Projetos sociais são inviabilizados por falta de vigias nas escolas de BH

Tatiana Lagôa
tlagoa@hojeemdia.com.br
25/07/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:43
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

A falta de vigias em escolas municipais de Belo Horizonte não compromete só a segurança nas unidades, que se tornaram alvos de bandidos. A ausência dos profissionais prejudica projetos sociais importantes para as comunidades que vivem no entorno das instituições. Atividades desenvolvidas aos fins de semana, período em que os espaços ficam mais vulneráveis, estão sendo canceladas.

O Escola Aberta, por exemplo, que disponibiliza pátios, quadras e outras áreas para a realização de ações da população, inclusive nas férias, é um dos programas inviabilizados em algumas escolas da capital. Oficinas, jogos e outras atividades de recreação não têm ocorrido.

É o caso da Escola Municipal Antônia Ferreira, na região de Venda Nova. Nos últimos fins de semana, a instituição passou a ficar aberta apenas aos sábados. Antes, a comunidade utilizava o espaço também aos domingos.

“Vamos arrecadar menos com a venda de caldos e rifas. E isso tudo justamente no ano em que as doações estão menores por causa da crise”Ana Paula de SouzaCoordenadora pedagógica da creche

“É uma pena. As crianças se ocupam com o projeto e ficam longe da criminalidade. Agora, elas são empurradas para a rua e ficam expostas a todo tipo de violência”, afirma um dos professores do projeto, Wanderley Cardoso.

Segundo ele, cerca de 150 crianças e adolescentes são atendidos na iniciativa. Lá, dentre outras atividades, aprendem música e participam de esportes na quadra. Agora, diante da mudança no projeto, a comunidade da região está reunindo assinaturas para um abaixo-assinado. O documento será entregue ao prefeito Alexandre Kalil. Eles cobram o retorno dos profissionais e a reabertura do local.

Além do Escola Aberta, outros projetos afetados provocam impactos financeiros. A Escola Municipal Milton Campos, também em Venda Nova, teve que fechar as portas para a creche Benedita, que atende cem crianças, de 2 a 4 anos. 

Há 17 anos, festas e outras ações da instituição são feitas no pátio do colégio, mas a parceria foi finalizada. “Nosso espaço é pequeno e precisamos fazer eventos para arrecadar dinheiro. Vamos ter um ano mais difícil por causa disso”, conta a fundadora e diretora da creche, Agda Maria de Jesus.

A Ação Solidária, feita todos os anos em comemoração ao Dia das Mães, aconteceu pela última vez neste ano. “Para fazer a festa tivemos que pagar um vigia, mas já fomos informados que não poderão acontecer outras”, conta. Flávio Tavares / N/A

Quadrilha da creche Benedita era realizada na escola Milton Campos, mas, sem os vigias, evento precisou ser improvisado em um espaço menor 

No segundo semestre de 2016, a prefeitura retirou os vigilantes que faziam a guarda à noite e aos fins de semana nas escolas municipais de BH. Em seguida, as instituições se tornaram alvo de furtos e depredações

Já a quadrilha precisou ser improvisada. A festividade típica desta época do ano era aberta à comunidade, mas foi feita em um espaço menor e limitada aos familiares dos alunos. “Vamos arrecadar menos com a venda de caldos e rifas. E isso tudo justamente no ano em que as doações estão menores por causa da crise”, lamenta a coordenadora pedagógica da creche, Ana Paula de Souza.

Retornos

A direção da Escola Municipal Antônia Ferreira não se posicionou. Já a Secretaria Municipal de Educação (Smed) disse, em um primeiro momento, que a informação sobre o cancelamento de atividades aos fins de semanas não procedia. Questionada novamente, a pasta justificou o corte com o baixo número de participantes e lembrou que a instituição está aberta aos sábados. “A comunidade, portanto, encontra-se plenamente atendida pelo Programa Escola Aberta”.

A reportagem tentou contato com a direção da escola Milton Campos, mas ninguém foi localizado. Sobre este caso, a Smed não se manifestou. 

Escala reduzida é problema nas instituições com seguranças

A contratação de vigias nas escolas, autorizada em abril deste ano pela prefeitura de BH, não solucionou o problema em toda a rede de ensino. Primeiro, nem todas as instituições foram contempladas. Além disso, a falta de recursos e a escala reduzida de domingo também seriam entraves, segundo o diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de Belo Horizonte (Sind-Rede BH), Daniel Wardil. 

“Em alguns casos, são liberadas novas vagas, mas, em outras, a direção precisa dispensar funcionários para contratar os vigias. É preciso abrir mão de cantineiros, por exemplo. Nem todas as escolas têm essa sobra para fazer a substituição”, afirma Daniel Wardil. Maurício Vieira

“Crianças se ocupam com o projeto e ficam longe do crime”, diz Wanderley

“Quando o Escola Aberta começou, os muros da instituição até pararam de ser pichados e a violência diminuiu”Wanderley CardosoProfessor

Nos casos em que houve a reposição, os seguranças trabalham oito horas de segunda a sexta-feira e quatro aos fins de semana. Na maioria dos casos são dois profissionais. Assim, quando há necessidade de abrir a escola por oito horas no sábado, falta mão de obra no domingo.

A Smed afirma que houve contratação de vigilantes em todas as escolas que avaliaram essa necessidade. No entanto, os números não foram apresentados para “não comprometer as estratégias de segurança estabelecidas”, mostra nota enviada pela pasta. Sem citar dados, a secretaria diz que o processo é “dinâmico” e já foi finalizado em várias instituições de ensino.

Arrombamentos

As contratações foram liberadas após uma onda de arrombamentos. Inicialmente, apenas 50 escolas poderiam fazer a contratação, mas, depois, foi aberta a possibilidade para todas as escolas.

Como mostrado pelo Hoje em Dia, escolas e Unidades Municipais de Ensino Infantil (Umeis) tiveram os vigias demitidos devido a uma redução dos custos. Mesmo a existência de sistema eletrônico de segurança não tem sido suficiente para intimidar os ladrões. Além dos roubos de computadores e outros objetos, os bandidos deixam muita bagunça e depredação, causando prejuízos ainda maiores ao poder público.

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