Saúde

Faltam mais de 100 pediatras na rede pública de BH

Gabriel Rezende
grezende@hojeemdia.com.br
Publicado em 23/07/2022 às 07:29.
Pacientes relatam demora para atendimento pediatrico em UPAs de BH (Maurício Vieira / Hoje em Dia)

Pacientes relatam demora para atendimento pediatrico em UPAs de BH (Maurício Vieira / Hoje em Dia)

Unidades de saúde lotadas e profissionais sobrecarregados são reflexos da falta de pediatras, problema que tem se tornado crônico na rede pública. Em Belo Horizonte, existem 360 vagas para a especialidade, mas só 259 estão ocupadas. A categoria afirma que faltam atrativos.

O déficit de 101 médicos - cerca de 30% a menos do que o necessário - tem obrigado ações emergenciais, como a concentração da assistência infantil em apenas três Unidades de Pronto Atendimentos (UPAs) aos fins de semana. O novo esquema já funciona há cinco semanas.

Na capital, pediatria está no segundo lugar entre as especialidades que mais precisam de contratação. Ao todo, são 562 solicitações em aberto. A maior demanda é para clínico geral. Ginecologista, cirurgião geral e cardiologista, respectivamente, completam a lista.

Segundo sindicatos, as condições de trabalho justificam o cenário. Os salários são incompatíveis com o mercado, diz a Sociedade Mineira de Pediatria (SMP). “Temos pediatras, mas com as baixas condições, não há procura”, afirmou o presidente da entidade, Cassio Ibiapina. 

O médico reforça o discurso de que os profissionais estão indo para a rede privada. "No fim dos anos 90 e no início do ano 2000, ocorreu escassez de pediatras. Mas o cenário mudou. A procura por residência para pediatra atualmente tem uma relação de três candidatos por vaga”, acrescenta. 

Atendimento
Durante os dias de semana, todas as UPAs contam com pediatras, segundo a prefeitura. No entanto, faltar profissionais, obrigando a suspensão do atendimento tem se tornado uma rotina, diz Ariete Domingues de Araújo, diretora do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais. “Ocorre praticamente todos os dias da semana”, afirmou. 

Sem profissionais, quem sofre os impactos é a população, que precisa lidar com superlotação nas unidades. “Várias crianças nesta situação estão sofrendo. Algumas podem agravar os problemas de saúde por não ter um atendimento ágil”, completou Cassio Ibiapina. 

A atendente de telemarketing Conceição Cilene, de 34 anos, desabafou enquanto aguardava na tarde dessa sexta-feria há uma hora e meia o atendimento da filha, Jamile Marcoline, de 1 ano e 8 meses, na UPA Barreiro. “Está demorando demais. Na hora que cheguei na recepção fizeram a ficha rápido porque o serviço de pediatria já ia encerrar". 

Vale lembrar que a UPA Barreiro é uma das que não possui atendimento pediátrico aos fins de semana. Com isso, Conceição, caso precisasse levar a filha para atendimento no sábado ou no domingo, precisaria ir à UPA Oeste. "Muito difícil", desabafa. 

A vendedora Thaís Gomes, de 29 anos, mãe de Isabelly Gomes, de 8 anos, admite que a falta de pediatras assusta com a possibilidade de precisar de atendimento e não conseguir ou demorar. “Dá muito medo”, afirmou.

O que diz a prefeitura
Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte informou ter “concedido aumento de 35% no valor dos plantões médicos extras em todas as unidades. O município também informa ter sido homologado o concurso público da área da saúde, em que foi publicada no Diário Oficial do Município (DOM), a convocação de 188 médicos aprovados”.

“Além disso, está ativo um banco de currículos para contratação imediata de médicos. Os interessados devem acessar o site da Prefeitura para realização do cadastro”, completou.

Sobre as condições de trabalho, o prefeito Fuad Noman disse, nessa sexta-feira, que a prefeitura oferece “salário competitivo” e “condições de trabalho adequada”.

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