Motoristas do Uber em BH criam 'táticas' para fugir de criminosos

Renata Evangelista
rsouza@hojeemdia.com.br
17/10/2016 às 12:22.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:15
Empresas serão obrigadas a informar os critérios que compõem o valor da remuneração do motorista (Divulgação)

Empresas serão obrigadas a informar os critérios que compõem o valor da remuneração do motorista (Divulgação)

O medo que ronda motoristas do Uber, que frequentemente recebem ameaças e agressões de taxistas, foi ampliado. Agora, os motoristas do aplicativo também temem a ação de criminosos. Os condutores entraram na mira de bandidos em julho, quando a empresa passou a aceitar pagamento em dinheiro. Desde então, conforme relatos, os assaltos aumentaram significativamente.

Em Minas Gerais não há balanço oficial envolvendo as ocorrências contra os condutores da empresa, já que as estatísticas da  Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) e da Polícia Militar (PM) não fazem "esse recorte". Contudo, levantamento feito pelo Hoje em Dia mostra que desde julho, ao menos cinco casos foram contabilizados. O número, porém, pode ser ainda maior, já que muitos não registram ocorrência.

Em outros estados, a situação é ainda mais grave. Neste fim de semana, um motorista 55 anos foi morto a tiros no bairro Del Castilho, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Foi o terceiro condutor do aplicativo executado em menos de um mês. As outras duas mortes foram registradas em São Paulo.

Prevenção

Com medo dos ataques, condutores do Uber em Belo Horizonte desenvolvem táticas para fugir das ações de criminosos. Grupos no WhatsApp de profissionais divulgam informações sobre situações de risco, além de passar informações sobre passageiros suspeitos. Alguns condutores são mais radiciais. Um deles, que pediu para não ter o nome divulgado, declarou que recusa corridas em locais que considera de risco. "Desligo o aplicativo quando estou em área perigosa. Além disso, parei de rodar de noite e de madrugada durante a semana", contou o condutor de 22 anos que há seis meses roda pela empresa.

As mesmas medidas foram adotadas pelo motorista Vinícius Hipólito, de 31 anos. Apesar de nunca ter sido vítima de assalto, ele notou crescimento das ocorrências nos últimos meses. "Aumentaram a quantidade de passageiros e, automaticamente, a violência", disse, referindo-se ao pagamento em dinheiro, um chamariz para criminosos. "É uma profissão arriscada, mas, desembregado, a solução foi trabalhar no Uber", relatou. Também há aqueles que, logo após as corridas recebidas em dinheiro, optam pelo abastecimento imediato, para evitar circular com valores mais altos no carro.

Procurado pela reportagem, a assessoria de imprensa do Uber informou que ao oferecer pagamentos em dinheiro, a empresa busca tornar o aplicativo mais democrático e inclusivo. Além disso, ressaltou que o Uber trabalha junto às autoridades para ajudar a esclarecer qualquer tipo de incidente em sua plataforma dentro dos termos da lei.

A assessoria explicou ainda que, “os dados de usuários para cadastro na plataforma são os mesmos para os usuários que se cadastram com cartões de crédito e com dinheiro, com a diferença de que os que se cadastram em dinheiro não precisam colocar os dados do cartão”. 

Para oferecer mais segurança antes, durante e depois de cada viagem, a assessoria do Uber também destacou que:

Segurança antes..
Antes de iniciar qualquer viagem, todos os usuários da Uber devem necessariamente se cadastrar na plataforma.  

..durante
Os motoristas parceiros contam com um número de telefone 0800 para casos de emergência. Este número é de uma central de segurança que aciona imediatamente a Polícia. Além disso, todas as viagens são rastreadas utilizando GPS.

..e depois de cada viagem
Tanto para o motorista parceiro quanto para o usuário,  a "avaliação mútua" após cada viagem é um ponto importante. Lembrando que o usuário também pode ser desconectado da plataforma se tiver uma média baixa de avaliações ou conduta que viole os termos de uso. Os parceiros contam também com uma equipe de suporte que analisa todos os incidentes, caso a caso. 

Também procurada pela reportagem a PM reforçou que todo comércio que opta pelo uso de dinheiro acaba sendo observado por infratores.

 Reprodução/Facebook

Em Contagem, na Grande BH, condutor teve o carro apedrejado

Histórico de violência

Em agosto, foram quatro ocorrências. Em uma delas, um parceiro do app foi esfaqueado em frente ao Minas Shopping. A vítima foi arrancada do carro e agredida. Dias antes, outro condutor teve o carro apedrejado por taxistas no Centro de BH. 

No mesmo mês, um motorista foi fechado propositalmente por outro veículo na BR-365, na região Centro-Sul. Na ocasião, a passageira ficou levemente ferida. Também na Zona Sul, um motorista foi assaltado na rua Mato Grosso, bairro de Lourdes. Ele alegou que pegou o passageiro e, quando foi receber, foi roubado com o uso de uma arma de fogo. O bandido levou R$ 232.

Em junho, um motorista parceiro do app foi vítima de atentado no bairro Céu Azul, em Venda Nova. O incidente ocorreu quando o motorista da frota estacionou o veículo na rua Radialista Professor Joaquim Fonseca para receber uma passageira e acabou vítima de dois disparos de arma de fogo. Ninguém se feriu.

Em maio foram dois registros. O primeiro aconteceu no bairro Maria Helena, em Venda Nova. O parceiro do Uber teve o carro interceptado por outro veículo, de onde desceram dois homens que dispararam e atingiram o motorista no pescoço. As passageiras que estavam com a vítima não se feriram. Na outra ocorrência, um motorista do app denunciou que foi agredido por três taxistas em Contagem, na Região Metropolitana de BH. A vítima relatou que foi agredidta com tapas na face, que teve o carro chutado, o pneu furado e a passageira foi arrancada do veículo.

No mês anterior, dois casos de agressão contra motoristas do Uber foram contabilizados. Os condutores informaram que tiveram os veículos apedrejados por taxistas na região Centro-Sul. Uma das ocorrência foi na rua Piauí, no Santa Efigênia. A vítima disse que uma passageira embarcava no veículo quando um taxista atirou uma pedra. Horas depois, outro condutor passava pela avenida do Contorno, na altura do bairro Cruzeiro, quando foi atingido por pedras. Um suspeito foi detido, mas negou a agressão.

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