Vacina contra a gripe é um eterno desafio científico

Agence France Presse
09/03/2018 às 18:05.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:47
 (Pixabay/Divulgação)

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Imagine um jogo de roleta onde não se aposta em números e sim em vírus. Todos os anos, a OMS tenta acertar quais serão os vírus que circularão no inverno seguinte para tentar determinar, meses antes, a composição da vacina contra a gripe.

Diferentemente da roleta, nesta aposta que pode salvar vidas não há lugar para o instinto: a Organização Mundial da Saúde (OMS) só confia nos dados de sua rede global.

"Os vírus evoluem constantemente. Os que circulam neste ano não são necessariamente os que circularão no ano que vem, e é por isso que as vacinas têm que ser modificadas", explicou à AFP a médica Wenqing Zhang, responsável do Programa Mundial de Luta contra a Gripe da OMS.

Duas vezes por ano, esta organização que depende das Nações Unidas emite suas recomendações sobre a composição das vacinas contra a gripe do inverno seguinte: em fevereiro para o hemisfério Norte e em setembro para o Sul. 

Os cientistas se baseiam nestes dados para elaborar as vacinas que são administradas a milhões de pessoas entre oito e dez meses depois. Este lapso se deve ao processo de fabricação. 

Quanto mais vírus envolvidos na composição coincidirem com os que circulam no ambiente depois, mais eficaz será a vacina. Esta equação é simples, mas implica uma grande incógnita. 

"Não podemos dizer com certeza quais vírus vão circular dentro de oito meses. Por tanto, nos baseamos no melhor sistema de vigilância e de análise possível para fazer esta aposta, esta projeção", explicou Zhang.

Os vírus da gripe responsáveis pelas epidemias sazonais são de dois tipos: A, uma categoria que está dividida em subgrupos, principalmente H1N1 e H3N2, e B.

As recomendações da OMS apontam para vacinas trivalentes, ou seja, com três tipos de vírus (dois de tipo A e um de tipo B), e nos últimos anos também tetravalentes (com quatro tipos: dois A e dois B).

Ovo e vinhos 

"Só dispomos de dados de eficácia provisórios para esta temporada, que não terminou no hemisfério Norte", indicou Zhang. "Por enquanto, a eficácia da vacina com o H1N1 é bastante alta, cerca de 70%. Para o H3N2 é bastante baixa, em torno de 20%. E para os vírus do tipo B, varia entre 20% e 70%, segundo os países".

Para formular suas recomendações, a OMS analisa os dados dos 143 centros nacionais de gripe, distribuídos em 114 países e agrupados em uma rede denominada GISRS. Esta estrutura é a que se mobilizaria no caso de uma pandemia como a da gripe espanhola, que completa um século neste ano. 

Estes centros de vigilância supervisionam a circulação dos vírus e coletam amostras dos pacientes (secreções na garganta e no nariz). Depois, transmitem seus dados a seis "centros colaboradores" mundiais, para que se formule as recomendações. 

O veredito para o inverno 2018-19 no hemisfério Norte chegou em 22 de fevereiro: a vacina tetravalente estará composta por um vírus de tipo A(H1N1) detectado em Michigan (Estados Unidos) em 2015, outro de tipo A(H3N2) extraído em Cingapura em 2016, outro de tipo B encontrado em 2017 no Colorado (Estados Unidos) e o último de tipo B obtido em Phuket (Tailândia).

As vacinas serão produzidas neste verão (no hemisfério norte) em laboratórios farmacêuticos. O método tradicional consiste em cultivar vírus em ovos de galinha, motivo pelo qual o processo é demorado. 

No processo, os cientistas recorrem a misturas, "como na montagem de vinhos", explicou Vincent Enouf, subdiretor do Centro Nacional Francês, que pertence ao Instituto Pasteur.

A OMS recomenda a vacinação anual contra a gripe para mulheres grávidas, crianças de entre seis meses e cinco anos, maiores de 65 anos, doentes crônicos e profissionais de saúde. No início de fevereiro, a organização expressou alarme pela "queda constante" da vacinação contra a gripe na Europa. 

"Embora a vacina tenha uma eficácia menor, ainda salva vidas", insistiu Enouf.

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