Vetor Norte concentra focos de dengue, chikungunya e zika, mostra LIRAa de BH

Thais Oliveira
taoliveira@hojeemdia.com.br
06/12/2016 às 20:02.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:58

Bairros das regionais Norte, Venda Nova e Pampulha, em Belo Horizonte, são os que mais preocupam a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) para o risco de dengue, chikungunya e zika. As residências dessas localidades apresentam os maiores índices de criadouros do mosquito que transmite as três doenças. 

O perigo está atestado no Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (LIRAa) de 2016, finalizado recentemente na capital mineira. O estudo completo – que mapeia as áreas da cidade em situação de alerta – será divulgado nos próximos dias, mas o secretário da SMSA, Fabiano Pimenta, antecipou alguns dados.

Três fatores contribuíram para a concentração de focos nessas regiões. Um deles é a organização geográfica. “São áreas mais horizontalizadas, com menos prédios e mais casas. Sabemos que o mosquito gosta de menos altitude, o que não quer dizer que quem mora em prédio está protegido”, diz Pimenta. As informações foram dadas ontem, durante o lançamento dos testes clínicos da primeira vacina brasileira contra dengue em BH. 

Temperatura elevada e maior densidade populacional também ajudam a explicar o maior risco de proliferação do Aedes nas regionais identificadas no levantamento. Apesar do alerta nessas áreas, a média geral da metrópole está dentro dos padrões preconizados. “O resultado do LIRAa foi satisfatório, mas ainda pode melhorar”. Segundo ele, o índice de BH foi de 0,6%. Ou seja, para cada cem locais pesquisados, menos de um está infestado.

154 mil casos de dengue foram confirmados em BH neste ano; há 1.848 notificações ainda pendentes de resultados

Precavidos

Só em Venda Nova, mais de 12 mil casos de dengue foram confirmados em 2016. Morador do bairro Candelária, o técnico de mecânica Vander de Castro, de 40 anos, redobrou os cuidados após a esposa ficar doente. Na residência, atenção especial com a piscina e nada de pratinhos debaixo dos vasos das plantas. “Jogo cloro na piscina e a mantemos coberta. Além disso, uma vez por semana damos uma geral na casa para ver se tem alguma água parada”.

A dona de casa Adriana Ferreira da Silva, de 47 anos, foi outra vítima da dengue neste ano. “Quase morri. Emagreci muitos quilos porque não tinha vontade de comer. Fiquei 10 dias de cama”, recorda ela, que mora no bairro Letícia, também em Venda Nova. Depois do aperto, a preocupação que já era grande, aumentou. “A tampa da caixa d'água é mantida fechada e não coloco pratos para as plantas para não acumular água”, detalha. 

Novas vacinas

BH recebeu ontem o lançamento oficial dos testes clínicos em humanos da vacina contra dengue. O trabalho está sendo feito pelo Instituto Butantan. Esta é a última etapa do estudo. Dezessete mil pessoas de 13 cidades das cinco regiões do país participam da pesquisa. Na capital, a coordenação é feita pela UFMG, em parceria com a SMSA. Ao todo, 1.200 voluntários que moram próximo ao Centro de Saúde do bairro Montanhês (Noroeste) devem participar dos testes.

“Numa visão bem otimista, é possível que em maio já consigamos comprovar que a vacina funciona pelo menos para os adultos e adolescentes. Crianças são as últimas a serem recrutadas e é possível que a gente não consiga provar nesse tempo”, afirmou o diretor do Butantan e professor de medicina da Universidade de São Paulo, Jorge Kalil. Ele acredita ainda que, em até dois anos, a vacina seja disponibilizada para a população.Thais Oliveira/Hoje em Dia NOVA VACINA - Os estudos do Butantan vem apontando que, com apenas uma dose, será possível imunizar contra os quatro sorotipos da dengue

Testes

A vacina em estudo diferencia daquela já disponível pela população porque deverá proteger contra os quatro sorotipos da dengue com uma única dose. “São necessárias três doses da outra para se ter uma proteção razoável. Com essa nova, esperamos ter um nível de proteção por volta de 90%”, afirma Jorge Kalil. A nova vacina é produzida com vírus vivos, porém geneticamente atenuados, ou seja, enfraquecidos. Os participantes podem apresentar febre ou reações alérgicas, mas o Butantan garante que os sintomas não são fortes como os da doença de fato.

Mesmo sabendo dos riscos, Márcio Juvelino Gonçalves, de 38 anos, que é dono de um restaurante, não hesitou em se candidatar como voluntário da pesquisa. "Me explicaram tudo que poderá acontecer depois de tomar a vacina, mas não tem problema se eu tiver alguma reação. É importante ajudar para que essa vacina possa chegar à população, que sofre com a dengue", afirmou.   

 Thais Oliveira/Hoje em Dia / N/AVOLUNTÁRIO - Márcio Juvelino Gonçalves é um dos moradores de BH que se candidatou para participar dos testes da nova vacina contra dengue

                                  

Para verificar a eficácia, dois terços dos voluntários receberão a vacina e o restante receberá placebo (substância com as mesmas características da imunização, mas sem os vírus). Eles serão acompanhados por cinco anos para que seja verificado por quanto tempo dura a vacina. Depois dos testes, ela será submetida à aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A vacina do Butantan é desenvolvida em parceria com os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, onde, em etapa anterior, 600 pessoas participaram de testes. Antes da fase nacional, a pesquisa foi feita ainda com 300 indivíduos na Faculdade de Medicina da USP, por meio do Hospital das Clínicas e do Instituto da Criança e com o Instituto Adolfo Lutz.

Em BH, os estudos clínicos são conduzidos pela UFMG, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde. 

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