Recomeçando a vida em Belo Horizonte, sírios não querem ir embora

Malú Damázio
mdamazio@hojeemdia.com.br
17/10/2016 às 19:32.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:15
 (Lucas Prates/Hoje em Dia)

(Lucas Prates/Hoje em Dia)

Os olhos de Joseph Barsoun brilham ao falar sobre o dia 23 de janeiro de 2017. Na data que guarda na ponta da língua, o jovem sírio completará três anos em BH. O objetivo dele é comemorar outros tantos aniversários como esse em terras brasileiras. “É um país maravilhoso. Meus amigos refugiados na Europa não acreditam quando conto como as pessoas aqui me respeitam e me ajudam”. 

Assim como Joseph, outros 147 sírios registrados pela Polícia Federal (PF) também estão tentando recomeçar a vida em Minas. Só este ano, 87 pedidos de refúgio foram processados pelo Estado.

Colega de quarto de Joseph, Nadim Daboul se encantou pela cidade. O rapaz se formou em engenharia de petróleo na Síria e teve o diploma reconhecido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele, porém, nem cogita trocar a capital mineira pelas belas praias cariocas. “BH é uma cidade linda e acolhedora. É cheia de árvores e parques. Gosto muito de viver aqui”, diz o engenheiro, que já adotou o Galo como o time do coração.

Tanto Nadim quanto Joseph optaram pela capital porque tinham primos e amigos na cidade. Além disso, na época em que saíram da Síria o Brasil era o único país que facilitava o visto para nações em situação de guerra. O Consulado da Síria em Minas estima que haja ainda outros cem imigrantes vivendo no Estado sem a regularização. Inclusive, o órgão ajuda no registro dos refugiados na PF. “Eles têm CPF, documentos, carteira de motorista, e tentamos encaminhá-los para vagas de emprego”, diz o cônsul Emir Cadar.

Mudança

Há cinco anos, Joseph não imaginava que a vida dele tomaria outros rumos. Ele havia acabado de ingressar na faculdade de letras e trabalhava em uma distribuidora de bebidas em Homs. “Tinha uma vida normal na Síria. Fazia faculdade, ia para barzinhos e festas na praia. Isso acabou quando a guerra começou”. 

O rapaz lembra que, com o conflito, a população foi orientada a ficar em casa. Trabalho e faculdade foram suspensos. “Passávamos dias sem internet e luz. Não podíamos viajar porque ruas e aeroportos eram fechados. Em alguns dias saíamos só para comprar comida e voltar para casa”, diz. 

Cabisbaixo e com olhar inquieto, Joseph relata que um dos maiores medos dos jovens sírios é o recrutamento para o combate. “Perdi mais de 25 amigos em batalha”.

Celebrar a cultura natal ajuda a matar a saudade da família

A vinda para o Brasil representou uma nova oportunidade para Joseph Barsoun. Desde que chegou, o jovem já trabalhou na administração do Clube Sírio e agora é caixa, durante à noite, em um bar de espetinhos. Para ajudar na adaptação, se inscreveu em um curso gratuito de português na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pratica o idioma com os amigos brasileiros feitos nas ruas e nos barzinhos.

Quando bate a saudade dos familiares e do país de origem, o jovem se reúne com outros refugiados para celebrar a cultura síria. “Meus amigos também estão sem família em Minas. No Natal, por exemplo, fazemos uma festa árabe”, conta. Quase mineiro, Joseph elenca, orgulhoso, o que mais gosta no Brasil. “Tem muitas coisas bonitas aqui. Amizade, saídas, cultura, cinema, belas paisagens e até sertanejo”, diverte-se. 
 

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