REGIÃO LESTE

Proposta da prefeitura de fechar rua Sapucaí coloca point de BH no centro de polêmica

Raíssa Oliveira
raoliveira@hojeemdia.com.br
06/12/2022 às 17:03.
Atualizado em 06/12/2022 às 17:25

Já conhecida como point de BH, por conta da efervescência dos bares e restaurantes em meio a um mirante de encher os olhos, a rua Sapucaí, no bairro Floresta, região Leste de Belo Horizonte, volta a ser alvo de polêmica.

Novo projeto propõe o fechamento do trânsito - permitindo apenas o tráfego dos carros de moradores até as garagens - em três quarteirões da via. A proposta encabeçada pela prefeitura (PBH) para fortalecer o polo cultural e gastronômico divide opiniões entre quem vive na região. 

Não há previsão para a implementação, que será debatida em reunião virtual na noite desta quarta-feira (7). O assunto já foi discutido pela diretoria de Patrimônio Cultural e teve avaliação positiva, segundo o subsecretário municipal de Planejamento Urbano, José Júlio Rodrigues Vieira. De acordo com ele, o projeto pode ser alterado conforme os interesses das partes envolvidas: população e comerciantes.

Dentre as propostas que serão apresentadas está a redução da circulação de veículos em um trecho de 400 metros, entre as avenidas Assis Chateaubriand e Francisco Sales.

"Em princípio transformaremos em um espaço para pedestres, com circulação de veículos restrita (aos moradores). Não seria fechado porque tem acesso para garagens. Então, (ficaria) apenas para circulação local e o restante para pedestres. Mas isso é uma discussão inicial", detalha.

A proposta é vista com ressalvas por quem mora na região. Para a representante comercial Fátima Maria de Souza Gomes Salles, de 61 anos, uma intervenção nesse sentido será péssima para os moradores. Ela teme que o fluxo de pessoas e o barulho aumentem no local. 

"(Os frequentadores) Já cercaram os bares, tomando a rua e dificultando a visibilidade da saída das garagens. Meu prédio é residencial e a maioria dos moradores é idosa, não aguenta o barulho que chega a ir até 4h. Além disso, tem a desvalorização imobiliária, sobrecarga no trânsito. Não vejo benefício nenhum (na mudança), só para os comerciantes", diz Fátima.

Moradora da Sapucaí há dez anos, ela conta que já foi xingada por frequentadores do mirante ao reclamar de motoristas que estacionam em frente às garagens. "É muito transtorno. Ao tentar sair da garagem, me canso de ficar buzinando para as motos liberarem a passagem. Os motoqueiros também xingam os moradores. Imagine fechando a rua?", questiona.

Segundo ela, a criminalidade no entorno aumentou. "Aqui na rua tem policiamento, mas não é ostensivo sempre. Há muito furto", diz a representante comercial, que vai participar do debate com a PBH para "reivindicar sossego". Segundo ela, todos os moradores dos 51 apartamentos do edifício foram convocados pelo síndico a participar da discussão.

O gerente de tecnologia de sistemas Rodrigo Tavares, de 43, também é contra o fechamento da Sapucaí, mas aponta benefícios proporcionados pelo comércio na região. Ele morou por dez anos no local e ainda tem um apartamento na esquina com a avenida Francisco Sales.

"Quando me mudei para lá a Sapucaí era praticamente deserta, não tinha movimento e havia pouco comércio. Com o tempo, alguns bares se instalaram e a circulação de gente foi crescendo, o que trouxe vida para a rua. Antes até já tínhamos visto assaltos, o que diminuiu com o maior fluxo de pessoas ali", diz.

Rodrigo Tavares afirma que a discussão sobre o fechamento da rua é antiga. Ele diz se colocar sempre a favor da ocupação dos espaços públicos, mas também acredita ser perfeitamente possível uma convivência harmônica entre moradores e comércio, sem que haja necessidade de  interditar a rua. 

"Há alguns anos teve um outro movimento parecido. Uma discussão foi provocada por nós, moradores, e a minha posição naquela época é a mesma de hoje. Sou a favor da ocupação da cidade e do espaço público, acho que os espaços têm que ser ocupados pela população. Mas não acho que a Sapucaí precise ser fechada para que isso aconteça".

Para o gerente de tecnologia de sistemas, a resposta para o impasse está nas mãos da prefeitura, a quem cabe a fiscalização do uso do espaço. "A prefeitura precisa regulamentar a utilização dos acessos, porque o problema é depois que as portas dos comércios se fecham e as pessoas permanecem na rua com algazarra, gritaria, barulho de garrafa quebrando e carros com som alto, um total desrespeito à lei do silêncio".

Comércio
Segundo o representante da PBH, dois encontros foram realizados nesta terça-feira (6) com comerciantes da Sapucaí. O Hoje em Dia tentou contato com alguns estabelecimentos da região e com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), mas não houve retorno.

Lapa de BH
O fechamento da Rua Sapucaí é debatido desde 2012, quando o local começou a ganhar status de point da noite. Porém, as promessa sempre ficaram só no papel. O primeiro projeto previa, inclusive, um calçadão com mesas espalhadas e iluminação especial. Na época, a transformação chegou a ser chamada de "Lapa de BH", em alusão à tradicional região no Rio de Janeiro.

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