Jogos on-line, telemedicina, carros e cidades inteligentes. A chegada da quinta geração (5G) da internet cria novas oportunidades de serviços e com mais velocidade. Mas quem vai conseguir ter acesso à tecnologia? E quando essas novidades vão estar, de fato, acessíveis a todos?
O professor do departamento de Ciências da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), José Marcos Silva Nogueira, explicou que a tecnologia fica mais barata com o tempo. E que, desta forma, não será de imediato que a maior parte dos consumidores vai sair correndo para trocar de aparelho e usar a nova banda.
De acordo com o especialista, o mercado enfrenta ainda algumas dificuldades, como a falta mundial de microprocessadores (chips) e o câmbio desfavorável ao real, o que impacta diretamente o preço dos aparelhos compatíveis com o 5G.
Mas, dentro de pouco tempo, a internet vai trazer uma revolução. Ela segue a evolução da tecnologia do celular e vai oferecer maior velocidade para enviar e receber dados, com maior confiabilidade, explicou o professor.
"Em casa você usa a rede interna de internet e consegue ver um filme em alta velocidade; com o 5G, vai poder assistir também no celular com maior velocidade, vai poder baixar um arquivo mais rapidamente", exemplificou.
E a quinta geração da internet vai mudar também a agropecuária, com equipamentos mais sofisticados que usam mapeamento por georeferenciamento (GPS) e acesso remoto. Outra possibilidade de aplicação são os carros inteligentes.
A vencedora do lote da faixa de 700 Mhz (usada para distribuir o 5G e melhorar a cobertura do 4G) terá de cobrir 31.417 mil km de rodovias federais com sinal de internet móvel 4G ou superior.
O edital também prevê que parte do ágio (valor superior ao da oferta do edital) seja aplicado em mais 4.367 km, chegando a um total de 35.784 km, que deverão ter cobertura de internet móvel.
Novas possibilidades
O 5G vai permitir que um número maior de dispositivos esteja on-line ao mesmo tempo, cobrindo distâncias maiores, no caso da faixa de 700 Mhz, o que diminui as áreas com "apagões de internet nas estradas, que são comuns hoje.
Nas cidades inteligentes, o aumento do fluxo de dados e de interações também pode tornar mais eficiente o uso estratégico de infraestrutura, de serviços de informação e de comunicação e também o planejamento e a gestão urbana.
Órgãos de gerenciamento viário serão capazes de calcular, em tempo real, quantos carros estão em determinado trajeto e adotar medidas como alterar o tempo de abertura dos sinais nas vias de maior movimento, por exemplo, para facilitar a vida dos pedestres.
Claro, que, para que isso aconteça, será preciso que os veículos também sejam mais tecnológicos e estejam conectados – o que esbarra, de novo, na falta de chips e no preço alto dos veículos mais novos.
O uso do 5G também cria a possibilidade das administrações municipais fazerem medições e coletas de dados de água e luz, por exemplo, remotamente. "Em uma cidade inteligente, a prefeitura poderá controlar as lâmpadas nas ruas e até a intensidade da iluminação pública", disse o professor. A nova tecnologia traz a possibilidade de monitoramento de enchentes, instalação de sensores em encostas que podem evitar tragédias, gerando alertas.
José Marcos Silva Nogueira destacou que a nova tecnologia também vai influenciar os procedimentos médicos. "No caso de cirurgia remotas, um especialista que está fisicamente longe do paciente vai poder ver o campo cirúrgico. E vai fazer movimentos com as mãos, que serão reproduzidos por equipamentos robóticos , quase em tempo real – a resposta será em microssegundos", afirmou.
Outra novidade é que, no caso de haver um acidente, por exemplo, os bombeiros poderão ir trocando informações sobre o socorro à vítima, durante o atendimento e o transporte até o hospital, ilustrou o especialista. “E não vai ter que competir com o uso da internet por pessoas que estão assistindo a vídeos de gatinhos”, afirmou José Marcos.
Além disso, como o 5G tem redes virtuais específicas, o Corpo de Bombeiros pode ter uma só dele, com prioridade. "Um jogo no Mineirão, por exemplo, onde quase todos os torcedores estão usando o celular, pode haver uma rede específica para a partida, de forma que todos possam enviar e receber dados, sem comprometer a qualidade do serviço", ressaltou o especialista.
A infraestrutura é comum e os operadores constroem as redes específicas, continuou o professor. "As operadoras podem lançar novos serviços sob demanda. Hoje isso não é possível, é preciso levar antenas etc. Com o 5G não será preciso levar equipamentos. É tudo por software", esclareceu.
Nas casas inteligentes, os aparelhos domésticos automatizados, que já são uma tendência inevitável, como já acontece em países mais ricos. Mas sem os semicondutores, que são os principais componentes dos aparelhos, o uso ainda vai demorar para se popularizar.
E ainda é preciso considerar outros problemas como o consumo de energia e o tempo de uso de bateria, que é um grande problema que não tem uma solução tão rápida. "O 5G é mais eficiente em tráfego de dados. Então, o uso de bateria pode ser maior. E bateria vai ser um problema eterno", alertou José Marcos.
Outra grande expectativa é a ampliação da oferta de internet nas periferias, vilas e favelas, que geralmente sofrem com a falta de infraestrutura. E o 5G, disse o professor, oferece a chance de uso de redes de wi-fi mais eficientes, que dispensam o uso de cabos.
“Mas tudo isso tem um custo. A taxa comum de dados do celular é cara. Temos de ver como será o comportamento das operadoras, já que o uso de dados tende a crescer”, esclareceu José Marcos Silva Nogueira.
A expectativa é que em dois anos boa parte da população já tenha acesso ao 5G, em localidades de alta densidade demográfica. “Em periferias não dá pra avaliar ainda quando haverá disponibilidade do serviço.”
José Marcos deu um recado para os usuários: "Ninguém precisa sair correndo para comprar um novo aparelho 5G, porque as coisas vão vir devagar. E, se não houver uma corrida, os preços devem cair mais rápido".
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