Shows guardados a sete chaves

Artistas como Júlia branco, que estreia hoje série secreta, focam no inusitado

Lucas Buzatti
lbuzatti@hojeemdia.com.br
26/05/2017 às 16:37.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:44

Você iria a um show sem saber o repertório, o lugar ou, até mesmo, os artistas escalados? Apesar de uma possível desconfiança do público, iniciativas que apostam no fator surpresa e brincam com o inusitado têm ganhado coro em Belo Horizonte. Caso da série de shows secretos idealizada pela cantora e compositora mineira Julia Branco, com locais e participações trancados a sete chaves. A primeira das quatro apresentações acontece hoje num local incomum - a galeria de arte Mama / Cadela, no Santa Tereza -, e só foi revelada ao público ontem, pelas redes sociais.

“O local e o convidado vão ser sempre divulgados 24h antes do show. Mas, antes, vamos dar pistas e informações de acessibilidade para o público se organizar”, afirma a artista, que convida Fernanda Branco Polse nesta edição. “Serão sempre convidados e formações diferentes. Quero experimentar sons, músicos e instrumentos”, diz.

Vocalista da banda Todos os Caetanos do Mundo, Branco quis testar, no palco, as canções de seu primeiro disco solo, que sai no ano que vem.

“Senti a necessidade de experimentar algumas coisas que estou gravando para me desafiar e sentir a reação do público. Vi que gostava de ir a shows que proporcionavam uma experiência maior, que gerem afeto e encontro”, conta a artista, inspirada pelo processo de gravação a cantar em outros ambientes.

“Estou gravando com o Chico Neves e o estúdio dele fica no meio do mato, em Macacos. Então, você fica lá o dia todo, imerso, sem pressa, mergulhando na música. É um super aprendizado nesses tempos acelerados. Foi daí que senti essa vontade de cantar em lugares diferentes”, relata.

Aposta no coletivo

Para a cantora e compositora Raquel Coutinho, o caminho é a coletividade. Em 2016, ela criou a festa “Cambada”, durante o ocupação do Canecão, no Rio de Janeiro, onde vivia. “A ideia era viabilizar shows sem gastar muito. Convidamos artistas que também são instrumentistas, montamos uma banda-base e todo mundo tocou com todo mundo. Assim, circulamos trabalhos e compartilhamos públicos”, conta.

Em BH, veio a vontade de promover uma segunda edição, que aconteceu em abril, n’A Casa. “A cena de BH é muito rica, está fervendo de compositores. Pensamos em fazer algo mais secreto, sem divulgação. Apenas amigos convidando amigos. Me deu um frio na barriga, mas foi incrível. O ‘segredo’ gerou um interesse genuíno pela festa. Sem contar que houve cruzamentos muito interessantes entre artistas”, conta, citando Pedro Morais e Glauco Mendes.

Outra ideia incomum de Coutinho foi a série Trinta Minutos de Trilha Para Três Tigres Famintos, que divide com Labaq (SP) e Mihay (RJ), e cujo primeiro show aconteceu ontem, em BH. “São três artistas de três estados diferentes. Cada um faz um pocket show, com o mínimo de equipamento e custo possível. Isso viabiliza nosso deslocamento entre os três estados para compartilhar públicos uns com os outros”, afirma.

“A gente quer existir com a nossa música, essa é a urgência. Não dá para esperar ter dinheiro, aprovar lei de incentivo, para andar com a vida”, defende a artista.Ana Migliari/Divulgação

FESTA CAMBADA – Raquel Coutinho confia em iniciativas de cooperação mútua

Precursores

A ideia de manter segredo ganhou fama com o Sofar S[/TEXTO]ounds, evento que promove apresentações secretas em locais incomuns do mundo inteiro.

“O Sofar surgiu em 2009, em Londres, com a ideia de criar uma maneira de escutar música autoral, com respeito do público”, explica o produtor Fernando Remiggi, que trouxe o projeto para o Brasil em 2012.

Desde então, só em BH já foram mais de 30 edições. “A curadoria acontece em conjunto com a equipe de Londres. A gente faz uma pré-seleção e manda os nomes para lá, onde dão a palavra final”, explica, citando Sérgio Pererê, Luiz Gabriel Lopes, Affonsinho e Constantina. “O segredo instiga tanto o público quanto o artista”, defende, lembrando que o local é informado 48h antes e a programação, só na hora.

Remiggi conta que desde o fim de 2016 não coordena mais a produção do Sofar Sounds, hoje pausado, mas que deve voltar ainda este ano. No entanto, o produtor mantém a crença de que o inusitado “é o caminho”.

“A curiosidade leva o público a prestar mais atenção na música e a se envolver com a experiência. É o que falta”.

Serviço: Julia Branco estreia shows secretos. Sábado (27), às 18h, na galeria Mama/Cadela (rua Pouso Alegre, 2048, Santa Tereza). Ingresso: R$20Flávio Charchar/Divulgação /

SOFAR SOUNDS – Um dos primeiros eventos a apostarem no ‘segredo’; na foto, edição do projeto em BH, com o Constantina

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