Risco de complicações da vacina de febre amarela não reduz procura por imunização

Malú Damázio
mdamazio@hojeemdia.com.br
19/01/2017 às 21:50.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:29

Filas enormes, postos com estoques de vacinas zerado, desinformação e até uma pequena dose de medo. Um dia após o Ministério da Saúde informar que investiga se a imunização contra febre amarela poderia ter relação com quatro óbitos ocorridos em Minas, a corrida aos centros de saúde seguiu intensa, mas com muitas pessoas preocupadas.

Ontem, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) confirmou 23 mortes pela doença no território mineiro e descartou o contágio pela vacina, garantindo que nenhum dos mortos havia sido imunizado. Trinta e um óbitos ainda estão sendo investigados. Na última quinta-feira, o Ministério da Saúde havia informado a suspeita de febre amarela vacinal em quatro mineiros.

Procura
A reportagem do Hoje em Dia esteve em quatro centros de aplicação de duas regiões de BH. A informação sobre a remota possibilidade de contrair a doença após receber a dose surpreendeu Maria da Conceição da Costa, de 67 anos. Porém, ela não abriu mão de se vacinar no Centro de Saúde Paraíso, Leste da capital. Ao chegar na unidade, no entanto, a dona de casa descobriu que o estoque havia esgotado.

Desistir de tomar o medicamento está fora dos planos da dona de casa. “Ouvi falar tanto da doença que fiquei apavorada. É melhor a gente se prevenir do que ficar na dúvida, sem proteção”, diz.

Entre 1° e 17 de janeiro, foram ministradas 49.573 doses de vacinas em BH

Ela, assim como o comerciante Valdir Brandão, de 60 anos, fazem parte do grupo de risco da vacina. Idosos que desejam se proteger contra a febre amarela precisam de atestado médico.

Valdir Brandão desconhecia a obrigatoriedade da recomendação médica quando foi pela primeira vez a um centro de saúde. Após aguardar na fila, foi informado que só poderia voltar com a certificação. Mesmo sem muito conhecimento sobre a vacina, o comerciante também achou melhor se prevenir.

Sem alarde
Em meio a tantas dúvidas sobre as propriedades da imunização, o infectologista do hospital Mater Dei, Argus Leão Araújo, diz que, como qualquer vacina, a da febre amarela pode desencadear reações adversas na aplicação da primeira dose, mas destaca que as chances de contrair a doença são mínimas. “Alguns exemplos são bem graves, mas acontecem muito raramente. Não há motivo para alarde”, explica.

Segundo o Ministério da Saúde, a análise da origem dos casos de febre amarela é um procedimento usual em todas as ocorrências. Conforme a pasta, no estudo são considerados fatores como histórico do paciente, local de moradia, lugares que visitou e vacinas tomadas.

Ministério da Saúde vai enviar mais 800 mil doses contra febre amarela para o Estado

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde disse que não há surto da doença em Belo Horizonte e que o município não está em campanha de vacinação. Segundo o órgão, a imunização faz parte da rotina dos centros de saúde locais. Ainda ontem, o estoque teria sido reposto no Centro de Saúde Paraíso. Mais 200 doses foram disponibilizadas.

Só homens, lavradores ou aposentados, perderam a vida após ficar doentes em Minas

Duzentos e seis casos suspeitos de febre amarela foram registrados em Minas até o momento, sendo 34 desses já confirmados. Em coletiva realizada ontem em BH, a Secretaria de Estado de Saúde descartou contágio pela vacina.
 
Até o momento, apenas homens morreram, sendo que 95% deles eram aposentados ou lavradores. Todos moravam nas zonas rurais dos municípios das áreas de risco, no Leste de Minas. O primeiro registro da doença no Estado foi notificado em 12 de dezembro do ano passado. 

A secretaria tentou tranquilizar a população ao reafirmar que há no Estado um “surto localizado”, mas sem registro da doença na área urbana, segundo o subsecretário de Vigilância e Proteção à Saúde, Rodrigo Said. Um levantamento feito mostra que também há rumores de mortes de macacos por febre amarela em 44 das 152 cidades afetadas pelo surto.

Representantes do governo mineiro garantiram que estão empenhados para conter o avanço da doença. O Estado informou que aguarda posição do governo federal sobre o pedido de ajuda da Força Nacional para auxiliar no combate à doença.

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Ponto a ponto

Esclareça as principais dúvidas sobre a doença:

Quais os sintomas?
Febre, calafrios, moleza, náuseas, vômitos, dores de cabeça, nas costas e nos músculos. 

Como se prevenir?
A vacina é a principal forma de prevenção e controle.

Qual a eficácia da vacina?
Chega a 90% e a imunização é bastante segura. 

Podem ocorrer reações adversas?
Sim, como em qualquer medicamento. Porém, casos graves são raros. Dores no corpo, de cabeça e febre podem afetar entre 2% e 5% dos vacinados.

Qual a possibilidade de febre amarela vacinal acontecer?
Varia de um em cada 400 mil doses ou um a cada um milhão.

Quem não pode tomar a vacina?
Gestantes, bebês com menos de seis meses, alérgicos a ovo e imuno-deprimidos por doenças como câncer e Aids ou por tratamentos (como radioterapia). Pessoas com doenças autoimunes (como lúpus) devem ser avaliadas caso a caso.

Quem não se lembra há quanto tempo tomou a primeira dose deve se vacinar?
Se a pessoa está em uma zona de risco, sim. Na dúvida, a recomendação é vacinar. Em regiões em que não há registro de casos, o melhor é tentar confirmar quando tomou a última dose. Se a imunização for feita em tempo menor que o recomendado (dez anos), podem ocorrer efeitos colaterais, mas sem gravidade.
 

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