Votação decide até quinta-feira quem será o próximo reitor da UFMG; conheça candidatos e propostas

Mariana Durães
mduraes@hojeemdia.com.br
07/11/2017 às 14:40.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:35
 (MONTAGEM/HOJE EM DIA)

(MONTAGEM/HOJE EM DIA)

A votação para a escolha do novo reitor e vice-reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) acontece nesta quarta (8) e quinta-feira (9). Cerca de 50 mil integrantes da comunidade universitária estão aptos a participar do processo que vai decidir qual das três chapas estará a frente da Universidade de 2018 a 2022. 

O processo funciona assim: a comunidade universitária, composta por professores, funcionários e estudantes, votam e o resultado, na forma de lista tríplice, com a votação de cada chapa, é enviada ao Ministério da Educação, responsável pela definição dos novos ocupantes dos cargos de reitor e vice (integrantes da mesma chapa, necessariamente). Normalmente, o nome do mais votado é homologado, mas não é obrigatório. Assim, o governante pode optar por qualquer um dos três que compõem a lista.

Na quarta-feira (8), a votação acontece exclusivamente no Hospital das Clínicas, das 6h às 20h30. Na quinta-feira (9), ela será em todas as unidades, das 8h às 17h. Nos locais e órgãos em que houver expediente noturno, o horário de votação se estenderá até as 22h. Serão montados postos de votação em 22 unidades do campus Pampulha, além de outros campi da Universidade. Fora da capital, haverá seções eleitorais no Campus Cultural de Tiradentes, no Instituto Casa da Glória, em Diamantina, e no Instituto de Ciências Agrárias, em Montes Claros.

Para conhecer melhor quem são os candidatos à reitoria da maior universidade do Estado, conversamos com eles sobre desafios, objetivos e temas que estão em alta entre a comunidade escolar. 

 Flávio Tavares/Hoje em Dia 

Renato de Lima Santos é o candidato da Chapa 1

 Renato de Lima Santos, da Escola de Veterinária - Chapa 1 (UFMG em Foco) 

Diretor da Escola de Veterinária da UFMG, Renato está na Universidade desde a graduação em medicina veterinária, em 1989. Há cerca de 21 anos, entrou para o grupo docente como professor substituto. Um doutorado nos Estados Unidos, porém, o afastou até 2002. Renato foi, ainda, pró-reitor de pesquisa na última gestão. A chapa 1 tem, ainda, Carmela Maria Polito Braga, da Escola de Engenharia, como candidata a vice-reitora. Ela tem experiência acadêmica e administrativa, como pró-reitora adjunta de graduação.

“O processo de sucessão da reitoria é muito importante para o destino da universidade. Existem diferenças claras entre as chapas, então convido a comunidade a se envolver, conhecer cada uma. Aos que acreditam em uma gestão fortemente vinculada a nossa missão acadêmica, estaremos prontos a ajudar e trabalhar para isso”, diz Renato. 

Por que decidiu candidatar-se?
Esse é um processo longo. Após várias conversas, decidimos que eu deveria liderar, pelo fato de ter tido uma experiência administrativa, como pró-reitor de pesquisa, e começamos a pensar nas propostas. Ter a Carmela na chapa é importante porque ela tem uma grande experiência acadêmica e também foi pró-reitora de estudos acadêmicos. Nesse processo de construção da candidatura buscamos compor um grupo diverso, com pessoas de todas as unidades acadêmicas, de diferentes áreas de conhecimento, com orientação ideológica diversa, para representar a diversidade da própria UFMG. 

Quais as propostas para a UFMG?
A UFMG tem uma missão muito clara: transformar as pessoas por meio do conhecimento e contribuir para a formação social. Temos um plano detalhado para áreas de ensino, desde a graduação, até a pós, pesquisa e extensão, bem como no segmento administrativo, pensando em modernizar e aumentar a agilidade dos sistemas internos. No geral, nossas propostas são vinculadas à missão da universidade, que deve ser permeável e sensível aos movimentos sociais e políticos. 

