Socorro, Nanny Dog: em poucas lições, cães podem virar astros de TV; donos é que dão trabalho

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
01/04/2017 às 13:34.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:58

Toda vez que a campainha toca o cão late sem parar. Quando o dono se ausenta, quase destrói a casa. Quando ficam estressados, os pets tendem também a mastigar objetos, arranhar móveis e chorar sem parar. É hora de pedir socorro, certo? Sem dúvida! Mas, muitas vezes, quem mais precisa de “adestramento” são os “pais”. Os bichinhos viram até estrelas do cinema ou da TV em poucas lições. 

Magro e baixinho, André Barreto tinha um sério problema ao passear com o seu cãozinho: era praticamente arrastado pelo animal, que seguia a direção que queria. Depois de resolver a desobediência do dog alemão numa escola especializada, ele se tornou um dos principais adestradores de animais do Brasil, e seus alunos são constantemente chamado para filmes e comerciais. 

“Fiz o curso, fui me aprimorando, ajudando amigos com seu cães e a coisa se inflamando. Depois de viajar à Inglaterra, voltei com duas malas de acessórios sobre atividades como flyball e canine freestyle”, recorda.

Ao lado de outra cadela, Bisteca, ele participou dos programas do Gugu e do Faustão. Hoje, tem no adestramento de astros do mundo animal seu principal ganha-pão. 

“Vi que não tinha outra coisa que mais queria fazer na vida. Eu e minha esposa, então, pedimos demissão de nossos empregos para dar continuidade”, diz André, que treinou o cãozinho de Rodrigo Santoro no filme “Meu País”.

Depois de uma viagem à Inglaterra, há 17 anos, André Barreto trouxe para o Brasil o canine freestyle, em que cão e tutor têm movimentos sincrônicos, semelhantes a uma dança

Humanização

A necessidade de os bichos estarem adaptados às regras da casa e compreenderem seus tutores – comandos e até variações de humor – torna fundamental a presença do dono no treinamento. Mas André não tem dúvida quando perguntado. É mais fácil lidar com os cachorros do que com os “pais”. 

“Não adianta só gostar de cães. É preciso gostar e entender as pessoas, pois, no treinamento, cada vez mais se exige a presença deles”, assinala o especialista, 

E muito apego, é bom ou ruim? “Há muitos pontos positivos, como companhia e cumplicidade. O problema é quando tentam humanizar o animal”.

André destaca ainda que é fundamental preservar os instintos naturais do pet. “Às vezes, um cliente me chama porque o cão está farejando o chão. Por que não pode? Aí leva uma aula inteira para o dono entender as características do animal”, afirma.

O adestrador sugere que o tutor deve se colocar no lugar do seu bicho, perguntando-se como se sentiria se fosse privado de atividades que o deixariam feliz. “Cachorro gosta de farejar, brincar, correr. Com ele não tem essa coisa de limpeza”. CRISTIANO MACHADO / N/ATREINAMENTO – Marcel ensina Cherry, da raça Blue Heeler, na casa do proprietário, no bairro Cidade Nova

 Desvios de comportamento nascem das muitas falhas de comunicação com o animal 

A maior parte dos “problemas” do cão, como latir muito e morder objetos, tem a ver com o dono. 

“Em 99% dos casos, a razão é a falta de comunicação. Antes de mais nada, é preciso entender que o animal tem suas necessidades. Não podemos privar o cão de latir quando se abre a porta. Um cachorro mudo, ao contrário, é perigoso”, avisa André Barreto.

Ter um cãozinho não é simplesmente dar comida e lar. “Se está mordendo muito os objetos, o motivo pode estar na falta de atividade física. Nessa situação é preciso uma estratégia de manejo, em que o tutor precisa participar”, salienta Marcel Mendes Machado, médico veterinário que trabalha há mais de 20 anos como adestrador especialista em comportamento canino em Belo Horizonte.

Perfil
Marcel registra que, em algumas situações, o ideal seria a pessoa não adquirir um animal devido se não tiver tempo para cuidar adequadamente dele. Em outras, o problema é a escolha da raça, inadequada, por exemplo, para um ambiente mais restrito, como um apartamento.

É nessa hora que também entra em cena o adestrador, apesar de ele ser mais lembrado quando o pet passa a dar trabalho. “É preciso obter informações antes, sobre a raça e o parentesco, para saber a tendência de comportamento do cachorro. Mesmo assim, teremos que analisar o perfil dele”, observa Marcel. 

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