Sem obras em vista, novas placas serão instaladas para conter acidentes no Anel

Ernesto Braga
eleal@hojeemdia.com.br
21/08/2016 às 08:51.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:28
 (Cristiano Machado/Hoje em Dia)

(Cristiano Machado/Hoje em Dia)

O ideal seria refazer o traçado, desarmando as armadilhas que se tornaram os estreitamentos de pista. Mas como as obras prometidas há tanto tempo no Anel Rodoviário de Belo Horizonte não saem do papel, a forma encontrada para tentar reduzir o trágico número de acidentes é alertar os motoristas dos veículos pesados de que eles colocam em risco a vida de todo mundo que passa pela rodovia ao trafegarem pela faixa da esquerda, irregularidade recorrente (como na foto acima).

Por iniciativa da Polícia Militar Rodoviária (PMRv), em parceria com a Federação das Empresas do Transporte de Cargas de Minas Gerais (Fetcemg), serão instaladas 45 novas placas com essa finalidade ao longo dos 27,5 quilômetros do Anel. “A imprudência dos motoristas é um dos fatores que tornam a rodovia perigosa. Por isso, criamos o projeto das novas placas com frases educativas de alerta”, informa o tenente Pedro Henrique Barreiros, comandante do policiamento no trecho.

Não há previsão de obras no Anel, informa o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit)

De acordo com o militar, a previsão é a de que as placas sejam instaladas em no máximo um mês, ou seja, até a segunda quinzena de setembro. “Elas estão sendo confeccionadas em Ubá (na Zona da Mata) e estamos aguardando a entrega”, diz o oficial.
Mais mortes

O objetivo é dar mais segurança a motoristas e passageiros e reduzir as estatísticas. De janeiro a julho deste ano, foram registrados 789 acidentes no Anel, queda de 26,9% em relação ao mesmo período de 2015 (1.080 registros). Porém, o número de feridos aumentou 10,4% (de 451 para 498) e o de mortos 50% (de 14 para 21), segundo a PMRv.

Cerco da fiscalização não inibe carretas pela pista da esquerda

Morador do Padre Eustáquio, na região Noroeste, um dos bairros de BH cortados pelo Anel Rodoviário, o representante comercial Silas Bento, de 52 anos, passa pela rodovia praticamente todos os dias. “Sempre que acontece uma tragédia com veículos de carga a fiscalização é reforçada e as carretas deixam de trafegar pela faixa da esquerda. Mas, passado algum tempo, volta tudo de novo. É assustador ver pelo retrovisor um caminhão em alta velocidade se aproximando”, queixa-se.

“O Anel tem mais de 50 anos. Sem obras de modernização, não suporta o número de veículos” (Tenente Barreiros, chefe do policiamento)

O motoboy Thalles Ponciano, de 26, também se sente inseguro no Anel. “Eu evito passar por ele, mas as vezes não tem jeito. Há desrespeito de toda natureza, mas o que mais me preocupa é veículo pesado descendo embalado pela esquerda. Se eles precisarem parar rápido por causa de uma retenção, fatalmente não vão conseguir e sairão arrastando quem estiver pela frente”, diz.

O risco se agrava em trechos com pontes e viadutos, onde há a redução de três para duas faixas, como destaca o engenheiro civil Márcio Aguiar, mestre em transportes e coordenador dos cursos de engenharia da Universidade Fumec. “Há um efeito funil e grande possibilidade de engavetamentos”.

Monitoramento

Comandante do policiamento no Anel Rodoviário, o tenente Pedro Henrique Barreiros reconhece os abusos cometidos por motoristas de veículos de carga. “Acontece, apesar da fiscalização. Todos os dias fazemos ações repressivas e preventivas. Mantemos um efetivo constante, com militares motivados e atendimento rápido em casos de acidentes”, afirma.

Ele ressalta que as multas para veículos de carga trafegando pela faixa da esquerda são aplicadas sem a necessidade da abordagem do motorista. “Basta o policial flagrar a irregularidade para que o infrator seja multado”.

De janeiro a julho deste ano, a Polícia Militar Rodoviária (PMRv) aplicou 762 multas para esse tipo de infração no Anel, segundo o setor de estatísticas da corporação. A média é de quase 109 por mês, ou 3,5 todos os dias.

Radares com função específica para aumentar a segurança

Entre os especialistas em transportes e fiscalização de trânsito há o consenso de que o Anel Rodoviário de BH precisa de intervenções complexas, que exigem grandes investimentos, para aumentar a capacidade de absorção do fluxo e, consequentemente, a segurança de quem passa pela rodovia. 

Planejamentos existem há mais de dez anos, como destaca o engenheiro civil Márcio Aguiar. Mas, diante da falta de previsão do início das obras, ele aponta uma alternativa: “Já tentaram de tudo. Colocaram mais radares para conter excesso de velocidade e tentaram criar áreas de escape para veículos pesados. Não adiantou muito. É preciso instalar equipamentos eletrônicos específicos para multar as carretas pela faixa da esquerda”, avalia o mestre em transportes.

Ele lamenta o engavetamento do projeto do Anel Viário do Contorno Norte, conhecido como Rodoanel. Com 67,5 quilômetros de extensão, a rodovia iria do km 436 da BR-381, em Ravena, distrito de Sabará, à junção da Fernão Dias (outra parte da BR-381) com a Via Expressa de Betim. “Tiraria cerca de 80% do tráfego pesado de veículos de carga do Anel”, destaca Aguiar.

Ultrapassado

O tenente Pedro Henrique Barreiros também critica a falta de obras no Anel Rodoviário. “Foi projetado para veículos de cinco décadas atrás”, diz o comandante do policiamento na via. 
Para inibir o excesso de velocidade, além de um radar móvel montado em pontos críticos, a PMRv conta com 19 fixos. A corporação aguarda o início da operação de mais dez, ainda sem data prevista.

“Placa de advertência é importante, mas o ideal é instalar radar que multe carreta na faixa da esquerda” (Márcio Aguiar, mestre em transportes)

 Últimos acidentes no Anel Rodoviário de BH:

18 de agosto: oito carros e duas motos se envolveram em um engavetamento no km 471, no bairro Padre Eustáquio (Noroeste), que deixou pelo menos quatro feridos
16 de agosto: de madrugada, pelo menos sete pessoas ficaram feridas no tombamento de um ônibus no Madre Gertrudes (Oeste)
16 de agosto: de noite, um caminhão tombou no Betânia (Oeste) e uma mulher ficou ferida
24 de julho: três pessoas morreram carbonizadas após um Renault Megane rodar na pista, bater em um poste e pegar fogo no bairro Universitário (Nordeste)
14 de julho: a batida entre uma carreta e um carro interditou o Anel no Ermelinda (Noroeste)
1º de julho: quatro carros e um caminhão se envolveram em uma batida na altura da praça São Vicente, no Padre Eustáquio (Noroeste). Não houve vítimas
17 de junho: o motorista de um New Beetle, de 41 anos, morreu ao perder o controle da direção e bater o veículo no Dom Cabral (Noroeste)
15 de junho: uma carreta passou por cima de um veículo de passeio no Califórnia (Noroeste), próximo ao viaduto da BR-040, deixando uma pessoa ferida

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por