Prisões reforçam necessidade de atenção máxima à ataque terrorista em Minas

Renato Fonseca
rfonseca@hojeemdia.com.br
21/07/2016 às 20:26.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:24
 (WESLEY RODRIGUES)

(WESLEY RODRIGUES)

A prisão de dez suspeitos de ligação com o terrorismo, incluindo um mineiro, reacende o alerta para o risco de ataques em Minas durante a realização dos Jogos Olímpicos. Parte do grupo detido ontem em operação deflagrada pela Polícia Federal fez um juramento de lealdade ao Estado Islâmico (EI). No mesmo dia, a França solicitou reforço da vigilância em embaixadas e consulados no Brasil.

A ameaça coloca as forças de segurança do território mineiro em alerta. Na tentativa de prevenir e atuar em conflitos, grupos de elite da PM traçaram um plano estratégico, que inclui treinamentos com o Exército e até com policiais internacionais, além de um esforço para aumentar o efetivo nas ruas durante os dias de realização do evento.

Reforço

Militares do interior e que atuam nos setores administrativos serão deslocados para Belo Horizonte e cidades que vão receber equipes estrangeiras. Ao todo, 1.280 pessoas de delegações internacionais farão preparação para os jogos em Minas. Haverá profissionais em municípios da Grande BH, Viçosa e Juiz de Fora (Zona da Mata) e Uberlândia (Triângulo Mineiro).

Um dos temores é o jogo de futebol feminino entre Estados Unidos e França. A partida acontece em 6 de agosto, no Mineirão. Chefe da Sala de Imprensa da PM, O capitão Flávio Santiago evita falar em “atenção maior” em determinados locais, como o estádio da Pampulha durante essa disputa.

Ele garante que o patrulhamento e monitoramento serão constantes em toda a metrópole, 24 horas por dia. “A Polícia Militar está preparada para atuar e prevenir situações de risco”, diz. Além disso, ele afirma existir uma forte interação entre diversos organismos públicos.

1,7 mil militares do Exército serão empregados em Minas; 156 viaturas, quatro helicópteros e nove motocicletas também serão disponibilizados

Conforme a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), 40 órgãos federais, estaduais e municipais compõem uma comissão em Minas responsável por coordenar as ações integradas no período dos jogos e acomodação das delegações. 

Criada em julho do ano passado, a Seds reforçou que a comissão vem trabalhando em treinamentos, eventos testes, simulados e multiplicação de conhecimentos sobre ações de segurança em grandes eventos. A pasta informou ainda que haverá reforços em áreas sensíveis, como nos aeroportos mineiros. 

Saúde

Um planejamento especial também foi traçado para a área da saúde em BH. Segundo a médica Paula Martins, do Colegiado Gestor de Urgência da Secretaria Municipal de Saúde, a preparação é semelhante à da Copa do Mundo, realizada em 2014. Haverá 31 ambulâncias e um helicóptero.

Hospitais de referência preparam uma escala de atendimento própria. Profissionais passaram por treinamentos e ficarão sobreaviso em caso de urgência.

“Os hospitais estão treinados. Em julho houve um simulado grande. No mês passado outro junto com o Exército. Durante esse ano, fizemos vários treinamento, e antes dos jogo haverá mais”, diz. Com relação ao banco de sangue da cidade, o Hemominas faz recrutamentos para concentração maior de hemoderivados antes de grande eventos na capital.Lucas Prates/ Hoje em Dia

HOSPEDAGEM - Policiamento será reforçado em locais que vão receber delegações internacionais, como o Centro de Treinamento Esportivo, da UFMG

Especialista afirma que sedes podem ser alvos de violência

Apesar de todo o esforço, especialistas em segurança pública são categóricos ao afirmar que nenhuma cidade que vai receber os jogos ou delegações está imune a atos de violência. 

Professor do Departamento de Relações Internacionais da PUC Minas e atuando há 14 anos em assuntos relativos a conflitos internacionais e ao Oriente Médio, Dannys Zahreddine chama a atenção para outro agravante, os chamados “lobos solitários”. 

Em anos anteriores, explica o professor, os atentados eram diretamente ligados a grupos ou redes terroristas. “Havia um mapa dessas pessoas e ações. Hoje, esse monitoramento é mais complexo. Um único indivíduo pode ser capaz de dizimar dezenas de pessoas. Ou seja, se antes já era complicado conter esses ataques, atualmente o desafio é maior”.

Dentre os locais mais vulneráveis, o especialista destaca pontos de grande aglomeração de pessoas ou com a presença de atletas. “Estádios, possíveis protestos que devem ocorrer, nas hospedagens das delegações e na chamada Fan Fest”. Apesar dos riscos, Zahreddine avalia que a Polícia Militar de Minas tem planejado as ações necessárias e está preparada.

1,6 mil câmeras de BH e região metropolitana serão monitoradas no Centro Integrado de Comando e Controle Regional, na Cidade Administrativa

A complexidade da prevenção e combate ao terrorismo também é reforçada por Robson Sávio, professor da PUC-Minas e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Apesar de lembrar que o histórico recente de grandes eventos no Brasil, com as copas do Mundo e das Confederações, apontar uma boa articulação entre as forças de segurança, ele diz que as situações nesse momento são distintas. 

“Em relação a terrorismo, que é uma situação muito mais complexa, não dá para avaliar que o Brasil tenha expertise, não dá para avaliar a efetividade policial”, afirma o especialista. 

“Felizmente nunca vivenciamos uma ação terrorista. Nossas forças só passaram por treinamento. Simulação é simulação”, lembra Robson Sávio.

Ainda de acordo com o pesquisador, faltando quinze dias para os jogos, não é possível fazer grandes alterações em termos de segurança, somente revisar os procedimentos feitos, como reforçar a atenção dos aeroportos, já prometida. 

Dentre alguns pontos frágeis, que merecem atenção redobrada, ele cita as estradas, situação que envolve a participação das policias Militar e Federal.

Editoria de Arte 

(Colaborou Filipe Motta)

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por