Fixação por dietas livres de alimentos 'condenados' traz riscos à saúde

Da Redação(*)
horizontes@hojeemdia.com.br
31/07/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:49
 (Pixabay/Divulgação)

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Dietas “sem isso, sem aquilo”, que retiram glúten, lactose e outros itens do planejamento diário mesmo sem a presença de alergias, popularizaram-se em todo o mundo como garantia de um equilíbrio alimentar saudável.

Junto a isso, a desconfiança em relação ao setor agropecuário fez multiplicar o número de optantes pelo vegetarianismo e o veganismo. No entanto, essas práticas podem virar uma obsessão, caracterizando um quadro de ortorexia.

O distúrbio alimentar é marcado pela fixação pela alimentação saudável, sem quaisquer químicas, agrotóxicos ou aditivos. O termo surgiu nos anos 1990 nos Estados Unidos e, na tradução do grego, significa “apetite correto”.

“Comer uma fruta apenas se ela tiver sido colhida há menos de um minuto, fazer minirrefeições combinadas com complementos alimentares... A pessoa ortoréxica está aprisionada a um conjunto de regras que ela se impõe”, explicou à AFP o professor francês Patrick Denoux, especialista em psicologia intercultural. 

De acordo com ele, a proporção de ortoréxicos na França é estimada entre 2% a 3%. “Vivemos uma mutação cultural da alimentação, que nos leva, basicamente, a duvidar de tudo que comemos, por causa do distanciamento do produtor e do consumidor e da crise alimentar”, enumera Denoux.

Experiência

“Eu tinha a impressão de deter a verdade sobre a alimentação saudável que permite viver o máximo possível”, testemunha a escritora francesa Sabrina Debusquat, de 29 anos, que foi ortoréxica durante um ano e meio e publica naquele país um livro justamente sobre o tema.

Ela desenvolveu a síndrome progressivamente, depois de sofrer alergias de pele causadas por cosméticos. De clique em clique, ela ia encontrando sites e estudos contraditórios sobre a alimentação.

“Todas essas informações geraram uma angústia enorme em mim. É uma reação extrema a uma ‘junk food’ extrema”, avalia.

Sem limite

Denoux define três grandes sistemas alimentares: o tradicional, “das nossas avós”; o industrial, “que enche o estômago”; e o de saúde, “que vê a comida como remédio”.

“O ortoréxico não combina esses sistemas. Ele simplifica e se refugia no da saúde”, excluindo alimentos, aponta. Em um ano e meio, Sabrina Debusquat se tornou vegetariana, depois vegana, então crudívora e frugívora (alimentação à base de frutos e vegetais). “Eu queria atingir uma espécie de estado de pureza”, lembra.

Os cabelos começaram a cair, mas ela não se preocupou. Foi apenas a irritação incomum do companheiro que a levou a se dar conta do estado obsessivo.

“Meu corpo acabou tiranizado pelo meu espírito”, reconheceu, contando que decidiu sair e comprar vitamina B12. Obtido a partir de bactérias encontradas, sobretudo no estômago de animais ruminantes e marinhos, esse elemento serve, essencialmente, para a fabricação de glóbulos vermelhos.

“Vira um quebra-cabeça encher o carrinho do supermercado e equilibrar os cardápios. Agora você tem alimentos que são apresentados como remédios. Então, as pessoas dizem que isso só pode ser melhor”, comenta Sophie Ortega, médica nutricionista em Paris. Ela insiste, porém, que “a boa alimentação inclui o vegetal e o animal”. O que vale é “a espontaneidade e o prazer” de comer. 

(*) Com AFP

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