Recintos climatizados

Animais do zoológico de BH recebem atenção especial durante onda de frio intenso

Raíssa Oliveira
raoliveira@hojeemdia.com.br
18/05/2022 às 19:23.
Atualizado em 18/05/2022 às 19:44
Com a chegada das baixas temperaturas, Zoológico de BH adota uma série de cuidados com os animais. (Divulgação / FZB-BH)

Com a chegada das baixas temperaturas, Zoológico de BH adota uma série de cuidados com os animais. (Divulgação / FZB-BH)

O que é melhor para se manter aquecido no inverno, deitar sob o sol ou se aconchegar em um ambiente quentinho? A dúvida que vem assolando muitos belorizontinos esta semana, que registra dias gelados e mínimas em torno de 7º C na capital, também mudou a rotina dos animais do zoológico de BH. Biólogos, veterinários e tratadores deram início a uma força-tarefa para manter o conforto térmico de cerca de quatro mil "moradores" da instituição, entre peixes, répteis, aves e mamíferos.

Ao todo, são 235 espécies diferentes de animais silvestres que precisam de cuidados específicos contra o frio. A derrubada nos termômetros ameaça, por exemplo, a saúde de animais idosos e de filhotes, além de mudar o metabolismo dos répteis, que precisam de aquecedores para continuarem a se alimentar e não morrerem de frio ou fraqueza extrema.

Como medidas para garantir o bem-estar dos animais, além de aquecedor elétrico, funcionários usam feno, alimentação especial e até barreiras para dar maior conforto aos bichos.

No entanto, essa estratégia não é adotada para todos. Exemplo disso são os grandes felinos, que não se incomodam com a variação térmica que fez muita gente tirar casacos do armário. Hipopótamos, que têm o hábito de ficar dentro da água, e elefantes também são mais resistentes e acostumados a ambientes gelados. 

Répteis

No recinto das cobras, além de aquecedores, lâmpadas que emitem calor foram instaladas. (Fernando Michel)

No recinto das cobras, além de aquecedores, lâmpadas que emitem calor foram instaladas. (Fernando Michel)

Entre os grupos de animais que vivem no zoológico de BH, as baixas temperaturas motivam uma atenção especial para os répteis, sobretudo as cobras. Segundo o biólogo da Fundação Zoobotânica (FZB) e responsável pela seção de répteis, Luiz Eduardo Coura, o cuidado mais rigoroso com os diversos tipos de cobras surge porque, diferentemente dos mamíferos, como os humanos, esses animais não conseguem controlar a temperatura do corpo.

"São um grupo à parte porque tem características fisiológicas e metabólicas diferentes dos mamíferos. A produção de calor é externa e, por isso, a temperatura do corpo varia de acordo com a do ambiente. Se eles estiverem em um ambiente de frio intenso, a temperatura vai cair a um ponto que pode se tornar perigoso e até letal", diz o especialista.

O biólogo conta que a variação de temperatura também ocasiona uma mudança de comportamento nos répteis. "É comum nesta época do ano encontrar sobra de comida, por exemplo, no recinto das tartarugas. Isso ocorre porque elas podem deixar de comer no frio ou ter dificuldades de digestão. Por isso os répteis precisam de temperaturas controladas para que todos os processos fisiológicos ocorram normalmente", afirma.

Luiz Eduardo Coura explica ainda que, no período de baixas temperaturas, a proporção de alimentos costuma ser alterada. "Dependendo da espécie, nós mudamos a forma e a quantidade (de comida) porque os répteis já possuem metabolismo mais lento e, durante o frio, costumam se alimentar com quantidades menores e em maior espaço de tempo. Essa adaptação da dieta é feita com base no comportamento do próprio animal e com supervisão de nutricionistas", pontua.

Para garantir temperaturas ideais a esse grupo de animais, outras três medidas são implementadas no frio. Parte do piso dos recintos é aquecido por meio de um sistema elétrico com controle de temperatura, que varia de 28 a 42º C. Os tratadores também colocam feno para tentar isolar os ambientes e lâmpadas especiais de cerâmica que emitem calor (sem luz) também são instaladas. É o caso do local onde está o dragão-barbudo, animal típico da Austrália.

