Um está no hospital. O outro, no radar do Barcelona. Os ponteiros do relógio giraram em ritmos totalmente diferentes para Judivan e Maurício Lemos desde que os caminhos dos dois jovens jogadores se cruzaram, no Mundial Sub-20 da Nova Zelândia. Pouco mais de um ano depois da falta que tirou o atacante brasileiro dos gramados por tempo indeterminado, o zagueiro uruguaio resolveu enfim quebrar o silêncio em entrevista ao Hoje em Dia.
O retorno ao contato da reportagem aconteceu exatamente no dia em que o atleta do Cruzeiro foi submetido a uma mais cirurgia no joelho esquerdo – a quinta no período. A expectativa é que Judivan receba alta do hospital Albert Einstein, em São Paulo, nesta sexta-feira (15). "Estou torcendo por ele. Sei que vai melhorar e voltar a jogar", afirma Lemos, em bom português.
Com poucas palavras, e sem externar com todas as letras um pedido de desculpas, o uruguaio lamenta o lance, mas diz ter a consciência tranquila. "Eu, em nenhum momento durante uma partida, quis ferir a ele, nem a qualquer outro jogador. Isso que se passou com Judivan podia ter acontecido comigo também. No futebol, nós corremos esse tipo de risco", ameniza (assista ao lance abaixo).
"As pessoas que andam falando mal de mim fazem isso porque não me conhecem, não sabem como sou", defende-se o uruguaio, hostilizado até hoje por muitos cruzeirenses. Nas redes sociais, mensagens revoltadas se misturam a súplicas dos torcedores do Unión Deportiva Las Palmas para que o atleta siga no clube, enquanto adeptos blaugranas mostram entusiasmo com a especulação.
O uruguaio nega que tenha se mantido indiferente à lesão do brasileiro, como poderia sugerir o longo silêncio sobre o assunto. "Fui o primeiro a perguntar diretamente a ele como estava depois daquela partida. Depois, falei com ele por mensagem, e me lembro que também conversei com Gabriel Jesus (parceiro de ataque de Judivan no Mundial) para saber notícias. Não quis fazer nada em público porque sou um homem reservado. Preferi que isso tudo ficasse na intimidade", justifica.
Antes de se despedir, Lemos atende ao pedido do HD e deixa um recado para Judivan. "A mensagem é clara. Que ele possa voltar com tudo e o quanto antes for possível. Que não pense que aquilo que aconteceu foi de propósito. E que tenha muita fé em Deus", conclui.
Ascensão milionária
Os 12 meses transcorridos após o Mundial Sub-20 foram suficientes para o zagueiro deixar Montevidéu, cruzar o Atlântico e chegar aos olhos e ouvidos dos dirigentes culés. Um enorme salto para quem, até hoje, disputou apenas 26 partidas como profissional e nove pela seleção de base.
Formado no Defensor, Lemos foi emprestado ao Rubin Kazan por um ano e chegou a disputar um jogo da Liga Europa já na temporada 2015/16. Ainda no início do vínculo, os russos decidiram exercer o direito de compra e contrataram o jogador de forma definitiva, por 400 mil euros (R$ 1,4 milhão).
A situação se repetiu na ida para a Espanha. Cedido ao Las Palmas por um ano, a partir de janeiro, Lemos estreou justamente contra o Barcelona, no Campeonato Espanhol. E, ainda nos primeiros meses de contrato, foi comprado pelo Unión por 2 milhões de euros (R$ 7,2 milhões).
Antes mesmo da primeira janela de transferências, o uruguaio despertou o interesse dos catalães. A ideia era repassá-lo por empréstimo a outra equipe para adquirir experiência, uma vez que o clube também negociava com nomes de peso para o setor, como Marquinhos (PSG), Laporte (Athletic Bilbao) e Samuel Umtiti (Lyon), este último já contratado.
O negócio, porém, não foi fechado. O Las Palmas ficou insatisfeito não apenas com a oferta de 4 milhões de euros (R$ 14,3 milhões), mas também com a postura do clube catalão, acusado de aliciamento. Segundo a imprensa espanhola, o valor poderia chegar a 12 milhões de euros (R$ 43 milhões), mas o Unión só aceitaria liberar o zagueiro por um valor mais próximo ao fixado na cláusula de rescisão: 30 milhões de euros (R$ 107 milhões).
Prejuízo
O caso de Judivan e Lemos reabriu o debate sobre penalidades contra faltas duras e, principalmente, acerca da responsabilidade por atletas cedidos pelos clubes às seleções.
Além do drama pessoal e profissional, tanto o atacante quanto o Cruzeiro amargam a desvalorização após um início promissor. Gabriel Jesus, por exemplo, já rendeu ao Palmeiras propostas na casa dos R$ 80 milhões (leia abaixo o rumo trilhado pelos jogadores que enfrentaram o Uruguai).
— Diário Celeste (@DiarioCeleste) 8 de julho de 2016Para quem não viu, esse foi o lance da lesão do Judivan, claramente maldade do cara né.#ForçaJudivan ⚪️ pic.twitter.com/7vU4d5sNIm