Quando o Carnaval chegar

08/02/2018 às 19:13.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:13
 (Bruno Cantini/Atlético/divulgação)

(Bruno Cantini/Atlético/divulgação)

Bruno Cantini/Atlético/divulgação / N/A

  Já estava dormindo no sofá (antes mesmo da partida terminar, para falar a verdade) quando meu filho me ligou falando do barraco lá no Acre. Fora os dias de plantão, raramente escuto as coletivas pós-jogo. E só passo na salinha de imprensa do estádio Independência por dever de ofício.  Bem articulados, os treinadores, de todos os times, raramente criticam um ou outro jogador que ficou devendo na partida e, ultimamente, viraram psicólogos, na esperança de recuperar o moral abalado em momentos de cobrança, que vem sendo, lamentavelmente, mais frequentes no Galo. Confesso que não tirei os olhos da telinha, assistindo a todos os programas esportivos para acompanhar a repercussão do caso, vendo e revendo as imagens da coletiva em que Oswaldo de Oliveira bate boca com um jornalista. Independentemente de quem tinha razão, a situação gerou em mim o efeito de dez xícaras de café. Alguma coisa precisava ser feita para chacoalhar um time ainda sem consistência, que quase viu ser eliminado na fase inicial da Copa do Brasil. Explosões de raiva como a de Oswaldo podem ser muito úteis. Segundo os estudiosos, quando experimentamos esse sentimento, nosso corpo reage como uma convocação para o ataque. Doses extras de energia se dirigem para a fala e o gestual, ganhando uma força que, muitas vezes, nunca imaginaríamos. O cérebro compara situações do passado e processa a necessidade de uma atitude imediata, resultando na explosão. Todo o corpo passa a funcionar no limite máximo, entrando em estado de alerta. Esse ímpeto poderia se espalhar, como um vírus, por todos os jogadores atleticanos, que colocariam o coração (os batimentos cardíacos se aceleram nos momentos de ira) na ponta da chuteira e entrariam em campo como os 300 de Esparta, multiplicando-se até a área de Victor se tornar intransponível. Durante a raiva, o punho fica cerrado, como Reinaldo fazia na comemoração dos gols, e a testa é franzida, assim como a expressão de Ronaldinho antes de bater uma falta. Ruim é quando se tenta refrear a raiva, pois essa atitude é própria de quem não acredita mais numa solução. A ira é, desta forma, o desejo de mudança. E seria bom que essa mudança, se vier, ocorresse agora, como se “tivessem guardado para o Carnaval” a resposta tão ansiada, como diz a letra da música de Chico Buarque. “E quem me ofende, humilhando, pisando, pensando que eu vou aturar... Tô me guardando para quando o Carnaval chegar”, avisa a canção. A folia descrita por Chico Buarque é um momento de espera, o instante de fazer a chave girar e um clic se ouvir do outro lado. Escrita na época da ditadura, o contexto político era claro. Lembrada agora, após mais um jogo sofrido para o torcedor alvinegro, nos faz querer entrar numa espécie de “Baile da Saudade”. Para a bateria não atravessar como no Acre, o Galo terá que apresentar uma comissão de frente nota 10, com Ricardo Oliveira, Róger Guedes, Erick e Otero bem sincronizados no ataque. E se for para rodar a baiana, que seja ali na meiúca, com Arouca e Elias. Acertando o recuo, a harmonia e a evolução virão naturalmente.

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