Chacina de Unaí

Julgamento de Antério Mânica entra na reta final após apresentação de imagens e áudios

Gabriel Rezende
grezende@hojeemdia.com.br
26/05/2022 às 13:04.
Atualizado em 26/05/2022 às 15:34
Julgamento do ex-prefeito de Unaí Antério Mânica ocorre na sede da Justiça Federal em Belo Horizonte no bairro Santo Agostinho  (Gabriel Rezende / Hoje em Dia)

Julgamento do ex-prefeito de Unaí Antério Mânica ocorre na sede da Justiça Federal em Belo Horizonte no bairro Santo Agostinho (Gabriel Rezende / Hoje em Dia)

O julgamento de Antério Mânica, acusado de ser mandante da Chacina de Unaí, entra na reta final. Nesta quinta-feira (26), os sete jurados sorteados para decidirem pela condenação ou absolvição do fazendeiro assistiram vídeos, fotos e áudios envolvendo a tocaia que culminou no assassinato de três auditores fiscais do traballho e um motorista em janeiro de 2004, na cidade da região Noroeste de Minas. 

Após a apresentação do material, ao longo da tarde, o réu Antério Mânica prestará depoimento. Em seguida, haverá o debate final entre a acusação e a defesa. Na sequência, os jurados vão se reunir e votar. Depois a juíza Raquel Vasconcello estabelecerá a sentença, o que deve ocorrer na sexta-feira (26). 

Entre os conteúdos apresentados aos jurados estão interceptações de ligações telefônicas de conversas de Antério com seu irmão Norberto Mânica. Também foram apresentados vídeos dos depoimentos dos 'pistoleiros' responsáveis pelos assassinatos e reportagens sobre o caso. 

Ligações telefônicas feitas por um telefone de Antério para a cidade de Formosa (GO), onde morava um dos atiradores, é uma das principais provas do Ministério Público do Trabalho (MPF) contra o fazendeiro e ex-prefeito de Unaí. 

Depoimentos prestados no julgamento em 2015, que condenou Antério a 100 anos de prisão — sentença anulada três anos depois — também foram apresentados.

Um deles é o de Dênis Mendes Teixeira, que trabalhou com o contador da família Mânica. Ele afirmou que o auditor Nelson José da Silva, uma das vítimas do crime, fiscalizava documentos de funcionários de uma fazenda de Antério dias antes de ser morto.

Também foi lido um relatório produzido por Nelson que citava "alojamentos ruins e bichos em alimentos" em uma das fazendas de propriedade da família Mânica. O auditor era o alvo principal do crime — os outros dois auditores e o motorista foram assinados porque não se separavam de Nelson, explicou um dos atiradores. 

Nos dois primeiros dias de julgamento, foram ouvidas 19 testemunhas; 14 de acusação, sendo dois réus confessos, e cinco de defesa — um dos depoentes da defesa foi dispensado. 

Chacina 

Em 28 de janeiro de 2004, os auditores João Batista Soares Lage, Nelson José da Silva e Erastótenes de Almeida Gonçalves e o motorista Ailton Pereira de Oliveira foram assassinados com tiros à queima-roupa, após uma emboscada na região rural de Unaí. 

À época, o trio investigava denúncias de trabalho escravo que estaria acontecendo em fazendas da região. O crime ficou conhecido como Chacina de Unaí.

As primeiras prisões envolvendo o caso só ocorreram em 2013, uma década após os assassinatos. Na ocasião, três pessoas — Rogério Alan, Erinaldo Silva e William Gomes — acusadas de serem “pistoleiros”, foram condenadas a penas que, juntas, somam 226 anos de prisão.

Os intermediários do crime, segundo a acusação, eram os empresários Hugo Alves Pimenta e José Alberto de Castro. Os dois confessaram o crime e foram condenados.

O ex-prefeito de Unaí Antério Mânica e o irmão dele, Norberto, dois grandes produtores de feijão da região, foram apontados pelo Ministério Público Federal (MPF) como mandantes do crime. A sentença deles saiu em 2015, com cada um sentenciado a cumprir 100 anos de prisão. Apesar de o MPF pedir a prisão imediata dos réus, a Justiça permitiu que ambos recorressem em liberdade.

Em 2018, no entanto, uma reviravolta mudou os rumos do processo, quando o TRF-1 anulou a condenação de Antério Mânica.

Em virtude da anulação, o ex-prefeito terá que ser submetido a novo julgamento, que deve acontecer nesta semana.

Na época da anulação, Norberto Mânica, que também recorre em liberdade, prestou depoimento e sustentou ser o único mandante do crime, inocentando o irmão.

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