Sem segurança, passageiros do Move são alvo de criminosos

Gabriela Sales e Renato Fonseca - Hoje em Dia
12/04/2015 às 07:05.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:36
 (Cristiano Machado/Hoje em Dia)

(Cristiano Machado/Hoje em Dia)

Desordem, perigo, medo e, não raro, pânico, andam à espreita de passageiros do Move de Belo Horizonte. Criado para convencer as pessoas a deixar o carro em casa, o sistema melhorou o tempo gasto nas viagens, segundo a BHTrans, mas ainda apresenta falhas e, principalmente, não oferece segurança aos usuários.   Roubos, assaltos, agressões e até tentativas de estupro têm se tornado comuns e lançam um alerta aos órgãos de segurança e à empresa que gerencia o tráfego da cidade. Em um intervalo de pouco mais de um ano, desde a inauguração, em março de 2013, pelo menos 327 ocorrências foram registradas pela Polícia Militar no corredor do Move apenas da avenida Antônio Carlos.   A situação deve ser ainda pior, uma vez que a reportagem do Hoje em Dia teve acesso apenas aos dados do corredor Antônio Carlos, que liga o Centro à região da Pampulha. Quem foi vítima nos sistemas implantados na Cristiano Machado e Pedro I não está na estatística.   Temor   O corredor Antônio Carlos conta com 14 pontos de transferência. Apesar das câmeras de monitoramento, não há presença de vigias ou policiais, o que favorece a ação criminosa. A estratégia adotada pelos bandidos é rápida e ousada. Eles invadem os terminais e, na tentativa de intimidar as vítimas, usam como armas facas, estiletes, cacos de vidro e, em alguns casos, revólveres. O foco são mulheres e idosos. Porém, homens mais jovens também se tornam alvo.   Na semana passada, um cuidador de idosos foi assaltado no terminal IAPI, na região Nordeste. Por volta das 7h, ele foi abordado por dois criminosos. Não bastasse ter o celular roubado pela dupla, a vítima ainda foi esfaqueada. A cena foi registrada pelas câmeras de monitoramento e repercutiu nas redes sociais.   Foto: Cristiano Machado/Hoje em Dia   Ponto crítico   A estação IAPI fica entre os terminais São Francisco e Senai. O trecho, de pouco mais de três quilômetros, é considerado o mais crítico da Antônio Carlos, principalmente no período noturno. Para não ficar à mercê dos criminosos, quem depende do transporte público nesse percurso lança mão de improvisos.   “Evito ficar sozinha na estação. Não ando mais com dinheiro e o celular fica dentro da bolsa. A regra é não chamar a atenção e ficar sempre atenta”, diz a enfermeira Cláudia Cruz, de 32 anos, que trabalha no hospital Odilon Behrens, no bairro São Cristóvão.   Estratégia   Depois de ter sido assaltado duas vezes em menos de uma semana, o estudante Thiago Augusto Dias, de 24 anos, cria alternativas para chegar em casa de maneira segura.   O jovem, que sempre embarcava na estação Senai, agora faz baldeação entre os terminais até conseguir chegar ao destino. “Entro no primeiro ônibus e procuro pelo ponto de maior movimento. Não repito de estação. Meu medo é virar freguês, já que fui roubado pelo mesmo grupo”, conta.   ‘Vou ser mais uma a engrossar o trânsito de carros na cidade’   Tarde da noite, as mulheres ficam ainda mais vulneráveis. Seis foram vítimas de tentativa de abuso desde a implantação do Move, na avenida Antônio Carlos.   No ano passado, a funcionária pública S.V.T, de 35 anos, viveu momentos que jamais serão esquecidos. Passava das 22h de uma quinta-feira quando a moça foi surpreendida por um homem na estação Cachoeirinha. “Estávamos só nós dois. Ele chegou perto e rasgou minha blusa. A sorte foi que um ônibus parou na hora. Entrei e pedi socorro aos passageiros, que acionaram a polícia”, relembra. O suspeito fugiu.   Depois do ataque, a funcionária pública passou a evitar o transporte coletivo. “Vou de carona, táxi ou até a pé se for preciso. De Move, nunca mais. Estou tirando carteira de habilitação e vou ser mais uma a engrossar o trânsito de carros na cidade”, diz. Para o especialista em segurança pública Frederico Couto Marinho, da UFMG, faltou planejamento durante a construção e implantação do Move. “É impossível que um sistema no qual circulem milhares de pessoas não tenha nenhum tipo de segurança. O poder público simplesmente está ignorando a população que depende do transporte público”.   Para Marinho, a situação merece a intervenção do Ministério Público e da Polícia Militar. “A implantação de segurança nas estações precisa ser imediata, e a demora na execução da medida deve ser investigada pela promotoria”.   Resposta   Em nota, a BHTrans informou que caso um convênio proposto pela Prefeitura de Belo Horizonte com o governo do Estado para utilização de policiais militares reformados na vigilância das estações não se efetive, um novo edital para a contratação de vigilância será publicado.   Para minimizar o número elevado de crimes no entorno dos corredores do Move, a PM reforçou o patrulhamento. “O policiamento foi intensificado nas imediações das estações. Realizamos operações e abordagem, mas as ocorrências acontecem dentro dos terminais, o que cabe ao município uma resolução”, explica o assessor de imprensa do Comando de Policiamento da Capital (CPC), major Sérgio da Silva Dourado.   Ele acredita que o número de ocorrências deverá diminuir quando o sistema de segurança nos terminais agir de forma integrada. “Acredito que quando a prefeitura definir o sistema de segurança, o trabalho em conjunto irá refletir na queda nos índices de criminalidade no local”.

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