Limpeza indesejável: "retirada" de mendigos das ruas levanta críticas

Hoje em Dia
15/06/2013 às 07:21.
Atualizado em 20/11/2021 às 19:09

Na década de 1960, Carlos Lacerda era governador do Estado da Guanabara e foi um dos líderes do golpe militar de 1964. Ele fez um governo brilhante, conseguindo sustar a decadência da cidade do Rio de Janeiro, iniciada com a transferência da capital da República para Brasília. Entre suas obras memoráveis, a Estação de Tratamento de Água do Guandu, ainda hoje a maior do país. No entanto, Lacerda é lembrado por um fato que ele sempre negou ter sido o responsável – a limpeza da cidade, com a matança de mendigos, cujos corpos eram jogados no rio da Guarda, afluente do Guandu.

Lacerda se empenhou para ver seu nome desligado desse triste episódio, inclusive demitindo o secretário de Segurança, pois a Imprensa dizia que a “limpeza” era feita por policiais. Convém relembrar a história, no momento em que se noticia que moradores de rua estão sendo retirados de cena para que BH fique mais bonita na Copa das Confederações.

Não se pode atribuir ao prefeito Marcio Lacerda responsabilidade pelo assassinato de cem moradores de rua em Belo Horizonte, nos últimos dois anos. O número macabro foi divulgado nesta semana em “nota de repúdio” assinada pelo Centro Nacional de Defesa de Direitos Humanos da População em Situação de Rua e Catadores de Materiais Recicláveis (CNDDH).

Afirma a nota que “ações higienistas têm acontecido corriqueiramente na cidade” e que “agentes municipais, apoiados pela Polícia Militar, têm passado pelas ruas de Belo Horizonte e recolhido os pertences pessoais das pessoas em situação de rua, como remédios, documentos, cobertores e material de trabalho, pois muitos vivem da catação de material reciclável”.

A reportagem do Hoje em Dia ouviu o Comitê de Acompanhamento e Monitoramento da Política Municipal para a População em Situação de Rua, ligado à prefeitura. Ele negou que esteja havendo retirada compulsória dos moradores de rua. Mas a coordenadora Soraya Romina confirmou que objetos, como fogareiros e colchões, são retirados. A promotora de Direitos Humanos Cláudia Amaral informou que as denúncias serão investigadas pelo Ministério Público. É preciso que elas sejam esclarecidas. O prefeito Marcio Lacerda, que foi preso por se opor à ditadura iniciada com o apoio de Carlos Lacerda, tem interesse em não ter seu nome ligado aos que estariam buscando, por assassinatos ou não, fazer a “limpeza” das ruas de Belo Horizonte, antes de jogos internacionais de futebol.

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