Savassi abandonada: falta de manutenção expõe pedestres a risco e escancara vandalismo

Mariana Durães
mduraes@hojeemdia.com.br
29/09/2017 às 19:58.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:48
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Pichações, calçadas irregulares e esburacadas, faixas de pedestre danificadas e jardins praticamente sem plantas. A falta de manutenção e de cuidado com o espaço público chama a atenção de quem passa pela Praça Diogo de Vasconcelos, na Savassi, Centro-Sul de Belo Horizonte.

A região passou por uma revitalização entre 2011 e 2012 que custou mais de R$ 11 milhões. Dentre as intervenções, reformas na infraestrutura e o fechamento dos quarteirões das ruas Pernambuco e Antônio de Albuquerque. O espaço foi ampliado e ganhou novos jardins, bancos e iluminação, além de fontes luminosas. No entanto, cinco anos depois, o local carece de mais atenção.

Em uma rápida caminhada, fica fácil constatar o descaso. No quarteirão fechado, tomado por bares e outros estabelecimentos comerciais, o vandalismo está presente até em um totem de informações, que foi pichado. A depredação afeta também lixeiras e bancos.

Além disso, na extensão das avenidas Cristóvão Colombo e Getúlio Vargas, os canteiros centrais estão quase sem vida. Com exceção das árvores de grande porte, nenhuma flor é vista e apenas terra e um resquício de grama seca ocupam o espaço. A área mais verde encontrada pela reportagem é um canteiro de responsabilidade da iniciativa privada, por meio do projeto “Adote o Verde”, da prefeitura de BH.

Comércio

Um dos objetivos do projeto inicial de recuperação da área era transformar a praça em um “shopping ao ar livre”. A expectativa era de que as lojas ficassem abertas até 21h. Mas, atualmente, o comércio fecha às 19h30, no máximo. Para Maria Auxiliadora Teixeira de Souza, presidente da Associação dos Lojistas da Savassi, isso afasta os consumidores da região. “Não é interessante do ponto de vista comercial nem econômico estender o horário, porque não tem venda. Além disso, os comerciantes também estão saindo, temos muitas lojas fechadas”.

De acordo com Maria Auxiliadora, que trabalha na região há 27 anos, o maior problema indicado pelos lojistas é o abandono. “Tem muito lixo acumulado, pichação, as placas de cimento estão quebrando, os jardins estão mal cuidados e falta iluminação. A revitalização foi boa, mas não há manutenção”. Para ela, a Savassi precisa de mais atenção por ser um ponto turístico e de muita visibilidade.

de Belo Horizonte

Maurício Vieira

“Aqui tem um lado cultural que poderia ser mais bem explorado com shows e intervenções artísticas” (Rafaella Pereira, trabalha e frequenta bares na região)

Dia a dia

Quem trabalha, mora ou frequenta a região também percebe os problemas e sente os efeitos no dia a dia. O economista Eduardo Santos, de 47 anos, que trabalha por lá, diz que não vê mais a movimentação de pessoas passeando. “Ninguém vem passar o tempo aqui mais, preferem os shoppings”, diz. “Os bancos estão pichados, lixeiras quebradas. Claro que a população tem culpa, mas falta fiscalização, seria bom a presença da Guarda Municipal para coibir esse tipo de ação”, acrescenta Eduardo Santos.

Por meio de nota, a corporação afirmou que tem cinco viaturas e duas motos no patrulhamento da região Centro-Sul, além de equipes que circulam a pé na área. Além disso, “a região da Savassi, especificamente, possui câmeras de monitoramento visualizadas pela equipe do Centro de Operações da Prefeitura (COP-BH)”, informou a Guarda Municipal.Maurício VieiraMoradores de rua são constantemente vistos na região

Presença de moradores de rua gera sensação de insegurança, relatam frequentadores

Outra situação que preocupa quem frequenta a Savassi – também comum a outras regiões da capital – é a presença de moradores de rua, que ocupam praças e canteiros. Na avenida Getúlio Vargas, quase esquina com Cristóvão Colombo, uma barraca foi montada entre as duas pistas de tráfego. Próximo dali, outro grupo toma os bancos no entorno da fonte luminosa.

Para a aposentada Eliana Pedrosa, que ficou um longo período sem ir à praça, a região é muito bonita, mas poderia ser ainda mais agradável. “O que chama a atenção é o grande número de moradores de rua, o que dá uma sensação de insegurança e medo de assalto”, disse.

De acordo com a Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania (Smasac), em toda Belo Horizonte existe o Serviço Especializado em Abordagem Social, que conta com uma equipe de profissionais responsáveis por aproximar-se das pessoas em situação de rua e indicar uma alternativa.

Assaltos

Apesar da sensação de insegurança de muitas pessoas, conforme a Polícia Militar, foi registrada uma queda de 7,8% no número de roubos na região neste ano, em relação ao mesmo período de 2016. Uma Base de Segurança Comunitária foi instalada recentemente na Praça Diogo de Vasconcelos. Além disso, a corporação informou que o policiamento na Savassi é feito 24 horas por dia. Para isso, contam com a Patrulha de Atendimento Comunitário, encarregada de atender as demandas geradas via o telefone 190, além de equipes de prevenção, como o Policiamento a Pé, Grupo de Motopatrulha e Patrulha de Operações.

Prefeitura gasta R$ 10 mil com reparo por mês 

“Não basta só ser bonito, é necessário cuidar para que a população tenha incentivo para ocupar o espaço. Assim o ambiente ganhe vida”. A análise é do arquiteto e urbanista Flávio Lemos Carsalade, professor da Escola de Arquitetura da UFMG.

Para ele, a região da Praça Diogo de Vasconcelos deve ter condições de competir com os shoppings. “O comércio de rua também tem que funcionar. Mas, para isso, é preciso política pública de segurança, de manutenção. Assim será agradável para os consumidores”, afirma.

Acostumada a frequentar os bares da Savassi, Rafaella Pereira, de 22 anos, que também trabalha na região, diz que além do descaso com a manutenção faltam incentivos para atrair a população. “Em compensação, aqui tem um lado cultural que poderia ser mais explorado, com shows, intervenções artísticas”, indica, apontando para o quarteirão da rua Pernambuco, em que algumas pessoas expõem e vendem quadros.Maurício Vieira Nenhuma flor e apenas terra nos canteiros

Vistorias

Em nota, a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura informou que a regional competente faz vistorias e monitoramento frequentes para manter os espaços públicos da cidade em perfeitas condições de uso pelos cidadãos. 

A Regional Centro-Sul disse que a prefeitura gasta, em média, R$ 10 mil com a manutenção e reparos de atos de vandalismo na região. Sobre os canteiros centrais, há um funcionário específico e os cuidados são feitos diariamente. Recentemente, o sistema de irrigação precisou ser trocado e o serviço foi feito manualmente. A estiagem prolongada também prejudica, alega.

Já a BHTrans informou que fará vistoria pra verificar a necessidade de manutenção da faixa de pedestre. O serviço, diz a empresa, é feito rotineiramente. A população também pode fazer solicitações por meio do telefone 156 ou pelo site bhtrans.pbh.gov.br.

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