Tiroteios na Serra tiram a paz de moradores e há quem já pense em se mudar do aglomerado

Tatiana Lagôa
tlagoa@hojeemdia.com.br
15/09/2017 às 20:48.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:35
 (PEDRO GONTIJO)

(PEDRO GONTIJO)

A prisão dos principais líderes de gangues que comandam o tráfico de drogas no Aglomerado da Serra, região Centro-Sul de Belo Horizonte, não significa alívio para os moradores. Há cerca de um mês, facções rivais promovem intensos confrontos por pontos de venda de drogas no local. Ontem, megaoperação envolvendo 140 policiais civis e militares levou pelo menos oito pessoas para a cadeia.

Mesmo assim, entre os habitantes da comunidade impera a lei do silêncio e o medo de morte por bala perdida. Um deles, que pediu anonimato com receio de retaliação, pretende mudar para outro bairro. “Não dá mais. Agora eles vão parar uns tempos por causa da presença da polícia, mas daqui a pouco começam os tiroteios de novo”, afirma. 

Ele conta que os enfrentamentos entre os traficantes acontecem com frequência, a qualquer hora do dia. Para os moradores, só resta se esconder dos tiros embaixo da cama e, no dia seguinte, fingir que nada aconteceu. “Aqui sobrevive quem não vê, ouve ou fala nada”, comenta a fonte.

Confrontos acirrados

A disputa entre as gangues Del Rei e Pau Comeu foi intensificada há cerca de um mês com a execução de um garoto de 17 anos, irmão de um traficante. Ele teria sido atraído para o local do crime por uma garota, de 18, que tem acesso aos criminosos dos dois bandos.

Em represália, ela foi espancada por 12 homens. A menina teve os cabelos raspados, um corte profundo na cabeça, além de pernas e braços quebrados. Dias depois, um jovem foi assassinado em uma padaria supostamente por engano, uma vez que não teria ligação com o tráfico.

Operação

Para tentar conter a disputa, ontem foi deflagrada a operação “Se vis pacem para bellum”, provérbio latino que significa “Se quer paz, prepare-se para a guerra”. Segundo a Polícia Civil, durante a ação foram cumpridos 17 mandados de busca e apreensão domiciliar, outros 18 de prisão e três de apreensão de adolescentes. Até o fim desta edição, cinco integrantes da Pau Comeu e três da Del Rei, entre eles um menor, tinham sido levados para a delegacia.

Comandante do 22º Batalhão da PM, o tenente-coronel Webster Wadim Passos afirma que entre os detidos estão os líderes das duas gangues. “A operação foi planejada durante um mês para acabar com esse conflito pontual entre as facções. O morro não está em guerra. Estamos trabalhando para não deixar a desordem social acontecer”, garantiu.

Antecedentes

No fim de agosto, outra ação no aglomerado retirou de circulação sete revólveres, mais de 3 mil pinos de cocaína, 5 mil pedras de crack, cinco rádios comunicadores e balanças de precisão. Neste ano, já foram apreendidas 70 armas na comunidade. Na última quarta-feira, um dos chefes do tráfico da gangue Pau Comeu também foi preso. “Desarticulamos as quadrilhas com as operações”, afirma Webster. 

Luiz Flávio Sapori, especialista em segurança pública, diz que ações como essas são importantes para inibir o crime. No entanto, é preciso ir além. “Elas dão uma sensação de perda e inibem a ação das gangues. Mas é preciso que hajam, também, políticas públicas que atrapalhem o recrutamento de soldados do tráfico”. Editoria de Arte

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