Sem controle do poder público, casas tomam as margens das rodovias mineiras

Letícia Alves - Hoje em Dia
22/10/2015 às 07:07.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:10
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Quem usa a passarela no Anel Rodoviário, no bairro São Francisco (Pampulha), próximo à entrada da avenida Antônio Carlos, em Belo Horizonte, se depara com uma situação inusitada: a estrutura foi “engolida” pelos inúmeros barracos que tomaram conta do local sem qualquer controle do poder público.

São cerca de 20 casas, algumas construídas há mais de duas décadas. O local ainda abriga um pequeno comércio, onde é possível encontrar de cachaça a pipoca. A paisagem não é exclusiva dessa área. Outros pontos de vias que cortam a Grande BH mesclam o trânsito pesado com as ocupações.

Cenários assim são resultado de uma fiscalização pouco eficiente e da falta de políticas públicas de habitação. Prova disso é que muitos moradores confirmaram residir nesses locais há anos, sem que nada fosse feito pelos órgãos públicos. Eles também disseram que a rodovia foi a última opção para ter um teto.

O comerciante Izaurino dos Santos Rocha, de 78 anos, conta que saiu de Vitória (ES), na década de 1990, e comprou uma parte do terreno no Anel por um valor que guarda em segredo. Ele construiu nove imóveis, vendeu uma parte e hoje mantém quatro, incluindo um ponto comercial.

“Nesse tempo todo, ninguém falou em retirar a gente daqui”, disse Izaurino, enquanto cozinhava arroz a menos de um metro de onde pedestres caminhavam.

Imagens do Google Maps mostram a progressão da construção desde 2009. No começo, eram pouco mais de cinco edificações e, atualmente, nos registros feitos pelo Hoje em Dia, a ocupação toma conta da estrutura nos dois sentidos.
 

Fiscalização ineficiente faz "puxadinhos" se espalharem pelas estradas mineiras. No Anel, passarela de pedestres foi incorporada a barracões irregulares (Fotos: Flávio Tavares/Hoje em Dia)
 

REMOÇÃO

 

Assim como Izaurino, pelo menos 2.100 famílias residem no Anel Rodoviário – entre a avenida Cristiano Machado e o bairro Olhos d’Água, em BH – até Governador Valadares (Leste do Estado), na BR-381.

Como as rodovias serão reformadas e duplicadas, os moradores precisam deixar esses locais. Eles integram um programa de conciliação para remoção e reassentamento humanizado do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), em parceria com a Justiça Federal.

O Dnit esclareceu que situações como as apontadas pela reportagem “ocorriam no passado”. Atualmente, completou em nota, todas as novas invasões são registradas o mais breve possível e o invasor é notificado. Para a desocupação da área é necessária a ação das polícia Militar e Rodoviária Federal, segundo o departamento.

Confira vídeo:
 

À espera de um lugar melhor para viver com a família

Por trás das paredes dos barracos às margens das rodovias, histórias de uma vida de luta por condições melhores de moradia. Quem precisou viver ao lado de vias bem movimentadas conta que espera uma opção melhor e com mais segurança para morar.

É o caso de Diana Vitória de Almeida, de 20 anos. Há cerca de três, ela mora às margens do Anel Rodoviário, próximo ao bairro Nova Suíça, Oeste de BH, com outras 25 famílias.

“Temos a esperança de sermos incluídos no reassentamento humanizado”, afirmou Diana, que comprou o terreno por R$ 3 mil de um vendedor que não ofereceu escritura ou qualquer tipo de garantia.

Ao lado da casa dela, José do Rosário, de 61 anos, lamenta a destruição de uma horta que mantinha na frente da residência de pouco mais de 15m, quando, segundo ele, a prefeitura tentou retirá-lo do local, onde mora há um ano. “Eles vieram e derrubaram sem dar nenhuma garantia para onde eu iria”.

Alguns metros dali, em outra ocupação, o ajudante de pedreiro Luiz Fernando, de 24 anos, levanta os alicerces da nova casa. Os filhos e a esposa acompanham o trabalho em um barraco improvisado ao lado. “Vim há dois meses porque não tenho condições de continuar pagando aluguel. Pagava R$ 600 mais R$ 180 de luz, enquanto ganho R$ 800. Não sobrava nada”.
 

 

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