fiscalização nunca pediram à empresa essa condicionante”. “Houve uma falha. Temos de apurar as responsabilidades. Não somos da área de monitoramento de estruturas de barragens. Não foi erro da prefeitura e nem da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Não temos geólogo para fazer esses estudos. Não posso culpar ninguém”, disse Carneiro.
 
O prefeito de Mariana, Duarte Júnior, e o presidente da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), Diogo Melo Franco, não foram encontrados até o fechamento desta edição. A assessoria da Samarco não respondeu aos pedidos de informação.
 
As vistorias teriam de ser feitas todos os anos, pois a estrutura era classificada como de alto potencial de dano ambiental. Porém, a Feam, responsável por essa fiscalização, exigiu apenas que a auditoria fosse feita por especialista em segurança de barragem, que não pertencesse aos quadros da Samarco.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por