Mercado bilionário

Startups de saúde impulsionam mercado farmacêutico e trazem inovações com canabidiol

Luciane Amaral
Lamaral@hojeemdia.com.br
26/05/2022 às 21:33.
Atualizado em 26/05/2022 às 21:39

O Brasil é o principal mercado farmacêutico da América Latina, à frente de México, Colômbia e Argentina. E é o 8º em faturamento no ranking das 20 principais economias, representando 2% do mercado mundial em 2021, segundo o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma),  maior entidade representativa do setor no país.

O mercado brasileiro de medicamentos movimentou R$ 88,28 bilhões no ano passado, equivalentes a US$ 14,92 bilhões (Canal Farmácia, valor líquido - desconto médio de 38,90%), segundo levantamento da consultoria IQVIA. O número representa um crescimento de 14,21% em reais, em relação ao ano anterior, revela “Perfil da Indústria Farmacêutica e Aspectos Relevantes do Setor” publicado pelo sindicato.

E foi justamente o potencial de crescimento do setor que motivou Gustavo de Lima Palhares a abandonar a carreira de advogado e dar uma guinada como empreendedor. 

Produtos à base de canabidiol são usados por pacientes com epilepsia e outras doenças (Pexels / Divulgação)

Produtos à base de canabidiol são usados por pacientes com epilepsia e outras doenças (Pexels / Divulgação)

Em 2017, Gustavo uniu a experiência com fusões e aquisições de empresas, com a de um amigo que trabalhava no mercado financeiro e os dois criaram uma importadora de produtos à base de canabidiol.

Desde 2014, o uso desse princípio ativo presente na planta cannabis, é permitido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Antes de 2020, a única forma de conseguir o acesso à substância era pela importação.

A distribuição pela empresa de Gustavo de Lima era exclusiva para pessoas físicas, que sofriam com problemas neurológicos (epilepsia) e psiquiátricos (ansiedade, insônia, depressão). O estoque dos produtos ficava no Uruguai, que tinha uma legislação mais amigável para o uso de princípios ativos à base da cannabis, e também porque a logística e a importação eram mais baratas em relação à compra em outros países. No Brasil, as formulações feitas com prescrição médica eram terceirizadas. 

Com preços competitivos para conquistar o mercado, segundo Gustavo de Lima, o negócio cresceu e, em 2019, os sócios da healthtech conseguiram R$ 30 milhões em recursos próprios e de investidores anjo e compraram uma farmacêutica na região da Pampulha, em BH. No ano seguinte, fizeram a reforma da planta industrial e obtiveram as certificações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária para operar. 

Inovação

De acordo com a Associação Brasileira de Startups (ABStartups), durante a pandemia houve um crescimento de quase 30% no setor. As healthtechs (startups da área da saúde) já ocupam o 2º lugar entre outros segmentos. 44,7% dessas empresas possuem dois anos ou menos de existência, o que demonstra o aumento do interesse e das oportunidades em saúde.

O dinheiro para a fábrica veio de recursos próprios e de investidores anjo. Atualmente, a empresa conta com mais de 2 mil pacientes cadastrados e cerca de 600 médicos prescritores. A fábrica tem 45 funcionários e oito produtos em desenvolvimento no portfólio para consumidores finais. Quatro estão prontos para distribuição e aguardam autorização da Anvisa. 

A expectativa é de que os produtos à base de canabidiol sejam lançados para venda em farmácias no segundo semestre. “Nossa estratégia é buscar parcerias com instituições de renome, como a Fundação Ezequiel Dias, em BH, para o desenvolvimento de novos produtos. E também o Hospital ABC, em São Paulo, para a testagem na fase clínica de produtos para oncologia (tratamento de câncer) e dor” - afirma o empreendedor.

Indústria farmacêutica em BH fabrica produtos à base de canabidiol e investe em parceria de pesquisa com a Funed (Ease Labs / Divulgação)

Indústria farmacêutica em BH fabrica produtos à base de canabidiol e investe em parceria de pesquisa com a Funed (Ease Labs / Divulgação)

A estratégia dos sócios é oferecer produtos inovadores, que já são usados em outros países, de forma mais em conta aqui. “Um dos pilares do nosso negócio é tornar acessível medicamentos para pacientes com doenças graves ou sem condições financeiras para arcar com os custos do tratamento”, explica Gustavo de Lima.

O laboratório fez uma parceria com a Funed para produzir um colírio à base de canabidiol para pacientes com Glaucoma. Otimistas, os sócios têm previsão de que a formulação já esteja pronta até o fim do ano. E dizem que não pretendem parar por aí, apostando no potencial de produtos à base de cannabis.

“Minas tem uma tradição de agronegócio. E, nossos planos para o futuro é produzir a planta no Brasil, para extrair o princípio ativo, assim que o cultivo de cannabis for autorizado” , conclui Gustavo de Lima.

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