Aluna envolvida em suposta fraude quer negociar continuidade do curso com a UFMG

Malú Damázio
mdamazio@hojeemdia.com.br
27/11/2017 às 19:32.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:54
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

A estudante Ana Carolina Andrade, de 27 anos, envolvida em uma suposta fraude nas cotas raciais do mestrado em comunicação da UFMG, reconheceu ontem que fez “mau uso” da reserva de vagas. A candidata, que se considera parda, concorreu e foi aprovada na seleção da pós-graduação destinada a negros.

A jovem afirma que pretende corrigir o equívoco. No entanto, espera que a vaga na instituição de ensino seja mantida. “Não escolho sair de forma alguma. Tenho certeza de que eu e a universidade conseguiremos chegar a uma solução legal”, afirma.

mostrou na semana passada que a aprovação de Ana Carolina no mestrado tem sido questionada por estudantes e pessoas ligadas a movimentos sociais devido à autodeclaração de raça. 

Apesar de ter afirmado anteriormente que tinha direito às cotas por ser afrodescendente e ter um avô negro, a candidata diz, agora, que as cotas não têm só a função de reparar uma exclusão histórica.

“Percebi que a representação negra na universidade ainda é pouco significativa, e a função principal das cotas raciais é aumentar essa presença, o que significa ter professores, pesquisadores e autoridades negras no meio acadêmico”, diz Ana Carolina. 

A estudante garante que não quis fraudar o concurso. “Antes, eu não sabia de muitos aspectos da função social das cotas. Só quando comecei a ser atacada nas redes sociais que resolvi pesquisar a fundo a aplicação dessa política pública”, diz.

“Eu não seria vista como negra. Sou parda e não estou negando isso, mas a autodeclaração não é para todos. Ela tem a função de dizer que o candidato será uma representação negra dentro do espaço universitário”

Mudança

Ana conversou com pessoas que participaram dos debates nas redes sociais e procurou também amigas negras e estudiosos de ações afirmativas da UFMG.

“Mesmo não sendo meus amigos e mesmo não estando satisfeitos comigo e estando um pouco ofendidos com a minha atitude, eles foram bem receptivos. Eles viram que eu estava aprendendo e se mostraram muito abertos. Tive muito a quem recorrer e os diálogos me fizeram ver o que não conseguia”, afirma a estudante.

Universidade

Ela também publicou um texto no Facebook. Em um dos trechos, Ana diz: “Não cometi uma fraude, cometi um erro”. 

Segundo a UFMG, a universidade ainda não foi comunicada sobre a proposta da jovem de abrir mão da vaga de cotista, permanecendo, porém, no mestrado. A aluna deverá formalizar o pedido junto ao colegiado da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich).

“Percebi que a representação negra é pouco significativa, e a função principal das cotas é aumentar essa presença, o que significa ter professores, pesquisadores e autoridades negras no meio acadêmico”

‘Chorei sem parar’

A jovem é professora e participa de projetos sociais há sete anos, além de dar aulas de comunicação para pessoas em situação de vulnerabilidade social. Ela garante que não entrará mais em debates relacionados à suposta fraude.

Como você se sentiu após a repercussão do caso? 

Cheguei a responder alguns comentários no início, mas fiz isso só quando não aguentava mais ficar quieta. Fui impulsiva, não pensei. Fiquei muito abalada com o linchamento nas redes sociais. Tive crise de identidade, de ansiedade, chorei sem parar. Me senti agredida. As pessoas não querem ouvir, elas só querem dar opinião e ter razão.

Você considera que voltou atrás no seu ponto de vista? Por que decidiu se posicionar publicamente?

Não. Antes não entendia muitos aspectos dessa questão. Mas quis tornar público esse debate que é tão importante e tem tão pouca informação disponível.

Você ficou com medo de perder a vaga?

Não fiz nada de má-fé, não cometi crime. O que me preocupou foi a falta de compreensão de todos sobre esse tema. Sinto que me encontrei em um debate muito imaturo, que tem muito para ser desenvolvido. Por mais que todos saibam como a questão das cotas raciais é complexa, insistem em querer afirmar uma certeza, igual eu afirmava antes. A primeira reação que tive foi afirmar minha opinião.

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