Só não vai quem já morreu: Carnaval em BH não é ofuscado nem pela chuva

Frederico Ribeiro
fmachado@hojeemdia.com.br
26/02/2017 às 19:47.
Atualizado em 16/11/2021 às 00:44

A noiva, com uma garrafa de vinho na mão, vai pedindo passagem sem cerimônia. Nas pontas dos dedos, traz com ela o palhaço que se desloca em cadeira de rodas no meio da multidão. A metros dali, o buldogue francês balança o rabo enfeitado com saia de bailarina a cada batuque da bateria. Nos blocos de rua do Carnaval de Belo Horizonte, não há barreira ou limitação para curtir a festa, mesmo debaixo de chuva.

A aglomeração de pessoas, as ruas em aclive e as restrições de mobilidade não impediram o cadeirante André Camargo, de 36 anos, de pintar o rosto, ajeitar a peruca verde na cabeça e curtir o Bloco “Beiço do Wando” ontem, no bairro Funcionários, Centro-Sul da cidade. O publicitário, acompanhado da esposa Glauciane, de 31, vestida toda de branco, promete fazer uma maratona até Quarta-feira de Cinzas, mesmo se cair um “pé-d’água”.

“Ano passado fui a 13 blocos e cheguei ao último dia sem voz, esgotado. Agora, pretendo curtir ainda mais”, afirmou André. Apesar de animado na festa, ele criticou a falta de banheiro químico adaptado para cadeirante. “Não consegui achar um”, disse.

Uma mulher ficou ferida, ontem, ao levar uma cabeçada no nariz durante o desfile do Unidos do Samba Queixinho, na região Noroeste de BH; a agressão ocorreu após a vítima discutir com um homem que tentou beijá-la a força; um boletim de ocorrência foi registrado pela Polícia Militar

Por meio da assessoria de imprensa, a Prefeitura de BH informou que há banheiros químicos para portadores de deficiências nos locais onde os palcos estão montados (avenida Brasil, Praça da Estação e Guaicurus). As possíveis falhas serão sanadas ainda durante o Carnaval deste ano.

Sem limites
O amor pela folia também impulsionou o advogado Gustavo Stockler, de 30 anos, a curtir o Carnaval em quatro rodas. Ele rompeu o ligamento do tornozelo direito. Com a perna imobilizada, o rapaz contou com a ajuda de uma amiga para ir aos blocos “Então, Brilha”, na Praça da Estação, e no “da Calixto”, no Santa Efigênia. 

“Vale o esforço. Eu gosto dessa bagunça e não conseguiria ficar em casa. Ainda mais que agora eu estou solteiro”, comentou Gustavo.

Mas, de novo, nem tudo foi flores. “Preso” à cadeira de rodas há três semanas e com mais dois meses de tratamento pela frente, o advogado sentiu na pele o problema de acessibilidade urbana para deficientes. “É bem limitado, ainda mais com as ruas lotadas”.

Sem idade para sambar
Crianças nos ombros dos pais fantasiados de super-heróis disparam chuva de confetes no mesmo ambiente onde casais de idosos dançam ao ritmo de axé, sertanejo e até funk. 

A lei é se divertir. A missão, apresentar a fantasia mais chamativa da avenida. Acompanhado do filho e da nora, Acácio da Costa Silva, de 63 anos, desfilou vestido de drag queen pela Praça da Estação. O salto alto e a placa “gordinha gostosa” no pescoço não poderiam ter contraste maior no vasto bigode branco.

“São cinco anos direto no Carnaval daqui. É contagiante”, disse o folião, que escapou da chuva e não teve a maquiagem borrada.Wesley Rodrigues/Hoje em DiaSEM OBSTÁCULOS - Gustavo Stockler contou com a ajuda de uma amiga para curtir a festa

Com muitas opções, crianças e famílias se divertem em BH
Ruas abarrotadas de foliões, músicas no último volume e festa regada a bebidas alcoólicas de todas as naturezas. Mas não é só isso. Pode parecer o contrário, mas o Carnaval de BH é também para as famílias, com até mesmo com blocos dedicados à criançada.

A pequena Laura Picorelli, de apenas três anos, fantasiada de mini-Mulher Maravilha, arrastou os pais, tios e avós de Juiz de Fora para Belo Horizonte. 

A família do interior de Minas, em três gerações, curtia pela primeira vez o carnaval da capital. O patriarca Tarcísio, acompanhado da esposa Maria Tereza e dos filhos Fabiana, Raphael e Fernanda, elogiou o ambiente familiar dos blocos que se apresentaram no primeiro dia oficial de Carnaval em BH. E ele só veio mesmo por conta da neta.

“Foi a Laurinha que nos trouxe para cá. Ela é o motivo de virmos para conhecer o Carnaval de Belo Horizonte. Em Juiz de Fora há festejos, mas que acontecem semanas antes do feriado, porque todo mundo viaja”, disse Tarcísio.

Quem também mudou de rota e apresentou a folia belo-horizontina para o neto foi Geraldo Magela. O vovô de 52 anos e a ex-esposa Marta Barbosa, de 50, provaram que existe amizade após o matrimônio. Juntos, trouxeram o neto Yan Lucca, de 2 anos, para o Bloco “Então, Brilha”. 

Yan não se lembrará, mas os avós poderão contar daqui a alguns carnavais como ele ficou maravilhado quando um helicóptero sobrevoou a Praça da Estação jogando confete nos foliões. O agito dos blocos tirou Geraldo do sossego em Fortuna de Minas, região Central do Estado, onde costumava passar o Carnaval. A troca de ambiente foi aprovada.Frederico Ribeiro/Hoje em Dia / N/AO publicitário André com a esposa Glauciane curtindo o Bloco "Beiço do Wando" no domingo de Carnaval

Darth Vader com Glitter
Inspirado na saga de Cinema Star Wars, o bloco Unidos da Estrela da Morte, na Floresta, foi um prato cheio para crianças fãs do vilão Darth Vader e a arma icônica do personagem, o sabre de luz. 

Além desse, outros blocos infantis também desfilaram ontem e no sábado, como o “Bolinha Preta” no bairro São Pedro e o “Bloquim duBem” na Cidade Nova.

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