Os incidentes que chamaram a atenção no Independência, entre torcedores do Racing Club e membros de Polícia Militar, durante o jogo da Libertadores, na última quarta-feira (4) ainda não saiu da memória da diretoria argentina. O presidente da Academia, Victor Blanco, assinou uma carta enviada à Conmebol cobrando punições disciplinares.
No ofício publicado na última segunda-feira (9), não fica claro se o Racing pede sanções contra o Atlético. Esta possibilidade até poderia existir, já que o clube mandante é responsável pela segurança das partidas. Entretanto, os argentinos querem apenas punições à Polícia e esclarecem que a diretoria do Galo adotou uma postura positiva na organização da partida.
"Na reclamação do Racing está destacada a boa predisposição do pessoal do Atlético Mineiro e não há motivos de sanções contra o clube brasileiro. No caso mencionado, a força de segurança não foi privada. Então, não consideramos que o Atlético precise ser punido. Mas colocamos nossa posição de que o Racing Club expressa claramente que foi total responsabilidade das forças de segurança nas quais os clubes não possuem poder de controle. A Conmebol deverá enviar uma reclamação, se enviar, ao Governo do Brasil", afirmou o advogado da Acade, Nicolas Somma, ao Hoje em Dia.
Consultado pela reportagem, o advogado Lucas Ottoni, membro do corpo jurídico do Atlético, esclareceu que o clube mineiro não pode assumir papel de autoridade de segurança e fez a parte que lhe cabe: garantir a presença da PMMG no Independência.
"Não posso falar sobre isso porque não conheço a denúncia do Racing. A Polícia prometeu que faria um relatório, ao qual não tive acesso. O que você pode dizer é que o Atlético não recebeu nada oficialmente ainda", disse Ottoni.
— Diario Popular (@populardiario) 5 de maio de 2016#VIVO | Los incidentes en la hinchada de Racing con la policía en Belo Horizonte. pic.twitter.com/gqxH2F0Pz5
Confira, abaixo, a tradução da carta e o ofício na íntegra:
Tenho a honra de dirigir-lhe, na minha qualidade de Presidente do Racing Club Associação Civil, membro da Associação Argentina de Futebol (AFA) e participante da Copa Libertadores da América Edição 2016, em virtude dos eventos de quarta-feira, 04 do corrente mês e ano, no jogo disputado contra o Clube Atlético Mineiro na segunda etapa da fase eliminatória do torneio acima mencionado.
Venho para expressar-lhe minha consternação perante os acontecimentos no Estádio Raimundo Sampaio, também conhecido como Estádio Independência, e a violência exercida contra sócios e torcedores da entidade que represento. Neste sentido, é indispensável informar a falta de segurança adequada, violência e repressão sofrida pelos torcedores, com o propósito de prosseguir para as sanções adequadas no âmbito da aplicação dos Regulamentos de Competência e Regulamentos Disciplinares vigentes.
A partir do momento que os torcedores do Racing foram colocados para entrar no estádio (portão 8) em fila única, sendo revistados por policiais, impedidos de entrar com bandeiras, câmeras, carregadores de telefone, etc., a polícia militar mostrou uma injustificada perseguição, que foi tolerado pacientemente, sem alterar a ordem pública e respeitando as regras estabelecidas, ocupando o setor atribuído ao público visitante.
Com o início do jogo, aproximadamente aos 35 minutos do primeiro tempo, e com a parte argentina condenada por apenas incentivar sua equipe, por uma causa que a polícia brasileira e as autoridades judiciais não foram capazes de determinar ou justificar, desencadeou uma feroz, violenta e inescrupulosa repressão policial com golpes com cassetetes e spray de pimenta. Policiais Militares percorreram as arquibancadas reprimindo, independentemente do sexo, idade ou atitude das vítimas. Na verdade, a crueldade da polícia era tal que vários cassetetes ou "porretes, facões” literalmente se partiram ao meio e ainda assim continuaram com suas ações.
Esta atitude desafiadora foi observada não apenas no estádio mas também através da transmissão televisiva. O mesmo aconteceu com o spray de pimenta, um uso exagerado não poderia encontrar qualquer justificativa. Tais ações tomadas por policiais militares tiveram como resultado torcedores detidos, feridos e com um sentimento de terror que os responsáveis por garantir a segurança alimentaram com ameaças constantes.
Não obstante tudo o que aconteceu, depois do jogo, os torcedores do Racing Club foram atrasados por mais de uma hora e meia, dentro e fora do estádio, para a devolução pacífica para os hotéis correspondentes. Seguindo a ordem da polícia, eles embarcaram nos ônibus que os aguardavam, até que a barbárie começou novamente: corridas, desespero, repressão, espancamentos, gás de pimenta. Tudo isso pelo simples fato de manterem a calma em uma saída adequada. Assim, só se pode concluir, sem margem de erro, que a polícia procurou em todos os momentos motivos para bater e reprimir violentamente.
Por um milagre, a integridade física da maioria permaneceu ilesa, embora muitos dos torcedores do Racing Club terem terminado com facadas, fraturas, contusões no corpo, e assim por diante. Tudo sem a menor hesitação das autoridades do clube local, que deve realizar medidas para proteger a integridade física dos visitantes.
Neste sentido, o Art. 9.16 do Regulamento de Copa Libertadores 2016 estabelece que "Todas as questões relacionadas com a segurança da festa, ou seja, garantir aos torcedores, espectadores, jogadores, árbitros, delegados e outros árbitros, membros da mídia, líderes e representantes dos patrocinadores deve ser da exclusiva responsabilidade do clube local, de acordo com suas obrigações sob as normas de segurança CONMEBOL ".
Da mesma forma se expressa o Regulamento Disciplinar da CONMEBOL, que no artigo 6º Inc. 2) afirma: "As associações nacionais e os clubes são responsáveis pela ordem e segurança dentro e ao redor do estádio, antes, durante e depois do jogo de que são hospedeiros ou organizadores. Esta responsabilidade estende-se a todos os incidentes de qualquer tipo que possam acontecer, sendo assim, expostos à imposição de sanções disciplinares e cumprimento das ordens e instruções que podem ser tomadas pelos órgãos disciplinares."
Portanto, atentos à gravidade dos fatos mencionados acima, solicito a adoção das medidas disciplinares exemplificadas, por não terem sido adotadas as medidas mínimas para garantir a segurança dos torcedores do Racing Club, que foram brutalmente espancados e privados de qualquer assistência, tanto antes de entrarem nas instalações, quanto depois do jogo, bem como pelo descrédito para a realização de eventos como estes que sofrem tanto o torneio continental quanto a própria Confederação, pondo em risco a coisa mais preciosa que temos este esporte: seus fãs.
VICTOR BLANCO RODRIGUEZ
PRESIDENTE RACING CLUB A.C.