Morte de Chávez vai acelerar as reformas em Cuba, diz blogueira Yoani Sánchez

AFP
08/03/2013 às 15:38.
Atualizado em 21/11/2021 às 01:43
 (Cesar Manso)

(Cesar Manso)

MADRI - A morte do presidente venezuelano Hugo Chávez, principal aliado de Havana na região, pode impulsionar as reformas na ilha, afirmou a blogueira opositora cubana Yoani Sánchez em declarações à AFP nesta sexta-feira (8) na Espanha.

O novo governo de Caracas sem Chávez "poderá cortar o amplo subsídio que Cuba recebe por parte da Venezuela", o que empurraria o regime castrista para uma abertura para o exterior, já que a "ilha não teria como manter-se por si só", afirmou.

"Isso impulsionaria Raúl Castro a fazer mais reformas e de maior profundidade no plano econômico, permitir maior investimento estrangeiro ou dos exilados, ou permitir ainda mais trabalho por conta própria", sugeriu Sánchez, que participa no III Congresso Ibero-americano de Redes Sociais, o iRedes, celebrado em Burgos (norte).

"Isto levaria a abrir mais a ilha, o que, no fim das contas, implicaria uma maior abertura democrática", acrescentou a autora do blog "Geração Y", crítica do governo comunista cubano.

Desde que Chávez chegou ao poder em 1999, a Venezuela respaldou o governo cubano com seus grandes recursos petrolíferos, fornecendo para Cuba cerca de 100.000 barris por dia em condições preferenciais.

Por sua vez, a república bolivariana é o principal cliente dos serviços profissionais cubanos, que dão aos país caribenho cerca de 6 bilhões de dólares anuais.

Essa cooperação causa preocupação desde a morte do líder venezuelano, além da incerteza do futuro do "chavismo" na Venezuela, disse Sánchez.

"Uma das principais debilidades deste tipo de modelo personalista é que sem esta pessoa não podem sobreviver", afirma.

A famosa blogueira é também crítica do legado de Chávez: "apesar de ter aberto o acesso da população pobre a maiores recursos e oportunidades, se pagou com a moeda da liberdade, da censura da mídia, da popularização do discurso e o enfrentamento ideológico de uma sociedade que está muito ferida".

Graças à reforma migratória, aprovada em outubro e que eliminou a necessidade de obter permissão para sair da ilha, Sánchez conseguiu seu passaporte depois de inúmeras recusas e, em 18 de fevereiro, iniciou um giro internacional de três meses por 12 países, incluindo Brasil, Espanha, México e Estados Unidos.

Ela explicou que esse tipo de abertura são "medidas desesperadas de um sistema em fase terminal, que economicamente não consegui valer-se por si próprio e com dirigentes históricos nos últimos anos de vida".

Por isso, pediu ao governo espanhol que "não acredite muito no canto da sereia de que as reformas que, apesar de terem aberto alguma flexibilização econômica, não deram nenhum passo para que os cubanos recuperem sua liberdade".

As relações entre Espanha e Cuba se viram recentemente postas à prova pela morte, em um acidente de trânsito, do líder dissidente Oswaldo Payá, de 60 anos, da qual foi acusado o jovem político conservador espanhol Ángel Carromero.

Payá morreu em 22 de julho junto ao dissidente Harold Cepero, de 31 anos, em uma estrada a 700 km de Havana, quando seu carro, dirigido por Carromero, bateu em uma árvore.

O político espanhol, de 27 anos, foi condenado a quatro anos de prisão por homicídio culposo que, após ser repatriado em dezembro, cumpre agora na Espanha em regime semiaberto.

Apesar dos pedidos da dissidência cubana, Carromero não havia rompido seu silêncio público sobre o ocorrido até que disse ao jornal Washington Post, em uma entrevista publicada nesta quarta-feira, que o acidente foi provocado por outro automóvel que os seguia e os surpreendeu pela traseira do carro.

Yoani Sánchez insiste "na necessidade de uma investigação internacional independente". "Tanto sua família quanto os ativistas cubanos merecem saber a verdade", afirma.

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