Hub de hardware da Jabil é inagurado em Betim, na região metropolitana (Jabil Brasil / Divulgação)
Se antes a propaganda era a alma do negócio, hoje é a inovação, porque além de lançar novos produtos, ela também ajuda a promover modelos de negócios, a criar serviços que tornam a vida mais fácil e a fazer com que essas novidades alcancem um grande número de consumidores ou usuários.
E criar algo inédito, desenvolver a ideia do zero e fazer com que ela se torne escalonável, ou seja, que alcance um grande número de pessoas, não é tarefa fácil. Demora e custa caro.
O professor de Ciência da Computação da Universidade Católica de Minas e coordenador da PUC Tec, diz que todo aluno de engenharia tem que fazer um trabalho de conclusão de curso para se formar. “E esses TCCs, muitos deles brilhantes, acabam no fundo da gaveta: os profissionais acabam sendo absorvidos pelo mercado, porque não conseguem recursos para desenvolver as ideias e nem ter acesso à tecnologia. E tirar os projetos do papel é o caminho do mercado” - explica o especialista.
Hub de hardware
Nesta terça-feira, um Centro de Inovação da americana Jabil foi lançado na sede da empresa, no Porto Seco, em Betim, na região metropolitana. O Hub de inovação de hardware vai dar suporte técnico desde a ideação de um produto, até a prototipagem e a produção em escala. Com capacidade para receber 50 startups, o serviço será sem custo para o empreendedor que for selecionado no segundo semestre.
"Queremos conectar startups, centros de pesquisa, universidades. E atuar como uma ponte, para que tenham acesso a fornecedores globais" - afirma o diretor de negócios da Jabil, Christiano Porto.
Hub de Hardware da Jabil Brasil em Betim tem capacidade para receber 50 startups (Jabil Brasil / Divulgação)
As empresas interessadas em desenvolver algum tipo de produto ou equipamento criam uma demanda, com um desafio para startups que quiserem desenvolver aquela solução. Essas empresas focadas em tecnologia pegam uma ideia e engenheiros da empresa vão avaliá-la, ver as possibilidades tecnológicas de produção, ver o tipo de material, vão ajudar a criar os protótipos e ver a viabilidade de produção em larga escala.
"Temos clientes que começaram como startups e hoje têm point of sail global (venda) global" - diz a diretora de operações da Jabil em Betim, Míriam Barbosa.
O que a empresa ganha com isso?
O economista Pedro Almeida explica que, geralmente, quem está começando terceiriza o desenvolvimento do protótipo, mas é um processo caríssimo, que pode dar errado e o empreendedor tem de recomeçar do zero. Outras vezes, o produto é tecnicamente viável, mas os custos não compensam.
E a Jabil, ao acompanhar os desenvolvedores desde o início, pode avaliar a solidez do projeto e até pensar em investir. Os empreendedores, pela afinidade com a empresa, podem pensar também em produzir na fábrica em Betim.
Pedro, que é fundador do Raja Valley, um Hub de inovação privado, que conecta empreendedores, investidores, instituições de ensino, mercado de inovação, e da Arkad Ventures, um grupo que já é dono de mais de seis empresas e de uma operação de mais de R4 450 milhões, diz que hoje só investe em projetos universitários.
Arkad Ventures investe em projetos de universidades,desenvolvidos no laboratório de Prototipagem da UEMG (Arkad Ventures / Divulgação)
Investimentos
O cenário é muito bom para o chamado Capital Venture, uma modalidade de investimento focada em empresas de até médio porte, que possuem alto potencial de crescimento, mas ainda são muito novas e têm faturamento baixo. A pandemia ajudou a dissipar a concentração de investimentos. Pela primeira vez, afirma o especialista, a Califórnia (nos EUA) deixou de concentrar 50% do capital de venture capital. E investidores estão buscando locais com menor custo de vida e maior oferta de mão de obra qualificada.
“Minas tem custo de vida bem mais acessível do que São Paulo e está a uma hora de voo. E tem mão de obra qualificada e disponível. E entendo que a estatística global, que esse movimento também atinge o Brasil” - pondera. “E o hardware está na mira de quem quer investir.”
A Jabil foi criada em Michigan, nos Estados Unidos, e começou modesta, operando de forma improvisada em uma cozinha. Hoje, tem mais de cem fábricas em vários países e 260 mil funcionários.
Inovação em Minas
Segundo a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Sede), o número de startups está crescendo no estado, saltando de 365 empresas registradas em 2015 para cerca de 1.250 em 2022, aumento de 242%.
Aos poucos, grandes empresas e universidades começaram a entender o papel fundamental de criar espaços para que as pessoas possam experimentar e desenvolver grandes ideias. A Federação das Indústrias de Minas Gerais, por exemplo, mantém no Centro no bairro Horto, FIEMG Lab.
Por meio de um programa de aceleração de startups, eventos sobre tendências no uso da tecnologia, conexão com investidores e pontes com as universidades, os sindicatos e os ecossistemas de startups brasileiros, o hub aproxima as empresas da inovação das startups. Essas são menores, e errar e recomeçar custa bem menos do que uma grande indústria.
A parceria com startups é um caminho sem volta para as grandes empresas. E a pandemia também serviu como impulso para as grandes empresas se atualizarem. “Não dá mais dá mais pra ficarem paradas” - finaliza Pedro Almeida.