Dor e alegria

19/07/2017 às 11:50.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:38
 (Bruno Cantini/Atlético/divulgação)

(Bruno Cantini/Atlético/divulgação)

Bruno Cantini/Atlético/divulgação / N/A

  

Com o Atlético, tudo é mais sofrido. Essa tese, encampada pelos próprios jogadores, é estampada em números. Recentemente o jornal “Lance” divulgou a lista dos clubes que mais permaneceram na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro na era dos pontos corridos, sistema europeu de competição implantado a partir de 2003. O Galo aparece na terceira posição, com 95 rodadas.

É como se tivéssemos passado dois campeonatos e meio no Z-4 em 15 edições (já contando a atual disputa), com todo o transtorno que essa situação gera num país do futebol: mudança constante de técnicos, barca de jogadores dispensados, contratações feitas às pressas para apagar o incêndio, presença de organizadas na porta do clube e aquela frase padrão lançada aos nossos ouvidos - “É preciso levantar a cabeça”.

Um pouquinho que o Galo frequentou as últimas colocações nesse ano já foi o suficiente para criar estresse, com jogadores sendo afastados, ainda que não oficialmente. Uma pressão que ainda se faz sentir, ao que parece. Como explicar um time não consegue vencer diante de sua torcida? Afoito, o grupo se joga ao ataque para logo aplacar o desejo de gols das arquibancadas, chegando ao final da partida exaurido.

Talvez isso explique a quantidade de gols tomada nos minutos finais em 2017. O tempo, um ex-aliado do Galo, vem conspirando contra. Se antes o pouco tempo para virar um placar parecia entrar numa espécie de dimensão paralela, em que ele era contado de forma mais lenta que o normal, agora ele costuma castigar a falta de mira atleticana. O grupo comandado por Roger Machado é o que mais desperdiça chances nesse Brasileiro.

Olhando novamente os números do “Lance”, é preciso reconhecer que, no top ten dos que mais rondaram o rebaixamento, o Atlético foi um dos que mais conseguiram escapulir do descenso – só não evitou em 2005. O “líder” Figueirense, agora na série B e 108 rodadas no Z-4, caiu três vezes em 17 anos. O Náutico (92), duas vezes, mas não faz o tipo bateu e voltou, ficando na categoria inferior por mais tempo.

Vasco (85), três vezes. Coritiba (83), duas. Goiás (77), duas. Proporcionalmente, melhor que o Atlético só vemos o xará paranaense, 89 rodadas na parte de baixo da tabela, passando à série B em 2011. É o campeão do sofrimento, mas, diferente do Galo, a torcida não teve muito o que comemorar em 15 anos. Foi vice-campeão da Copa do Brasil em 2013 e terceiro colocado do CB no mesmo ano, sem chegar nenhuma vez entre os quatro melhores da Libertadores.

Na psiquiatria, o Atlético seria facilmente diagnosticado com transtorno bipolar, vivendo momentos de euforia e depressão. Em 2011, faltou pouco para o descenso, levando uma goleada para o maior rival. No ano seguinte, liderou parte do Brasileiro e ficou com a segunda colocação. Depois vieram as conquistas da Libertadores e da Copa do Brasil, mas igualmente  marcadas por instantes de grande sofrimento.

Para o Galo, a alegria e a dor andam juntas, inevitavelmente. O sofrimento faz dobrar a sensação de contentamento quando os títulos surgem. E a felicidade nos levar a uma grande depressão, quando a maré não é boa. Nesse momento, não sei se é melhor ir ao Independência, a poucos quilômetros de casa, ou embarcar num avião e só acompanhar as partidas no campo do adversário.

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