Site de relacionamento 'Adote um Cara' leva mulheres 'às compras' do pretendente ideal

Patrícia Santos Dumont
pdumont@hojeemdia.com.br
08/02/2015 às 07:54.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:56

Mulher bonita não paga mas, aqui, leva! E leva quantos quiser, afinal, a prateleira está lotada e o carrinho, vazio. Foi-se o tempo em que a mulherada se embriagava de chá de cadeira à espera do pretendente, que, lamentavelmente, muitas vezes, nem chegava. Em tempos modernos, nada mais natural e democrático do que dar a vez ao “primeiro as damas”. Pelo menos é o que preconiza o site Adote um Cara.  A rede social, uma aposta para os que buscam um parceiro, promete – e cumpre, atestam os “paqueradores” que dela fazem parte – só permitir que meninas deem o primeiro passo. Resumindo: só elas têm nas mãos o poder de ir às compras e, literalmente, selecionar os “produtos” com os quais desejam flertar e, quem sabe, engatar um romance. O passo a passo é simples. Pudera! Se a ideia é encurtar o caminho até o príncipe encantado, ou sapo, como preferir, não há por que haver mistério. Um cadastro rápido, com uma espécie de perfil (características físicas e da personalidade) e informações do produto disponível em prateleira, do homem em questão, resolve tudo. Ou melhor, quase tudo. Mas não custa lembrar: vale mais quem vende melhor o próprio peixe. Então, mãos à obra para incrementar o rótulo. Lojinha virtual Diferentemente dos outros sites de relacionamento, o Adote um Cara (adaptação do francês “Adopte un mec”, país de origem da novidade) funciona exatamente como um supermercado. A diferença é que em vez de produtos de limpeza e do gênero alimentício, “à venda” estão somente os homens. Às moças, cabem as compras. “Queríamos mostrar que dar à mulher o poder de escolher quais caras falariam com ela poderia ser divertido para ambos”, comenta a gerente internacional de Marketing Clara Bizien. Para além disso, uma barreira intransponível: nada de conversa mole com quem não desperta interesse. Isso quer dizer que fica vedado ao homem qualquer tipo de cantada ou mensagem sem que tenha sido antes convidado por uma pretendente do sexo oposto. 100% de sigilo Aventureiro, trabalhador, caseiro e boêmio, com habilidades no jardim e com as palavras e pacote completo para quem quer “pagar” de dondoca: lava, passa, limpa e cozinha. É assim que o belo-horizontino Hugo* se descreve na rede social, onde outros 249 mil brasileiros – dentre eles centenas de mineiros – também almejam uma paquera séria ou só amizade colorida.  O moço, de 34 anos, topou falar com o Hoje em Dia desde que tivesse a identidade mantida em sigilo. Pedido não muito peculiar. Cem por cento dos rapazes disponíveis no mercado virtual mineiro e contactados pela reportagem preferiram não dar a cara a tapa. Tímido, Hugo conta que foi apresentado à rede por um grupo de amigas. Segundo ele, elas queriam dar um “empurrãozinho” na vida amorosa do rapaz. Esforço positivo, garante. “É sempre válida a ideia de não ser o ‘homem das cavernas’, aquele que tem que ir para cima. Acho mais interessantes e encantadoras mulheres independentes de iniciativa”, afirma, ressaltando as qualidade do perfil, bastante feminista, da plataforma.  Quem quiser adotar um cara pode ainda refinar a busca para não perder tempo e esbarrar em opções incompatíveis com o perfil desejado. Basta preencher o campo ‘pesquisa’ com hastags como #tatuados, #tímidos, #roqueiros, #surfistas, #bronzeados, mais localização geográfica e hábitos alimentares e voilà. A dica, como na vida real, é dizer sempre a verdade, nada além da verdade. Afinal, ninguém quer ter a desagradável surpresa de levar para casa produto vencido ou de propaganda enganosa.  Brasileiros no top 3 dos países que mais acessam a rede Franceses, espanhóis, italianos, poloneses, alemães, colombianos, mexicanos, argentinos e, claro, brasileiros! Muitos deles. Com 250 mil registros contabilizados, o Brasil é nada menos que o terceiro país entre os nove que, no mundo todo, utilizam os serviços do Adote um Cara. Por aqui, solteiros só são minoria diante da França, em primeiro lugar de público, e Espanha, em segundo.  Gerente internacional de marketing do “invento”, disponível também em aplicativo para Android e IOS, Clara Bizien entrega o segredo de tanto sucesso. “Somos uma comunidade que oferece inúmeras opções sociais ao que já encontramos na web: é impossível, por exemplo, visualizar o perfil da concorrente”, comenta.  E não para por aí. Usuários do serviço também atestam que as qualidades são boas e até irresistíveis. André*, por exemplo, de 38 anos, é um solteiro convicto, assumido mesmo. Nem por isso abdicou-se da paquera. “Esse tipo de rede social é uma forma de conhecer muita gente, que de outra maneira seria impossível. Na balada, por exemplo, consigo conversar com uma mulher por vez e, no máximo, três por noite”, ressalta, já dando brecha de o que busca ali não é compromisso sério.  Com um objetivo claro, aliás, mais claro impossível, o rapaz, um confesso galanteador, dispensa subterfúgios ao dizer, em alto e bom som, que não tem intenção em relacionamentos sérios. Usuário de todos os sites de relacionamento, como ele diz; entre eles Tinder, 3nder (rede exclusiva para quem busca parceiros sexuais), Badoo e afins, André quer “companhias bacanas pra sexo de qualidade e baladas divertidas sem compromisso”, escancara à reportagem. Nada mais.  Passo a passo No Adote um Cara, onde não há limites para buscar um parceiro, fica mais popular quem falar com mais gente. E, quanto mais popular, teoricamente, mais atraente. Para permitir ser “incomodada” por algum mocinho, as meninas podem enviar mensagens secretas ou apenas colocar o moço desejado no carrinho de compras. Para dar um up grade no perfil, o site permite inserir até oito fotos, o que não impede, porém, que elas sejam, por exemplo, trocadas semanalmente. Fica a dica. A única “censura” imposta diz respeito aos contatos pessoais, como endereço, telefone e e-mail, que não podem, em nenhuma hipótese, ser publicados. A ideia é usar a plataforma para fazer deslanchar a paquera.  * Nome fictício

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