Mais da metade das mulheres vítimas de estupro que são atendidas no Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na região Central de BH, chegam grávidas à instituição.

É o que aponta um estudo feito com dados de prontuários médicos de mulheres em situação de violência sexual no Servico de Atendimento às Vitimas de Estupro do HC. A idade média das pacientes é de 25 anos, mas inclui uma criança de 4 anos e uma mulher de 58.

O levantamento foi elaborado por três médicas e uma professora da Faculdade de Medicina da UFMG. Os dados foram coletados entre 1º de janeiro de 2019 e 31 de dezembro de 2020.

Segundo o estudo da UFMG, em 2019, das 33 mulheres vítimas de violência sexual atentidas no HC, 23 chegaram grávidas (69,7%).

Em 2020, das 20 pacientes, 11 eram gestantes (55%). Nesse mesmo ano, em todos os casos, foi realizado o procedimento de interrupção da gestação, direito previsto no Código Penal brasileiro desde 1940, em casos de gravidez decorrente de estupro.

Ainda em 2020, em 65% dos casos não foi realizado boletim de ocorrência ou feita denúncia em órgãos responsáveis pela segurança. Além disso, o estudo mostrou que 35% dos estupros foram cometidos em ambiente domiciliar e 25% das vítimas conheciam o agressor. Violência física foi registrada em 40% dos casos e 30% das mulheres sofreram episódios anteriores de abuso sexual.

O levantamento da UFMG também apontou que, além da gravidez indesejada, o estuprador expôs as vítimas a doenças sexualmente transmissíveis e a problemas emocionais de curto ou longo prazo.

Após a interrupção da gravidez, muitas vítimas atendidas no Hospital das Clínicas não seguiram o acompanhamento adequado no ambulatório e não passaram pela consulta psiquiátrica.

O estudo alertou ainda que, em geral, os dados oficiais de mulheres estupradas em Belo Horizonte são subnotificados, já que a maior parte das vítimas não registra boletim de ocorrência.

Hospital das Clínicas