Qual é o maior desafio da UFMG atualmente? 
São muitos desafios. O primeiro são as pessoas, mas os cortes de orçamento também. Temos umas comunidade diversa, composta por três grupos diferentes, que são os discentes, servidores técnico-administrativos e os docentes. Essas três categorias têm passado por mudanças muito rápidas. Por exemplo, metade do corpo docente deve ter em torno de cinco anos de casa, e isso demonstra uma taxa de renovação muito além do considerado normal. Eles precisam de acolhimento para que logo no início tenham oportunidade de desenvolver plenamente sua capacidade profissional. No grupo de alunos, tínhamos uma universidade muito elitizada, e hoje é muito diversificada. Isso é bom, mas traz desafios, principalmente em relação à demanda de assistência estudantil. 

O que mais os cortes afetam?
O país passa por extrema dificuldade fiscal e política, e isso tem impacto na UFMG, que é uma universidade pública e depende dos recursos para o funcionamento. Várias obras estão paralisadas, em algumas faculdades não tem sala de aula em número e quantidade adequada para atender aos alunos. Mas isso não pode interromper as atividades, não podemos ficar reativos a isso.

Do que a universidade precisa?
Embora sejamos otimistas, as perspectivas para o próximo ano não são as melhores. Precisamos priorizar a aquisição de recursos. Para isso, é necessária uma conexão bem conduzida entre a UFMG, MEC e outras instituições governamentais, para viabilizar os valores que precisamos para, por exemplo, a continuidade das obras; e buscar condições para que as pessoas possam exercer suas atividades. 

E a questão da segurança?
A questão da segurança no campus Pampulha é muito importante, mas não é exclusividade da UFMG, até mesmo pelo fato de a universidade estar inserida no contexto urbano. Por isso, o tema será tratado de maneira democrática junto à comunidade, porque parte da dela é muito sensível à ação da Polícia Militar. Precisamos de interlocução permanente, compatibilizando ações internas, com os mecanismos que já possuímos, além de investimentos em tecnologia.

Qual a sua opinião sobre as fraudes de cotas?
O fato é o seguinte: as ações afirmativas são muito importantes, tanto no aspecto socioeconômico quanto racial, mas é preciso que a política tenha eficácia. A autodeclaração tem se mostrado um instrumento insuficiente, visto o que já ocorreu (fraudes). A UFMG vai adotar um novo modelo, e a mim parece um avanço. Isso tudo precisa ser aperfeiçoado, mas é necessário que a universidade esteja alinhada ao MEC.

Qual é o papel do reitor e qual a força ele tem para gerir uma Universidade e melhorá-la?
O reitor tem o papel político no ordenamento das funções administrativas, que tem certo grau de complexidade. O dinamismo de quem assumir, na busca de recursos e interlocução com órgãos superiores, pode potencializar as atividades. Mas acredito que é também papel da reitoria estar mais próxima da comunidade acadêmica.

 Flávio Tavares/Hoje em Dia

Sandra Regina Goulart Almeida é a candidata da Chapa 2

Sandra Regina Goulart Almeida, da Faculdade de Letras - Chapa 2 (UFMG Pública e Diversa)

Atualmente Sandra é a vice-reitora da UFMG. Além disso, é professora da Faculdade de Letras há 15 anos, e pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).  No setor administrativo ela também tem experiência como chefe de departamento, diretora de relações internacionais e coordenadora da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Junto a Sandra, o diretor da Escola de Engenharia da UFMG Alessandro Fernandes Moreira concorre ao posto de vice-reitor. 

“É importante abordar a UFMG também na questão cidadã, que passa por direitos humanos, acessibilidade, sustentabilidade. A universidade pode ser ainda melhor, mais acolhedora, comprometida em formar cidadãos mais responsáveis com a sociedade”, diz Sandra.

Por que decidiu candidatar-se?
Meu perfil é interessante para o cargo porque tenho uma carreira consolidada e ampla experiência administrativa, inclusive como vice-reitora. Acho que isso contribui e torna a candidatura sólida, mas a estrutura da chapa, que tem também o Alessandro, foi uma decisão institucional, e não pessoal. Achamos que podemos contribuir com nosso perfil diverso, já que sou de humanas, o professor é da engenharia. Somos complementares.

