PATRIMÔNIO PÚBLICO

Gastos com remoção de pichação já passam de R$ 190 mil em BH até agosto

Rodrigo de Oliveira
rsilva@hojeemdia.com.br
27/08/2022 às 14:00.
Atualizado em 27/08/2022 às 15:46
Até agosto de 2022, já foram gastos cerca de R$ 191 mil para limpar uma área total de quase 7 mil m² (Fernando Michel)

Até agosto de 2022, já foram gastos cerca de R$ 191 mil para limpar uma área total de quase 7 mil m² (Fernando Michel)

O jornalista Roberto Drummond está imortalizado na praça Diogo de Vasconcelos, na Savassi, região Centro-Sul de BH. Sua estátua, feita de bronze e em tamanho real, celebra o autor da obra "Hilda Furacão".

De tempos em tempos, porém, Drummond amanhece com rabiscos de tinta que só são entendíveis para quem estuda a fundo ou faz parte do universo da pichação.

Em agosto, um pichador deixou escritos em amarelo na parte da frente e nas costas da estátua. Em janeiro de 2015, a cabeça do escritor foi pintada de vermelho e, em dezembro de 2014, os olhos foram cobertos de tinta azul. Já em 2009, ela foi pintada também com tinta amarela.

Roberto Drummond, porém, não está sozinho nessa história. De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte, até agosto deste ano, a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) já removeu pichações em 42 pontos da capital. "Foram gastos cerca de R$ 191 mil para limpar uma área total de quase sete mil m²", informou a PBH.

Em 2021, foram gastos cerca de R$ 439 mil para limpar uma área de quase 16 mil m² e, em 2020, a PBH gastou cerca de R$ 262 mil para limpar quase nove mil m². Somados, são R$ 892 mil gastos em mais de dois anos para contornar o problema da pichação na capital.

"Os trabalhos concentram-se nos grandes corredores como as avenidas Cristiano Machado, Antônio Carlos, Teresa Cristina, Contorno, Nossa Senhora do Carmo e Andradas. Também atuamos nas demais vias de grande fluxo, onde as pichações possam causar impacto visual", disse a Prefeitura.

Casos dobraram em MG
A pichação é um crime previsto na Lei 9.605/98 e estabelece que o ato de pichar ou danificar a imagem de edificações ou monumentos públicos urbanos pode acarretar multa e pena de detenção, que varia de três meses a um ano.

Em BH, os casos de pichação são registrados pela Guarda Municipal e encaminhados à Divisão Especializada de Combate a Crimes Ambientais da Polícia Civil, a quem cabe investigar a autoria dos delitos e responsabilizar os autores.

(Fernando Michel)

(Fernando Michel)

"A Guarda Municipal já registrou 27 ocorrências até agosto deste ano. Em 2021, foram 44 e, em 2020, tivemos 40 ocorrências. A região Centro-Sul é a que concentra mais registros", informou a PBH.

De acordo com a Secretaria de Estado de Justiça de Minas Gerais (Sejusp), o número de casos de pichação dobrou no Estado. "Em 2021, registramos 24 casos entre janeiro e abril e, em 2022, registramos 42 nesse mesmo período. Ao todo, foram registrados 88 casos em 2021".

Já em Belo Horizonte, os casos triplicaram. "Em 2021 tivemos sete casos entre janeiro e abril e, em 2022, já temos 21 casos. Ao todo, foram registrados 36 casos na capital em 2021", informou a Sejusp.

A pichação é um crime previsto na Lei 9.605/98 e acarreta multa e pena de detenção que varia de três meses a um ano (Maurício Vieira/Hoje em Dia)

A pichação é um crime previsto na Lei 9.605/98 e acarreta multa e pena de detenção que varia de três meses a um ano (Maurício Vieira/Hoje em Dia)

De acordo com a Secretaria, "é importante pontuar que os dados se referem ao número de pessoas levadas à Polícia Civil para apresentação ao delegado, que é o responsável por avaliar e tomar as providências. Portanto, são números de conduzidos e não de presos".

Forma de protesto
Segundo a historiadora Regina Alves da Silva, ex-professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e que já orientou dissertação de mestrado sobre pichação em Belo Horizonte, após participar de várias rodas de conversa com pichadores, ela acabou entendendo o ponto de vista dessas pessoas.

"A pichação é usada por esses grupos, geralmente periféricos, para denunciar a exclusão com a qual convivem todos os dias. O local em que moram não é limpinho, é repleto de conflitos com os quais a população de maior poder aquisitivo e o Estado não estão preocupados", disse a especialista.

Para estudiosa, pichação "é uma forma de pessoas marginalizadas chamarem a atenção para problemas e conflitos" (Maurício Vieira/Hoje em Dia)

Para estudiosa, pichação "é uma forma de pessoas marginalizadas chamarem a atenção para problemas e conflitos" (Maurício Vieira/Hoje em Dia)

Sobre o fato de as pichações serem feitas em locais simbólicos, como a Praça da Savassi, ela explicou que isso também tem um significado. "Mesmo que o pichador não saiba quem foi Roberto Drummond, ele sabe que aquele local é importante para a população. Então, ele picha justamente ali pois sabe que vai causar um impacto", afirmou Regina da Silva.

Para ela, a pichação causa estranheza porque as pessoas não entendem o significado dela. "Cada pichador tem seu alfabeto próprio e consegue se comunicar entre si por meio dos escritos. O resto da população se assusta e vê como vandalismo pois não consegue interpretar aquilo. É diferente do grafite, que é visto como arte e é aceito socialmente", disse a historiadora.

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