De acordo com o biólogo, a fonte de calor é emitida em apenas alguns locais do ambiente, de forma a garantir diferentes possibilidades ao animal. "Essa variação de temperatura é muito importante. É preciso deixar o animal escolher onde ele quer ficar, proporcionando para ele tanto pontos frios quanto quentes".

Mamíferos

No inverno, alguns animais buscam o sol para se manter aquecido. (Fernando Michel)

No inverno, alguns animais buscam o sol para se manter aquecido. (Fernando Michel)

A situação no zoo de BH é diferente para cerca de 120 mamíferos de 41 espécies. Se, para os répteis, a ordem é reduzir a alimentação, para outros animais é necessário reforço na dieta. A bióloga da Fundação Zoobotânica e responsável pela seção de mamíferos, Valéria do Socorro Pereira, explica que essas espécies precisam manter a temperatura do corpo e, para isso, gastam mais energia.

"Os mamíferos se alimentam melhor no frio. Então é comum ter que aumentar a quantidade de comida. Mas tudo passa pelo nutricionista para ser balanceado e os animais não terem ganho de peso. Alguns animais, como os gorilas, têm a introdução de chá na dieta, caso apresentem crises de espirro ou coriza", conta a especialista.

Os mamíferos também recebem feno nos ninhos e serragem nas "áreas de manobra" para que possam se esquentar mais, além de aquecedores externos nas áreas de alimentação, caso tratadores e biólogos julguem necessário. "Os ninhos têm uma atenção reforçada nesse período porque muitos animais gostam de deitar e se enrolar para dormir. Algumas espécies se juntam para passar a noite. Mas sempre colocamos feno e capim à disposição, que eles utilizam de substrato para fazer a cama. A serragem também é utilizada no piso das áreas de manobras para diminuir o frio onde os solos são de concreto", afirma Valéria Pereira.

Enquanto uns gostam de se esconder, outros preferem se esquentar no sol. Por isso algumas medidas preventivas são tomadas para possibilitar essa prática importante durante o frio. "Tomamos o cuidado de combinar com o (setor de) Jardim Botânico para que faça poda das árvores nesta época do ano, para que não bloqueiem os raios solares e a entrada da luminosidade nos recintos. Assim, eles podem tomar sol durante o dia", finaliza a bióloga.

Aves

Níveis calóricos da alimentação são reforçados durante o frio. (Fernando Michel)

Níveis calóricos da alimentação são reforçados durante o frio. (Fernando Michel)

No caso das aves, o cuidado precisa ser ainda mais especial para tentar bloquear as rajadas de ventos gelados que atingem os recintos. Além disso, os ninhos são reforçados com feno para que possam se aquecer. A bióloga responsável pela seção de aves, Márcia Procópio, revela que, no tempo de frio, é comum que os animais fiquem mais agrupados, formando uma barreira de aquecimento entre eles.

"Para elas se protegerem do frio e dos ventos, elas fecham as asas mantendo um ar mais quente próximo ao corpo. Porém quando a corrente de ar fria é muito intensa, esse calor não consegue ser mantido e, por isso, a gente toma algumas medidas. Construímos abrigos onde não chega corrente de ar e estamos colocando feno na base desse abrigo para ajudar no aquecimento. Colocamos barreiras e utilizamos folhas compridas, como as de coqueiro, para criar uma espécie de cortina e cortar a corrente de ar muito frio", explica a especialista.

Com a queda brusca de temperatura nesta semana, a bióloga conta que foi necessário reforçar ainda mais o contingente. "Este ano, além dos abrigos, nós vamos utilizar uma tela de sombreamento para quebrar o vento. Isso será implementado para as aves que não estão usando os abrigos", detalha.

Assim como os mamíferos, a alimentação das aves também será reforçada para que os bichos tenham mais calorias para gastar no frio. Como os humanos, esses animais também sentem necessidade de ampliar a alimentação com temperaturas baixas.

"Nesta época, as aves que têm castanhas na dieta, nós costumamos aumentar o número desse alimenbto, não excedendo para que não possa causar nenhum mal nutricionalmente, mas a gente prioriza no enriquecimento alimentar para ajudar na produção do óleo que será queimado para produzir calor", diz a bióloga.

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