Risco de acidentes é alto em 245 mil quilômetros de estradas mineiras sem asfalto

Ernesto Braga
eleal@hojeemdia.com.br
05/06/2016 às 20:03.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:45
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Conceição do Mato Dentro e Serro são ligados por 59 quilômetros da MG-010. Em 26 (44% do trecho), motoristas e passageiros convivem com os riscos da estrada de terra: tráfego intenso, traçado sinuoso cheio de buracos e poeira, com sinalização inadequada e obras inacabadas.

A pavimentação desta parte da rodovia estadual, entre a região Central de Minas e o Vale do Jequitinhonha, foi iniciada em 2012. Até agora, 33 quilômetros foram asfaltados, média de 8,2 por ano.

“Minas Gerais tem a maior malha e, portanto, muitas conexões rodoviárias. Por isso, o baixo crescimento da pavimentação não prejudica só o Estado, mas todo o país. Sem asfalto, as rodovias têm mais congestionamentos, índices elevados de acidentes, maior desgaste e encurtamento da vida útil, fatores que aumentam o custo operacional”, avalia o diretor-executivo da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), Bruno Batista.

O Anuário do Transporte, divulgado semana passada pela CNT, aponta em Minas mais de 245 mil quilômetros de rodovias sem pavimentação. De 2001 a 2015, foram asfaltados 4 mil quilômetros no Estado, média de apenas 268,4 por ano.

“A segurança fica comprometida. Quando chove, os trechos sem asfalto ficam intransitáveis, dificultando o acesso a escolas e o transporte de doentes, por exemplo”, destaca o engenheiro civil Silvestre Andrade, consultor em transporte e trânsito.

Não há previsão para o início das obras no trecho da MG-010 sem asfalto, informa o DER-MG

Problema é mais comum em rodovias como a MG-010

Nos 245 mil quilômetros da malha mineira sem pavimentação estão incluídos trechos de rodovias federais, estaduais e municipais. Mas, segundo os especialistas, a maior extensão é de responsabilidade do Estado.

João Paulo Campos, de 33 anos, é dono de um restaurante na MG-010, no município de Alvorada de Minas. “Prometem asfaltar esse trecho há mais de dez anos. As obras não foram concluídas, mas já consta para o Estado que está tudo pronto”, afirma o comerciante.

Ele lamenta o excesso de poeira no restaurante. O carro de João Paulo está quebrado. “Nada aguenta tanto buraco”.

O motorista Paulo Cipriano, de 38, transporta brita e areia pela rodovia estadual. Na semana passada, o caminhão dele quebrou entre Serro e Conceição do Mato Dentro. “É muito comum cortar o pneu nessa estrada ruim”.

Jesiel Simões de Oliveira, de 24, e Vandeir Moreira, de 35, moram em Itaponhacanga, distrito de Alvorada de Minas. Eles enfrentam praticamente todo dia os riscos da MG-010.

“O trânsito é intenso, com muitos caminhões, e acontece acidente direto. Também é comum para-brisas quebrados por pedras”, afirma Jesiel. “Além de não asfaltarem, não há manutenção adequada neste trecho”, completa Vandeir.

Cleiton, de 15, e Luiza Vitória, de 10, nem sempre conseguem pegar o escolar. “Se chove muitos dias, o ônibus costuma não rodar”, diz o garoto. Eles estudam na vila Deputado Augusto Clementino, que pertence ao Serro.Flávio Tavares

SEM ESTRUTURA – Buracos, poeira ou lama em frente ao restaurante de João Paulo incomodam o comerciante

Conceito regular

De acordo com o Anuário do Transporte da CNT, a maior parte dos 14,5 mil quilômetros de rodovias pesquisados em Minas tem conceito bom com relação à sinalização, regular quanto ao estado geral e pavimento e péssimo no que diz respeito à geometria (traçado).

“É um reflexo da falta de investimento em transporte, que nunca foi prioridade no país”, ressalta Bruno Batista, diretor-executivo da CNT. “Numa situação de crise econômica, são os primeiros investimentos cortados”, acrescenta Silvestre Andrade, consultor em transporte e trânsito.

Em 2015, investimento em Minas foi maior na manutenção do que em obras de pavimentação

Para o Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG), há em Minas 61,2 mil quilômetros de rodovias sem pavimentação. “O Anuário da CNT leva em consideração duas classificações que, tecnicamente, não são enquadradas nos critérios do DER-MG e do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) como rodovias: ‘planejadas’ e ‘leito natural’”, explicou o órgão estadual, por meio de nota.

O DER-MG informa que “é responsável pela manutenção e conservação de 27.491 quilômetros de rodovias: 21.256 (77,3%) são pavimentados e 6.235 (22,6%) sem asfalto”.

Recursos

Segundo o DER-MG, em 2015 foram investidos R$ 227,9 milhões em manutenção de rodovias e R$ 101 milhões em obras de implantação, melhoramento e pavimentação.Editoria de Arte

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