Proposição de reassentamento no Isidoro gera movimentação de invasores

Renata Galdino e Gabriela Sales - Hoje em Dia
14/04/2015 às 07:58.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:38
 (FREDERICO HAIKAL/ARQUIVO HOJE EM DIA)

(FREDERICO HAIKAL/ARQUIVO HOJE EM DIA)

A proposta de reassentamento feita pelo governo de Minas aos invasores da região do Isidoro, na zona Norte de BH, pode estar levando mais pessoas para as ocupações instaladas no local. Imagens captadas por drones do Estado, nos últimos 15 dias, apontam o crescimento dos assentamentos existentes por lá. A cada semana, de acordo com a Companhia de Habitação de Minas Gerais (Cohab-MG), cerca de 40 novas famílias estariam fixando moradia na região.

Conforme a proposição do governo, apresentada no mês passado em reunião da Mesa Estadual de Diálogo e Negociação Permanente, os ilegais serão remanejados para apartamentos de empreendimento do programa Minha Casa Minha Vida, previsto para o local. Os representantes dos acampamentos têm até 28 de abril para dar uma resposta se aceitam ou não a condição, mas um novo encontro nesta terça-feira (14) poderá já definir o impasse.

Porém, depois da apresentação estadual, houve denúncias de que invasores estariam procurando moradores do entorno na tentativa de encher a área invadida. “Um cadastro deverá ser feito para saber quem mora nessas ocupações e acreditamos que, agora, eles queiram captar mais gente para tentar chegar ao número que eles sempre alegaram ter, cerca de 8 mil famílias”, especulou uma fonte ligada às negociações.

Há um ano, levantamento da prefeitura mostrou que cerca de 2.500 famílias viviam no Isidoro, ilegalmente.

Situação

Um dos moradores do local, um auxiliar de serviços gerais de 57 anos, que pediu para não ser identificado, conta que o homem que o abordou sugeriu a ele pegar quatro lotes. “Disse que poderia ser para mim e meus três filhos, um para cada, porque o Estado vai dar apartamento. Outros vizinhos disseram que também foram procurados em casa”.

Presidente da Cohab-MG, Claudius Vinicius Leite Pereira acredita que essa seja uma estratégia para colocar mais pessoas nos acampamentos. “Mas é bom saber que somente serão beneficiados pelo programa quem atender aos critérios da lei, como ter renda de até R$ 1,6 mil e não ter sido beneficiado anteriormente por outro programa de habitação. Também serão avaliados apenas moradores que foram para lá até 31 de março”.

No momento, tanto o Estado quanto a prefeitura afirmam que pouco podem fazer para impedir a entrada de novos invasores no Isidoro. Na última quinta-feira, uma equipe da Cohab parou uma máquina que preparava a área para a construção de mais moradias e aplicou multa. “Há denúncia de que já estariam degradando parte de área protegida”.

 

 

Alta rotatividade justificaria aumento de famílias na região

Na Comunidade Granja Werneck, região Norte de Belo Horizonte, o que impera é a lei do silêncio. Nenhum morador da ocupação fala a respeito da chegada de novos militantes para engrossar a lista das famílias.

Segundo Rafael Bittencourt, membro do Movimento Brigadas Populares, a denúncia de que pessoas estariam sendo convocadas para aumentar o número de famílias beneficiadas é infundado. “Uma calúnia. Estão difamando o trabalho de pessoas que lutam para ter uma moradia com dignidade”.

Para a chegada de novas famílias em todas as ocupações existentes na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Bittencourt justifica que as ocupações possuem uma alta rotatividade e por isso, a cada dia, o número de famílias aumenta. “São pessoas que estão na margem de vulnerabilidade, moram de favor e que não têm condições de arcar com aluguéis”.

A respeito da proposta da governo em reassentar as famílias, Rafael Bittencourt esclareceu que a comunidade ainda não debateu sobre o assunto.

O motivo para a pauta ainda não ter sido discutida foi o assassinato de um militante da ocupação, em suposta briga por posse de terra, de acordo com moradores.
 

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