Vítimas de dengue precisam suportar sintomas da doença e socorro demorado

Raquel Ramos - Hoje em Dia*
13/01/2016 às 07:18.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:00
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Há duas décadas, autoridades brasileiras tentam, sem sucesso, acabar com o Aedes aegypti. Se de um lado as ações se mostram inócuas, do outro, quem adoece sofre duplamente: com os sintomas da doença e com a infraestrutura incapaz de atendê-lo rapidamente. No momento em que espera-se do poder público ações inovadoras no combate ao mosquito, o governo de Minas anuncia a adoção de velhas estratégias.

“Nossas medidas são clássicas: limpeza urbana, sensibilização das pessoas, campanhas publicitárias com envolvimento das crianças nas escolas e participação dos órgãos públicos”, enumerou o secretário de Saúde em Minas, Fausto Pereira dos Santos.

As propostas foram apresentadas nessa terça (12) na primeira reunião do Comitê Gestor Estadual de Políticas de Enfrentamento à Dengue, Chikungunya e Zika Vírus. O grupo teve duas semanas para planejar.

Assim como não houve inovação nos trabalhos de prevenção, quem foi picado pelo Aedes aegypti encontra as mesmas condições de anos atrás: postos de saúde cheios e demora no atendimento.

Nessa terça (12), por exemplo, o pedreiro Leandro Soares da Silva, de 35 anos, ficou horas na sala de espera da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Centro-Sul, no bairro Santa Efigênia. Sentia fortes dores de cabeça, atrás dos olhos e nas costas, além de febre alta. “Às vezes, a gente sara sem precisar do médico, porque a demora é tanta que a doença vai embora”, ironizou.

Da mesma forma, o encarregado de transporte Edmilson dos Santos, de 33 anos, também ficou “de molho” na UPA. Ele recebeu o diagnóstico de dengue no posto de saúde do bairro Serra, onde mora, dois dias após o início dos sintomas, e foi levado à unidade de ambulânciaAté ser recebido por um médico, aguardou seis horas. “Já cheguei no soro. Passei pela triagem e agora é esperar mesmo”, disse. Essa é a segunda vez que o rapaz tem a doença. A primeira, há cerca de quatro meses, foi na forma hemorrágica, o tipo mais grave.

Peregrinação

No interior, a situação é ainda mais crítica, o que leva pacientes a se deslocar até a capital em busca de ajuda. Em Ribeirão das Neves, faltavam medicamentos para a pequena Maria Clara Berti, de 6 anos, diagnosticada com dengue hemorrágica.

“Na quinta-feira da semana passada, tentamos atendimento na UPA Justinópolis. Durante a consulta, o médico disse que não tinha remédios nem equipamentos para a realização de exames. Voltamos para casa sem respostas”, contou a tia da menina, Magna Berti.

Sem alternativa, Maria Clara foi medicada apenas com soro. No entanto, como o estado de saúde dela piorou, a família resolveu tentar a sorte na UPA Venda Nova. “Estou revoltada com a falta de preparo do poder público. Não adianta campanha se o atendimento médico ainda é precário”, desabafa a Magna Berti.

A Secretaria de Saúde de BH atribui a demora no atendimento ao grande número de pacientes originários da RMBH, e a migração de usuários dos planos de saúde para o SUS.

Em nota, a Prefeitura de Ribeirão das Neves disse que as unidades de saúde estão equipadas para atender os pacientes com possível diagnóstico para dengue. Em relação à paciente Maria Clara, a prefeitura informou que a criança recebeu atendimento.

* Colaboraram Patrícia Santos Dumont e Gabriela Sales

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