Quais as propostas para a UFMG?
Nossa chapa se chama UFMG Pública e Diversa. Acreditamos que é importante destacar o aspecto público, a interação com a sociedade de BH, de Minas e também do Brasil, para a construção de uma sociedade mais democrática, ética e justa e para o enfrentamento dos desafios. A nossa proposta quer incluir a participação de múltiplas e diversas pessoas, de todos os segmentos da universidade. Por isso, nos estruturamos em 13 eixos, como: políticas acadêmicas; inovação e empreendedorismo; políticas para estudantes; esporte e lazer; planejamento, orçamento e gestão administrativa; entre outras coisas.

Qual é o maior desafio da UFMG atualmente? 
O grande desafio diz respeito ao orçamento, que precisa ser recomposto. A UFMG é uma universidade consolidada, que está entre as melhores do país, conhecida internacionalmente, referência para pesquisa. Precisamos manter isso, para que continue sendo excelente e interagindo com a sociedade. Mas para recuperar o investimento é preciso um diálogo com o MEC e ministério do planejamento. Precisamos de uma gestão junto ao governo.

O que mais os cortes afetam?
No caso da UFMG, é importante destacar que optou-se em preservar a pesquisa, mas a universidade sofre porque a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) diminuíram verbas. A atividade fim tem se mantido, mas com menos recurso. 
 
Do que a universidade precisa?
Como os cortes afetam também a infraestrutura, precisamos de investimento nessa área. Outra necessidade da UFMG é acompanhar o crescimento de alunos, professores e demais funcionários da instituição.

E a questão da segurança?

Na verdade, a segurança não é uma questão só da UFMG, mas de todas as instituições, porque a cidade também está se tornando insegura. É preciso implementar uma política de segurança, que inclui melhor iluminação, por exemplo. Mas isso será discutido com a comunidade, para ações a curto, médio e longo prazo. Não tem solução imediata, deve ser planejado.

Qual a sua opinião sobre as fraudes de cotas?
A implementação da política de ações afirmativas para a graduação na UFMG trouxe inúmeros ganhos para a universidade, ampliando a inclusão e o acesso da diversidade à universidade pública. Também é importante ressaltar que a experiência com as ações afirmativas na graduação levou à reserva de cotas na pós-graduação e nos processos de intercâmbio nacional e internacional, implementados em 2017. Portanto, a primeira questão a ser levada em consideração é que este é um importante sistema de inclusão e democratização social. No entanto, há aperfeiçoamentos a serem feitos. A própria Universidade havia percebido essa necessidade antes mesmo das denúncias e questionamentos realizados. Em nosso programa de gestão, propomos estabelecer ações de acompanhamento da política de inclusão e de ações afirmativas, criando mecanismos que dificultem as fraudes, mas não criem constrangimentos às pessoas que se autodeclaram negras, pardas ou indígenas. Nesse sentido, uma Comissão de Acompanhamento seria responsável por ações educativas e específicas sobre a questão, de modo a conduzir um debate maduro sobre o tema - sempre em conjunto com a comunidade universitária. Também apoiamos a entrada em vigor da declaração consubstanciada, documento pelo qual o autodeclarado faz uma reflexão e uma justificativa sobre o seu pertencimento étnico. Entendemos que essa possibilidade mantém a centralidade da autodeclaração, garantida em lei, e aumenta o custo de uma declaração falsa.
 

Qual é o papel do reitor e qual a força ele tem para gerir uma Universidade e melhorá-la?
A UFMG tem autonomia didática-administrativa, então o reitor faz propostas de modificações, mas deve ser em conjunto com a comunidade, colegiados. Sem diálogo não acontece. O reitor tem o papel de fomentar, de levar a diante projetos inovadores, arrojados, para que a universidade melhore cada vez mais.

 Flávio Tavares/Hoje em Dia

Andrea Mara Macedo, é a candidata da Chapa 3 

Andrea Mara Macedo, do Instituto de Ciências Biológicas - Chapa 3 (UFMG+) 

Andrea é ditora do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG há quatro anos, além de ser professora titular do departamento de bioquímica e imunologia. Como docente, está na universidade desde 1991 e já deu aula para vários cursos da área da saúde, tais como medicina, bioquímica e farmácia. A candidata também é pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A chapa tem, ainda, Paula de Miranda Ribeiro, que é diretora da Faculdade de Ciências Econômicas, como candidata a vice-reitora. 

