OURO PRETO

Obra de Aleijadinho preocupa técnicos da UFMG; Iphan nega riscos

Rodrigo de Oliveira
rsilva@hojeemdia.com.br
Publicado em 27/08/2022 às 07:30.

Uma obra de Aleijadinho, um dos artistas mais importantes da história de Minas Gerais, tem sido alvo de preocupação de estudiosos. Trata-se de um frontão (tipo de adorno) localizado na fachada da igreja São Francisco de Assis, em Ouro Preto, região Central, e que é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1938.

"O frontão foi construído em diversas partes com pedra-sabão e identificamos que algumas delas apresentam problemas, correndo risco de ceder e desprender", explicou Luiz Antônio Cruz Souza, diretor do Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais (Cecor) da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Segundo ele, esse problema não é novidade. "Já foram realizados cerca de dois ou três diagnósticos e eu mesmo já orientei uma dissertação de mestrado sobre o problema. O frontão corre risco de ceder há, pelo menos, 15 anos", apontou o especialista.

Pesquisadores do Cecor receberam recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para realizar um novo diagnóstico, com o objetivo de atualizar o estado de conservação da obra.

"O diagnóstico vai levar em conta a composição material, os agentes de deterioração e as possíveis formas de preservação, além da intervenção propriamente dita. Feito isso, será elaborado um projeto de restauração, que depende do Iphan", disse Luiz Souza.

Apesar de não haver previsão para o início da restauração, o diretor do Cecor explicou que as conversas com o poder público já foram iniciadas. "Já iniciamos diálogo com o prefeito Angelo Oswaldo, que está em constante contato com a Igreja Católica. Também precisamos falar com a superintendência do Iphan, que precisa autorizar até mesmo o diagnóstico". 

Diagnóstico da UFMG vai levar em conta a composição material, os agentes de deterioração e as possíveis formas de preservação da obra de Aleijadinho (Ane Souz)

Diagnóstico da UFMG vai levar em conta a composição material, os agentes de deterioração e as possíveis formas de preservação da obra de Aleijadinho (Ane Souz)

Questionado sobre o perigo de queda do frontão da igreja São Francisco de Assis, o Iphan afirmou, por meio de nota, que "fez buscas em seus arquivos e monitorou o local, mas não foram encontrados danos estruturais ou dados sobre a possibilidade iminente de queda do frontão".

"Em 2017, foi aprovado um projeto de restauração dos elementos artísticos e não foram identificados problemas estruturais ou desprendimento ativo do frontão. Em 2019, foi realizado um inventário detalhado do estado de conservação e foram identificadas apenas fraturas pontuais", afirmou o Iphan.

Segundo o órgão, vistorias realizadas posteriormente pelo Escritório Técnico de Ouro Preto identificou que os danos registrados no inventário decorrem da degradação natural dos materiais, da sua exposição à ação direta das intempéries e de materiais utilizados em intervenções anteriores 

Prefeitura "está ciente e aguarda Iphan"
Ao Hoje em Dia, Angelo Oswaldo, prefeito de Ouro Preto, afirmou que está em diálogo com os principais atores envolvidos no estado de conservação do frontão. "O padre Edmar Silva, pároco de Antônio Dias, paróquia na qual está inserida a igreja, também está preocupado para resolver a situação. Nossa expectativa é que o Iphan possa definir qual é a intervenção cabível por meio de um laudo técnico".

Apesar de não deixar claro se a igreja será interditada, ele disse que reconhece a gravidade da situação. "A fala do professor Luiz, um dos maiores especialistas do país, torna a questão ainda mais urgente. Nós aguardamos que o Iphan se manifeste, uma vez que a paróquia já demonstrou interesse", comentou o prefeito. 

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