Trinta pesquisas em universidades de Minas buscam combater o vetor da dengue, chikungunya e zika

Cinthya Oliveira
cioliveira@hojeemdia.com.br
20/04/2017 às 20:41.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:12

Vinte mil casos de dengue, 7 mil de febre chikungunya e 554 de zika registrados em Minas apenas em 2017 estão por trás da guerra deflagrada por cientistas contra essas doenças. Batalhas diárias acontecem em laboratórios de universidades federais no Estado, onde pelos menos 30 pesquisas tentam desvendar mistérios sobre os vírus e conter os estragos do atual inimigo número 1 da saúde pública, o Aedes aegypti.

dengue já foram registrados em BH neste ano, conforme balanço divulgado ontem pela Secretaria Municipal de Saúde

Os trabalhos buscam descobrir formas de impedir que as fêmeas do mosquito se reproduzam, de “matar” os ovos e larvas do vetor, além de elaborar remédios para o tratamento das doenças. Alguns projetos, entretanto, aguardam verba para serem viabilizados.

Outro vetor da dengue, o Aedes albopictus também é estudado pelos pesquisadores

É o caso de uma tecnologia desenvolvida ao longo de dois anos por pesquisadores do Departamento de Química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ela, inclusive, é considerada uma grande aliada na luta contra o Aedes. Os responsáveis pelo projeto o classificam como eficaz, de baixo custo de produção e fácil aplicação.

Trata-se de um material feito a partir da cerâmica que, em contato com a água e com a luz solar, libera uma solução à base de óxido de ferro, matando ovos e larvas do mosquito.

Em 2016, houve 255 mortes possivelmente causadas pelo vírus da dengue em Minas

“O produto é inofensivo para a saúde humana e tóxico apenas para os ovos e as larvas. Pode ser colocado em caixas d’água, vasos de planta e todos os lugares onde houver acúmulo de água”, explica Jadson Belchior, coordenador do estudo.

Custo reduzido

Para ele, o melhor é o custo do produto para o consumidor. “Com cerca de R$ 36, uma pessoa poderia comprar um volume de material suficiente para proteger uma casa inteira”, frisou o pesquisador.

Finalizada, a proposta já poderia estar no mercado. Porém, a empresa parceira do estudo, a Vértica TI, que aplicou R$ 500 mil na pesquisa, não dispõe de verba para colocar o produto à venda. São ainda necessários R$ 200 mil para iniciar a fabricação dele.

Neste sábado, cientistas de todo o mundo marcharão em mais de 500 cidades do mundo para chamar atenção para a importância do trabalho da comunidade científica; em BH, ato será na Praça da Liberdade, às 10h

 Na tentativa de viabilizar a produção, a entidade está em busca de parcerias com o poder público. Até o momento, entretanto, não obteve sucesso.

Satisfatório

Uma pesquisa da Universidade Federal de Lavras (Ufla) também quer encontrar compostos químicos que contribuam para a eliminação de larvas do Aedes aegypti. Os estudos, ainda em fase preliminar, analisam cinco substâncias e uma delas já apresenta resultados satisfatórios. Paulo diniz/DivulgaçãoFOCO NO ZIKA – Jaqueline Siqueira coordena as pesquisas sobre o vírus na UFSJ

Medicamentos para o tratamento de pessoas infectadas com o zika também são alvo de uma pesquisa na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Os estudos, coordenados pela bióloga Jaqueline Siqueira Ferreira, contemplam testes de moléculas existentes em banco de dados e já utilizados em pesquisas referentes a outros vírus.

“Não é uma pesquisa simples, pois esse é um vírus de difícil crescimento. Precisamos de sete dias para multiplicá-lo”, explica Jaqueline. 

Reprodução

Pesquisa em desenvolvimento na Universidade Federal de Viçosa (UFV) busca uma solução química para impedir que a fêmea do Aedes se reproduza, o que acontece uma única vez na vida dela. Porém, segundo o biólogo Gustavo Ferreira Martins, depois da cópula com o macho, os espermatozóides ficam armazenados em uma estrutura (a espermateca) por vários dias. Nesse período, a fêmea coloca os ovos em vários momentos.“Estamos mapeando genes expressos na espermateca para entender o que a fêmea precisa para manter o espermatozóide vivo por tanto tempo”, explica.

“Se não entender o mosquito, como vamos combatê-lo? Toda tecnologia usada no combate hoje advém de pesquisas realizadas anos antes” (Gustavo Ferreira, pesquisador da UFV)

á na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), um projeto pretende entender, a partir de amostras de sangue de pessoas com dengue, quais os genótipos de vírus em circulação numa determinada região. O professor André Luiz da Silva Domingues explica que pequenas alterações nos genomas dos vírus podem ser determinantes para a enfermidade se manifestar com maior gravidade ou não.

O estudo ainda não saiu do papel porque precisa de recursos financeiros. Submetido ao edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), o projeto não foi aprovado. Agora, o professor aguarda uma resposta por parte do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

A Fapemig informou que, nos últimos cinco anos, fomentou 32 pesquisas relacionadas à dengue e ao vetor da doença. Procurado pela reportagem, o CNPq não retornou até o fechamento desta edição. 

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