(Flávio Tavares)
Uma pesquisa feita com pessoas atingidas pelo rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, mostra que 29% dos ouvidos têm depressão. A taxa é cinco vezes maior do que a média observada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) na população brasileira em 2015, ano da tragédia. Pensamentos de morte são os sintomas mais recorrentes entre as vítimas.
O estudo, feito pela Faculdade de Medicina da UFMG em parceria com a Cáritas, mostra que, dois anos e meio após a tragédia, a saúde mental dos atingidos está tão vulnerável quanto a de vítimas de desastres como o nuclear de Fukushima, no Japão, ou o atentado ao World Trade Center, nos Estados Unidos, imediatamente após os acontecimentos. A medida foi feita com base nos relatos de sintomas de estresse pós-traumático, como insônia, tonteiras, falta de ar e dor de cabeça.
A pesquisa mostra ainda que o transtorno de ansiedade generalizada acomete 32% das 271 pessoas ouvidas, três vezes mais do que a taxa nacional. Os números altos assustam pesquisadores, que esperavam encontrar resultados “mais brandos” devido ao tempo decorrido desde o desastre.
Segundo o professor do departamento de saúde mental da Faculdade de Medicina da UFMG Frederico Garcia, os dados mostram que, mesmo com o passar do tempo, o fator estressor do desastre continua ativo na vida dessas pessoas. “Existe um elemento estressor permanente. Ele não passou, caso contrário, a gente não encontraria níveis tão altos de estresse pós-traumático. A abordagem que está sendo oferecida não é suficiente”, observa.
Também professora da Faculdade de Medicina da UFMG e coordenadora do estudo, Maila de Castro, diz que é possível traçar hipóteses sobre o que esteja afetando tão incisivamente a saúde mental da população. “Eles viviam em uma comunidade que existia há quase duzentos anos. Com o rompimento da barragem, essas pessoas se espalharam, perderam essa noção de coletividade que fazia parte da identidade delas”, diz.
Os pesquisadores explicam que o estudo pode embasar políticas públicas de saúde mental direcionadas a essa população. Eles ressaltam ainda que o monitoramento dos níveis de depressão e estresse deve ser periódico, para que seja possível pensar em uma estratégia a longo prazo. “Esses dados podem servir para o poder público elaborar planos de ação concretos para por em prática em grandes catástrofes, que não são comuns no Estado”, diz Frederico.
Participaram da pesquisa pessoas de 10 a 90 anos que viviam ou que tinham imóveis nos distritos de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo, Paracatu de Cima, Borba, Campinas, Pedras e Ponte do Gama durante o período do rompimento da barragem.
Fundação Renova
Por meio de nota, a Fundação Renova, responsável por gerir os programas de reparação dos impactos, informou que desenvolve, em parceria com o Instituto Saúde e Sustentabilidade, um estudo para avaliar a tendência de aumento de transtornos mentais, de uso de álcool e outras drogas nos moradores das áreas atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão, e que tem conclusão prevista para fevereiro 2019.
"No município de Mariana, a Fundação Renova reforça o Sistema Único de Saúde (SUS) e o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) com 50 profissionais de saúde e de assistência social", diz o texto. Leia mais:
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