Caso seja eleita, essa será a primeira vez que a UFMG tem uma dupla de mulheres coordenando a universidade. “Nós duas temos experiência de gestão nas nossas unidades, e ambas tiveram sucesso, foram próximas da comunidade, com participação efetiva. Se isso deu certo nas faculdades, deverá funcionar para a universidade também”, defende Andrea. 

Por que decidiu candidatar-se?
Tenho uma longa experiência administrativa, e isso contribuiu para a formação da chapa. Não foi uma decisão pessoal, nasceu de um coletivo, formado por docentes, técnico administrativo e estudantes que me acompanharam como diretora e acharam que eu tinha o perfil. É uma honra, mas também um grande desafio. Estou encarando como uma missão, porque não existe uma formação para ser reitora de uma universidade desse porte. São características e atributos determinados, que são mais indicados. 

Quais as propostas para a UFMG?
Pensamos em uma gestão mais participativa, menos retórica, com mais ação, mais proximidade com a cidade e sociedade. Queremos mais interação e parceria com os Institutos Federais de Educação, não só em Minas, mas no Brasil. É preciso mais segurança, sustentabilidade. Mas também propomos um olhar de qualidade para todos os níveis de formação, desde as escolas técnicas até o mestrado, pesquisa. O que a universidade precisa, é para qualquer que seja a chapa. 

Qual é o maior desafio da UFMG atualmente? 
Estar a frente da UFMG já é um desafio normalmente, mas é ainda maior na situação atual.
Vivemos um cenário de cortes drásticos nos recursos, uma pressão sobre os gestores, uma execração sobre o servidor público. Temos muitos problemas estruturais, também. É preciso investimento em infraestrutura. 

O que mais os cortes afetam?
Isso afeta o ensino, de modo geral. Cortam as bolsas, o auxílio estudantil, e isso é grave. A universidade pública decidiu ser mais inclusiva, mas tem corte da assistência quando deveríamos aumentá-la. Só assim vamos mudar a cara da universidade. O corte financeiro nas pesquisas significa, inclusive, redução econômica em vários municípios. Isso é ir na contramão do que espera a sociedade brasileira. 
 
Do que a universidade precisa?
Precisamos de uma gestão mais inclusiva, participativa, em que a qualidade de vida das pessoas também seja um bem precioso e estratégico. Estamos com sofrimento mental entre alunos, docentes e servidores. Isso não é diferente do que acontece no mundo, mas a saúde mental também tem que ser uma prioridade. Criar um ambiente de colaboração é um desafio adicional. E eu entendo que quanto mais difícil o cenário, mais importante ter pessoas com capacidade de unir a universidade, interagir com outras instituições.

E a questão da segurança?
A universidade faz parte da cidade, então os problemas nesse sentido são comuns. Precisamos de melhor iluminação, rede viva de vigilantes. Mas tem que ser uma discussão com a comunidade de um plano de segurança patrimonial, ambiental e das pessoas - até para decidir se a Polícia Militar deve ou não fazer parte disso dentro da instituição. O que pensamos também é melhorar a ocupação dos campi no período noturno, até mesmo para aumentar a segurança, com serviços complementares como teatro, cinema, ações culturais.

Qual a sua opinião sobre as fraudes de cotas?
As ações afirmativas colocam quem precisa na universidade. Isso não quer dizer que é livre do risco de fraude, mas o número é mínimo. Tentar criar normas adicionais é perigoso, porque no Brasil só a autodeclaração é possível. Temos a cultura da vigilância e se gasta mais dinheiro com isso do que para os fins das ações afirmativas. O que se deve fazer é punir exemplarmente quem frauda. 

Qual é o papel do reitor e qual a força ele tem para gerir uma Universidade e melhorá-la?
O reitor tem um papel político muito grande. Atualmente, acho que precisamos que quem estiver à frente da universidade tenha uma atuação mais proativa e intensa junto ao MEC, de interação maior e protagonismo, atuação em parceria com outras instituições de ensino mineiras. 

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