Em ano avassalador de dengue, combate aos focos do mosquito nas casas ainda é o desafio

Bruno Inácio
02/12/2019 às 18:35.
Atualizado em 05/09/2021 às 22:53
 (Cíntia Almeida/ Divulgação )

(Cíntia Almeida/ Divulgação )

Com mais de 115 mil casos de dengue registrados em 2019, Belo Horizonte tem um entrave na luta contra a dengue: os focos do mosquito em residências. Recipientes que acumulam água em lotes e moradias correspondem a 80% dos focos da doença, que matou 30 pessoas somente este ano na capital.

É uma luta difícil, segundo as forças de controle de endemias, mas que passa também pela conscientização de quem está mais perto dos focos: o morador. Todos os dias, cerca de 15 mil pontos são vistoriados pelos agentes da prefeitura, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. Mesmo assim, a população sofre com situações que parecem não ter solução. No bairro São Bernardo, região Norte da cidade, lotes vagos acabam sendo usados como depósitos de lixo, às margens da avenida Cristiano Machado e próximo ao aeroporto da Pampulha.

No prédio onde vive a família da vendedora Michelle Regina Pereira, de 37 anos, mais de 10 moradores já pegaram dengue. Um lote atrás da casa dela, na rua José Amâncio Ferreira, é foco antigo de doenças que preocupa quem vive lá. “Já fizemos reclamações diversas, mas a prefeitura alega que eles não sabem quem é o dono, mas que o dono também não são eles. É mato puro, com muita garrafa de vidro, tinha até sofá, balde”, comentou a vendedora.

A prefeitura reconhece o problema. Diz que já fez visitas ao local, inclusive com limpezas de profissionais da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), mas que está com dificuldade de notificar o dono do local, que é responsável pelo espaço, pois ele ainda não foi localizado pelas equipes da regional.Cíntia Almeida/ DivulgaçãoVizinhos flagram possíveis focos de dengue 

Situação parecida é compartilhada por comerciantes e moradores da rua Gonçalves Dias, no bairro Serra, região Centro-Sul da capital. Há cerca de seis meses, uma obra de demolição começou a ser feita nos arredores e focos do mosquito começaram a ser vistos pelos vizinhos. Um deles, o engenheiro João Victor de Melo, de 24 anos, pegou dengue e acredita ter sido picado pelo mosquito na região. “Tive dengue há mais ou menos três meses e como eu passo a maior parte do tempo aqui no trabalho e nunca vi focos de dengue perto de minha casa, acredito que tenha pegado a doença aqui”, afirmou.

Já a arquiteta Cintia Almeida, de 43 anos, diz que há cerca de um mês fez a denúncia no portal da prefeitura e que, de fato, houve movimentação na obra. “A gente tem um escritório que dá fundo pra esses dois lotes. Quando a obra de demolição parou, ficaram entulhos e outras coisas em lugares propícios para serem focos da dengue. Foi quando fiz a denúncia”, contou.Cíntia Almeida/ DivulgaçãoEntulhos na vizinhança se tornam o foco perfeito para o mosquito da dengue 

Segundo a prefeitura, houve notificação aos responsáveis pela obra após a denúncia e, em caso de reincidência, os donos podem ser multados. Mesmo com as visitas dos agentes de saúde, os vizinhos podem denunciar se novos focos forem vistos nos locais. 

Problemas

O secretário municipal de Saúde Jackson Machado Pinto diz que, para mitigar este tipo de problema, novas estratégias serão usadas pela prefeitura em 2020. Dentre elas, a adoção de drones capazes de verificar focos do mosquito em áreas de difícil acesso.

“Estes drones são capazes de identificar, por exemplo, a quantidade de água nos reservatórios nas lajes e, ali, serão jogados os inseticidas. Temos também a colocação dos mosquitos com a bactéria wolbachia que estarão em circulação até fevereiro”, disse.

Os insetos com a bactéria ficam incapazes de transmitir doenças. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, enquanto isso, as visitas aos domicílios continuarão de forma rotineira e a população pode ajudar com denúncias pelo telefone 156 ou no aplicativo da PBH.

“Visitas direcionadas são realizadas em caso de denúncias e o dono do imóvel pode ser penalizado em caso de reincidência”, informou a secretaria. 

Conscientização

Assim como a administração municipal, o governo de Minas também vê os flagrantes em residências e lotes como um grande entrave ao combate da doença. Em 242 cidades mineiras, os criadouros de mosquitos identificados estão acima do limite aceitável, conforme indica a Secretaria Estadual de Saúde (SES).

Por isso, a pasta afirmou ao Hoje em Dia que está veiculando em canais de imprensa e redes sociais uma campanha de conscientização com a temática “Quando você culpa o vizinho, o mosquito ganha terreno”. A ideia é fazer com que o máximo possível de pessoas tenham a noção de que o não cuidado com o vetor é a maior causa de proliferação da doença.

“As pessoas precisam entender que, muitas vezes, o vetor está dentro de casa. Então, podem se ajudar criando uma rede de proteção. Quando vizinhos conversam entre si, a conscientização é mais eficaz que a do poder público, pela relação de proximidade”, afirmou Márcia Ooteman, coordenadora do Programa Estadual de Controle das Doenças Transmitidas pelo Aedes.

Em 2019, até o momento, Minas Gerais registrou 484.779 casos prováveis de dengue e 153 óbitos em 47 municípios. Outras 94 mortes com suspeita da doença são investigadas.

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