Zoo de BH peca na proteção a visitantes e animais

Renato Fonseca
rfonseca@hojeemdia.com.br
17/06/2016 às 17:26.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:56
 (Wesley Rodrigues)

(Wesley Rodrigues)

A falta de zelo com uma das principais atrações da metrópole pode transformar um simples passeio em dor de cabeça. Responsável por receber 56 mil visitantes por mês, o zoológico de Belo Horizonte carece de medidas de segurança e proteção à área verde que abriga quase 4 mil animais.

Pesquisa feita pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste) cobra intervenções – algumas urgentes – para evitar riscos às pessoas e aos bichos. O alerta remete a casos recentes em parques dos EUA. Em maio, um menino de 4 anos entrou na jaula de um gorila do zoológico de Cincinatti, Ohio.

O animal agarrou o garotinho e, para evitar uma tragédia, foi sacrificado pelos funcionários. Na semana passada, uma criança de 2 anos morreu em um parque da Disney após ser arrastada para a água por um jacaré.

A reportagem do Hoje em Dia foi ao zoológico de BH e comprovou as irregularidades denunciadas pela Proteste. O perigo maior é no recinto dos felinos. Quem se aproxima da barra de proteção para ver os leões deve redobrar a atenção. A grade de ferro é considerada baixa (cerca de 80 centímetros de altura). Muitas hastes estão tortas ou em desnível, podendo provocar desequilíbrio e queda de crianças no colo ou nos ombros dos pais.

“Primeira vez que venho. Trouxe minha menina e, realmente, a divisória é baixa e encurvada”, disse o professor Rogério Lima, que estava com a filha Eduarda, de 5 anos. Problema semelhante existe nas grades dos primatas, mas com um detalhe a mais: vários arbustos atrapalham a visão do recinto.

A visibilidade também fica comprometida no carro-chefe do zoo, que atrai a maioria dos visitantes. Vidros manchados impedem admirar com mais nitidez o casal de gorilas Lou Lou e Leon e os filhotes Jahari e Sawidi, os primeiros nascidos na América do Sul.

Além disso, o espaçamento entre as grades de proteção e o poço está abarrotado de lixo. Também há mato alto, folhas secas por todos os cantos e entulho em alguns outros pontos do parque. Um deles, inclusive, prejudicava cadeirantes na semana passada.

Sem identificação
No Brasil, uma instrução normativa do Ibama orienta a necessidade de placas informativas com os nomes comum e científico da espécie nos recintos. Porém, na área reservada às aves a medida não é respeitada. Três das sete gaiolas estavam sem as descrições. Lá, há várias infiltrações e pouca sombra para os pássaros. “Você vem com seu filho e não pode contar a ele que ave é aquela, pois não tem placa”, reclama a dona de casa Maria Isis Ferreira.

Já na praça de alimentação o que salta aos olhos é o teto prestes a ruir. “Isso aí está desse jeito faz tempo. Eu até evito passar por aqui”, disse um funcionário do zoo. No espaço, a escada está danificada e o banheiro em condições precárias. A higiene deixa a desejar: das quatro torneiras, duas estão quebradas, além de faltar papel e sabão.

 Irregularidades comunicadas a órgãos públicos do país

Cinco zoológicos do país foram avaliados pela Proteste. Além de BH, a associação vistoriou parques de São Paulo, Recife, Rio de Janeiro e Foz do Iguaçu. Falhas foram percebidas em todos e as irregularidades informadas às prefeituras, Bombeiros e Ibama.

“Solicitamos uma fiscalização urgente e medidas capazes de resolver a situação”, disse a supervisora institucional da Proteste, Sonia Amaro. Dentre os problemas que mais despertam atenção, ela fala dos riscos aos visitantes na praça de alimentação de BH.

“Não tem condições de uso. Precisa de uma intervenção urgente no teto. A pessoa não precisa nem mesmo estar sentada. Basta passar pelo local e estará em perigo”, disse Sonia

Além disso, a supervisora da Proteste reforça que o cidadão também pode ajudar. “As pessoas têm papel fundamental nesse processo. Elas devem denunciar, reclamar, cobrar providências. Só assim a situação pode mudar”.

 Wesley Rodrigues

Vidro manchado no recinto dos gorilas prejudica a visibilidade de quem vai ao espaço para ver as estrelas principais do zoo

Amda cobra mudanças
Recentemente, a Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda) cobrou intervenção do Ministério Público (MP) com relação a irregularidades no zoológico. Um ofício foi enviado ao órgão solicitando uma vistoria. Para a superintendente da Amda, Dalce Ricas, o assunto é grave e urgente.

“Nossa preocupação é com o bem-estar dos animais e dos visitantes. Estamos aguardando uma posição do Ministério Público”. O MP informou que investigará o caso. Já o Copo de Bombeiros agendou para esta semana uma vistoria no espaço. Serão verificadas questões de segurança contra incêndio e pânico.

Intervenções previstas
O zoológico da capital tem 256 espécies e 3.805 animais. Em nota, a Fundação Zoo-Botânica (FZB-BH) informou que recebeu o relatório da Proteste, admitiu a existência de alguns dos problemas e trabalha no sentido de resolvê-los.

Em breve será licitado um projeto para as barras de proteção junto aos recintos, que contempla reforma de passeios e substituição de guarda-corpos. Segundo o órgão, a limpeza em todo o parque é feita periodicamente e ações educativas são desenvolvidas com o público.

Conforme a FZB, a visibilidade limitada em alguns recintos, devido a arbustos, existe para dar mais conforto e segurança aos animais. Já sobre os vidros do recinto dos gorilas, a manutenção demanda mais cautela, pois os animais estão com filhotes, mas está sendo avaliada uma medida. Com relação ao entulho na passagem de cadeirante, os galhos seriam retirado no mesmo dia.

Limpeza reavaliada
A praça das aves passou por reparos e tem previsão de receber novas obras. Toda a sinalização também está sendo aprimorada, diz a Fundação. Sobre a praça de alimentação, será lançado novo edital para realização de obras. A manutenção é de responsabilidade dos permissionários, assim como os banheiros. Enquanto isso, a limpeza e a manutenção serão reavaliadas.

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