Tráfico institui pena de morte e ganha o apoio da população

Hoje em Dia
31/03/2014 às 07:48.
Atualizado em 18/11/2021 às 01:51
 (Frederico Haikal)

(Frederico Haikal)

Com a desativação de uma unidade da Polícia Militar, há sete anos, no bairro Novo Aarão Reis, região Norte de Belo Horizonte, uma facção criminosa assumiu o papel do Estado, oferecendo segurança a moradores e comerciantes, porém, sob uma cartilha própria. Quando o assunto é fazer justiça, o “Comando”– nome dado à quadrilha, deixa claro que ali, diferentemente da legislação brasileira, existe a pena capital: “Ladrão morre”, é o que dizem avisos pichados em muros na entrada e na saída do bairro.

Os juízes são os “Meninos”, turma que comanda o tráfico de drogas no local. Alguns moradores dizem apoiar a iniciativa, uma vez que não são obrigados a pagar pelo serviço de vigilância do espaço. A antiga companhia da PM foi transferida para um anexo de um posto de combustível na MG-020.

“Não precisamos de polícia nesse bairro. Aqui podemos dormir com as portas e janelas abertas”, afirmou uma moradora enquanto fazia compras em uma loja.

Outra mulher garante que não há crimes nas ruas do Novo Aarão Reis e que, após o posto policial ser desativado e o imóvel onde eles ficavam ser destinado para trabalhos sociais desenvolvidos por uma ONG, a paz voltou a reinar. “Antes, não podíamos sair e deixar nossas casas vazias e abertas. Hoje não temos esse problema”, explicou.

Um comerciante disse que nunca foi assaltado e que não precisa pagar nada para ter o direito de ir e vir assegurado nas ruas e becos do lugar. “Podemos andar despreocupados. Enquanto vários supermercados estão retirando os caixas eletrônicos, o único que existe aqui nunca foi arrombado”, destacou.

Outro comerciante confirmou a sensação de segurança do bairro e garantiu que se houver roubos no local o bandido sequer consegue sair de lá. “Quando um criminoso de fora, aquele que não conhece as regras, apronta, ele é capturado de imediato. Há apenas uma entrada e uma saída aqui, o que reforça a nossa segurança”, observou, destacando que se a reportagem ficasse por lá, poderia ver como o local é tranquilo sem a presença do Estado.

Cabeleireiro é morto por encapuzados

O assassinato do cabeleireiro Leandro Xavier Rocha, de 30 anos, na porta de casa, no Novo Aarão Reis, pode ser um dos casos de execução praticados pelo “Comando”.

Segundo testemunhas, dois homens encapuzados invadiram a casa, renderam a vítima e dispararam sem dar-lhe chance de sobrevivência: foram dois tiros na cabeça e outro no pescoço. Moradores do Novo Aarão Reis acreditam que, pela forma característica da execução, o cabeleireiro tenha ferido o “código penal” local.

O comando do 16º Batalhão da PM, que faz o policiamento no bairro, não se manifestou sobre o caso. O tenente-coronel Alberto Luiz Alves, chefe da comunicação da corporação, ressaltou que a polícia é quem deve ocupar o bairro. “Vamos tomar providências. Não podemos deixar que esta moda pegue em Belo Horizonte”.

Pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da UFMG (Crisp), Bráulio Figueiredo Alves da Silva teme que a ação de grupos criminosos organizados, fenômeno comum no Rio de Janeiro, torne-se rotina em BH caso providências não sejam tomadas. “A polícia tem como função prevenir e atuar em todos os bairros. Se isso não acontece, os bandidos podem demarcar territórios”. 

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