Parar, sentar, respirar: estimular a criançada a meditar tem efeito positivo até no boletim escolar

Patrícia Santos Dumont
pdumont@hojeemdia.com.br
27/11/2016 às 08:42.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:49

Fechar os olhos por alguns minutos e se desligar de tudo em volta parece difícil demais. Ainda mais nos dias atuais. O mundo moderno nos exige cada vez mais imediatismo e atenção em tudo e em todos, menos na gente. Por isso mesmo, aprender a focar no presente e vivê-lo com plenitude deve ser um exercício diário. Quanto mais cedo começamos, melhor. Mas se tem adulto que torce o nariz para a proposta de desacelerar, como estimular a criançada a parar e respirar? Animem-se, pais! Tem jeito.

A prática constante da meditação facilita a percepção do corpo e da mente, melhora concentração e criatividade, aumenta a autoconfiança e a estabilidade emocional. Tanto em gente miúda quanto nos grandões.

Para despertar o interesse dos pequenos, o segredo é recorrer ao lúdico, ensina a instrutora de yoga Daniela Leite Lage Rosa, que, recentemente, começou a dar aulas para crianças em Belo Horizonte. Segundo ela, estar atento ao que acontece consigo mesmo ajuda a disciplinar e, principalmente, a exercitar o autocontrole. 

“O segredo é trabalhar de forma bem lúdica, in corporando brincadeiras e fazendo alusão a histórias. A respiração é o centro de tudo. É ela quem vai ditar o funcionamento do corpo. Quando se sentem nervosas, por exemplo, recomendo que respirem fundo e, assim, reagirão melhor”, orienta.

Crianças estão em pleno desenvolvimento psicomotor. Cada função motora tem uma representatividade psíquica, e cada função psíquica corresponde a uma expressão motora. Cabe ao instrutor de yoga atentar para sentimentos e emoções expressados por elas

Leitura
Best seller na Europa, com mais de 350 mil exemplares vendidos, o livro Quietinho Feito um Sapo – Exercícios de Meditação para Crianças e Seus Pais, da holandesa Eline Snel, faz sucesso no Brasil. A publicação, verdadeiro bê-a-bá da prática do mindfulness – atenção plena, em português –, utiliza o sapo como referência para exercitar foco no aqui e agora. 

Capaz de dar saltos enormes, o sapo também consegue ficar quieto por um bom tempo. Mesmo ciente de tudo o que acontece ao redor, não reage prontamente. “O sapo senta quieto e respira, guardando energia em vez de se deixar levar por todas as ideias que passam por sua cabeça”, diz trecho do livro. 

Regularidade 
Meditação para crianças não tem mistério. É importante que haja regularidade, mesmo que a meditação seja feita por breves períodos de tempos. A dica é da psicopedagoga Sonia Beira Antonio, coordenadora dos programas de mindfulness do Centro Mente Aberta, vinculado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Três a dez minutos são suficientes, pois o importante é a frequência e não a quantidade de tempo”, explica. 

Independência, confiança, percepção de si e do outro, diminuição da agressividade, da frustração e da tristeza são alguns dos resultados conquistados com a prática. Há estudos, inclusive, que relacionam os benefícios à melhora do rendimento escolar. “Práticas informais podem ser feitas escovando os dentes, tomando banho ou fazendo a lição de casa”, diz Sonia Beira.

“Crianças são naturalmente focadas no sentido de viverem o presente, sem se preocupar com o passado e o futuro. O mais importante é não matar essa qualidade inata, mas reforçá-la”. Eline Snel. Autora do livro "Quietinho Feito um Sapo"

Além Disso
Uma instituição de ensino infantil de Belo Horizonte vem inovando nas aulas de meninos e meninas de 2 a 8 anos.Inaugurada há pouco mais de um ano, a Escola Miri Piri, no bairro São Bento, na região Sul, tem os fundamentos baseados na kundalini yoga, prática milenar que promove a expansão da consciência e o despertar de energias latentes. O objetivo, segundo a diretora da instituição, Sat Kartar Kaur, é formar crianças mais seguras, capazes de conhecer as próprias emoções e lidar com elas de maneira autônoma. “A ideia era construir uma escola de ensino regular com aquilo que se tem de melhor e mais inovador do ponto de vista pedagógico, dialogando sempre com a yoga, com a meditação e as artes marciais. Não queremos ensinar as crianças a eliminar a raiva, mas a aprender a lidar com ela de forma inteligente”, diz. 

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