“Extraordinário” é uma lição contra o bullying

02/02/2018 às 20:16.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:07

Adriano Ventura*

Ele chegou como um filme de final de ano. História infantil? Água com açúcar? Era mais uma adaptação de um best-seller para o cinema, inspirado no livro de R.J. Palácio. Mas logo ao estrear já era contado, pela mistura de lágrimas e sorrisos, como um dos filmes mais emocionantes de 2017. Ainda em cartaz nesse início de 2018, “Extraordinário” promete perfilar uma legião de apaixonados em dramas que podem realmente acontecer na vida de qualquer um.

No filme, o garotinho Auggie Pullman vive o medo e desconforto de entrar para a escola após anos de aprendizagem em sua própria casa, tendo a mãe como professora. A criança, que nasceu com uma deformidade facial e já passou por diversas cirurgias, agora aos 10 anos, sem o conforto dos pais e da irmã, terá que lidar com uma sociedade marcada pelo comum: preconceito, segregação, competições.

O personagem Auggie é interpretado pelo jovem ator Jacob Tremblay (o mesmo que fez o Quarto de Jack) e amparado pelos pais, Isabel (Julia Roberts) e Nate (Owen Wilson), além da rápida, mas brilhante atuação de Sônia Braga, que interpreta a avó do personagem principal. 

A história de alguém com uma deformidade facial que busca sua inserção na sociedade é típico roteiro previsível para a Teoria da Informação, que admite duas formas no estilo grand finale: emocionar com alegria ou com a tristeza. Mas a saída encontrada pelo diretor Stephen Chbosky, que também dirigiu a adaptação literária “As Vantagens de Ser Invisível”, foi dar uma boa carga dramática com lirismo e doses de leveza com o jeito hilário e inteligente de Auggie, que logo no início do filme faz com que o espectador se apaixone e passe as quase duas horas do filme na torcida por sua vitória: conquistar o respeito e a aceitação da sociedade. 

Por trás do enredo do filme, uma competente discussão sobre o bullying e os lamentáveis personagens dessa história real de opressão, que se repete no cotidiano em nossas ruas, famílias, escolas e em todo universo onde existam pessoas. Valentões (no inglês chamados de bullies) ou mesmo as vítimas, todos estão lardeados por uma plateia que pode ser insensível à dor do outro, justificando a violência ou sensível, tomando atitudes coerentes para que o preconceito, a ignorância e o conformismo não tomem conta da sociedade. 

A violência, o preconceito e a intolerância contra o outro e a outra sempre existiu. Porém, o combate ao bullying se tornou comum no Brasil não faz muito tempo. Desde então, foram criadas leis em vários níveis. No âmbito municipal, inclusive há legislação aprovada, de minha autoria com intuito de combater o bullying e a violência escolar. Trata-se da lei 10.213, sancionada em 2011, que proíbe o bullying e o trote violento. 

Embora a legislação seja importante, mais significativo ainda é que a sociedade se mobilize contra esse tipo de violência e desrespeito. Afinal, de nada adiantam as normas se não se compreende sua importância no combate a uma opressão específica.

Para quem ainda não viu, fica minha recomendação de assistir a saga do jovem Auggie por respeito e aceitação, ensinando com bastante sensibilidade e alegria sobre como o “feio e esquisito” para alguns e algumas podem tornar-se motivo de orgulho e esperança para toda a sociedade. 

*Jornalista e professor universitário

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