Um pênalti nunca mais será o mesmo

15/03/2018 às 18:20.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:53
 (Bruno Cantini/Atlético/divulgação)

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Bruno Cantini/Atlético/divulgação / N/A

   Assim que Luan converteu o pênalti e saiu para comemorar com Victor, autor das duas defesas que colocaram o Atlético na quarta fase da Copa do Brasil, eu liguei para casa. Beth ainda estava acordada e falei que a amava. Pedi para acordar a Julia e repeti a mesma frase: “Papai te ama”. Encontrei com o Breno na rua Pitangui e comemoramos com entusiasmo todo aquele sofrimento, se posso dizer assim. O jogo, temos que admitir, foi fraco, como tem sido várias das partidas do Galo neste ano. Bastava um empatezinho, após uma vitória fora de casa – em tese, mais difícil de conseguir. A princípio, não tinha nada de épico no sentido clássico da palavra, lutando para vencer o que parecia impossível. E não é porque a classificação foi conquistada nos pênaltis que temos que ajoelhar e agradecer, como numa missa dominical. No caso de Atlético e Victor, porém, uma cobrança de pênalti nunca será a mesma coisa. Vários gatilhos emocionais são acionados de uma vez, percorrendo uma história que começa em 30 de maio de 2013, contra o Tijuana, passa por Newell Old Boys e termina com o Olimpia, no mesmo ano, com o título da Libertadores. É como uma penitência, um sofrimento pelo qual temos que passar para se chegar ao paraíso. Confesso que quase chorei ao ver Victor se dirigindo para o gol, com a Galoucura ao fundo. E justamente na primeira cobrança, do pé de quem foi o carrasco no tempo normal, Victor pulou de lado e defendeu com convicção. O mundo desabou, naqueles poucos segundos, sobre a cabeça dos atleticanos. Olhei para o banco de reservas e todos, do técnico ao médico, estavam abraçados, realizando uma corrente. Assim, um jogo em que o Atlético andou em marcha lenta, batendo cabeça em vários setores do campo, ganhou contornos de milagre, condenando os torcedores a reviver os Passos da Libertadores de maneira permanente. Meu primo, padre João, atleticano doente, afirma que o sofrimento acontece para que possamos desencadear o amor. Nunca entendi bem essa frase, paradoxal à primeira vista. Mas quando me vi ligando para casa, mentalmente já tinha sofrido o bastante durante aqueles nove pênaltis cobrados e visto São Victor em ação. Nós tornamos devotos dele, a quem recorremos sempre quando a situação aperta. Foi assim na noite de quarta. Disputa de pênalti, na cartilha do Galo, se transformou em algo especial, religioso até, entre o temor e a possibilidade de redenção. Não que precisássemos expiar as nossas culpas contra o Figueirense, pois a temporada mal começou. Em alguns momentos, o que sentimos foi raiva e frustração. Mas é impossível, ao vermos Victor embaixo do travessão e batendo a mão no peito para o cobrador, como se dissesse “aqui não passa”, e não ser impregnado por um sentimento tão forte como foi aquele que experimentamos em 2013.

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