Bem-Estar

Deixar de comer feijão pode aumentar em 20% o risco de desenvolver obesidade, mostra estudo da UFMG

Raquel Gontijo
raquel.maria@hojeemdia.com.br
22/02/2023 às 21:01.
Atualizado em 22/02/2023 às 21:30

Retirar o feijão da dieta pode parecer uma atitude que favorece a perda de peso, mas gera efeito contrário, segundo estudo da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Na pesquisa, um grupo de voluntários que não consumiu feijão teve 10% mais chance de desenvolver sobrepeso e risco 20% maior de obesidade. Por outro lado, aqueles que consumiram a leguminosa de forma regular, durante cinco ou mais dias da semana, tiveram cerca de 15% menos chance de apresentar excesso de peso e obesidade.

De acordo com a nutricionista Fernanda Serra Granado, responsável pelo estudo, além de ser um dos símbolos da alimentação tradicional do brasileiro, o feijão é um importante indicador da qualidade nutricional da dieta e elemento essencial para a manutenção da segurança alimentar.

“É garantia do cidadão brasileiro o direito a uma alimentação de qualidade. No entanto, sabe-se que nem todos possuem alternativas para manter uma dieta equilibrada e, nesta questão, o feijão possui inestimável valor social para os brasileiros”, afirmou a pesquisadora da UFMG.

Para a realização da pesquisa, foram coletados dados do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), que incluíam mais de 500 mil adultos, que foram acompanhados de 2009 a 2019, por meio de entrevistas telefônicas.

Os participantes foram divididos em quatro grupos segundo a frequência de consumo semanal de feijão: não consumiam (zero dia por semana), baixo consumo (um a dois dias por semana), consumo moderado (três a quatro dias por semana) e consumo regular (cinco a sete dias por semana). A análise mostrou que o consumo regular de feijão é o mais indicado para um bom estado nutricional. Os dados foram ajustados para diversas variáveis, incluindo as comportamentais.

Menos feijão no prato
A diminuição do consumo dessa importante leguminosa entre os brasileiros vem gerando alarde entre os profissionais da saúde. Outra linha do estudo da UFMG analisou o consumo de feijão de 2007 a 2017 e identificou uma tendência preocupante de queda. A estimativa é que, em 2025, o brasileiro deixe de comer feijão de forma regular, passando a prevalecer o consumo considerado não regular, de um a quatro dias por semana.

No estudo por sexo, os cientistas constataram que, desde 2022, as mulheres já são maioria no grupo de consumo não regular da leguminosa. Entre os homens, a estimativa é que a alteração ocorra em 2029.

De acordo com Fernanda Serra Granado, algumas hipóteses podem explicar a disparidade dos resultados entre os sexos, como a jornada dupla de trabalho das mulheres, que dificultaria a preparação de alimentos naturais ou minimamente processados em casa, além da oscilação nos preços e a conveniência dos alimentos ultraprocessados e prontos para o consumo.

Ultraprocessados
Ainda conforme a nutricionista, a substituição de alimentos naturais ou minimamente processados por ultraprocessados modifica o perfil alimentar da população, trazendo uma piora na qualidade da dieta e gerando fragilidade na cultura alimentar brasileira.

"A mudança de perfil alimentar se deve a praticidade que os ultraprocessados oferecem ao dia a dia, então, pela falta de tempo, muitos optam por produtos prontos ou fáceis de serem preparados”, disse Fernanda.

A oscilação no preço do feijão também possui papel fundamental na troca por alimentos prontos. A instabilidade acontece devido à inflação, consequência da priorização de produtos agrícolas considerados mais lucrativos no mercado nacional e internacional. Desta forma, a agricultura familiar ou de pequena escala fica em segundo plano, e o feijão, por sua vez, acaba se valorizando nas prateleiras dos supermercados, de acordo com a pesquisadora.

Além disso, o estudo discute que há um sistema alimentar que influencia o perfil de consumo da população. “Em outras palavras, o padrão alimentar dos brasileiros é motivado por fatores externos, como propagandas publicitárias de ultraprocessados e disponibilidade, variedade e preço dos alimentos saudáveis”, pontuou a nutricionista.

Ela sugeriu a implantação urgente de medidas regulatórias e fiscais para uma alimentação saudável, juntamente com a taxação de ultraprocessados e a adequações na rotulagem dos alimentos.

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