No clássico mineiro, 1º de fevereiro foi Dia da Mentira

04/04/2017 às 13:24.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:00

No último dia 1º de fevereiro, pela primeira vez, meus meninos, o mais velho cruzeirense, o caçula atleticano, foram a um clássico juntos. E o Mineirão dividido encantou a ambos. O de 20 anos já tinha ido a outros confrontos entre Atlético e Cruzeiro, mas o de 16 viveu pela primeira vez a emoção de ver o Gigante da Pampulha com metade das nossas maiores torcidas de cada lado.

E deve ter sido assim para vários outros jovens. Só quem gosta de futebol sabe o sentimento de se estar num estádio, num clássico, com torcidas divididas, uma tradição que faz parte da cultura brasileira, mas que, infelizmente, apenas os cariocas brigam para manter.
Para quem nasceu num 5 de setembro, data da inauguração do Mineirão, frequenta o local de forma assídua há mais de 35 anos e já publicou dois livros sobre a história do estádio, vivi aquele dia como se fosse um sonho.

E foi sonho mesmo. Já acordei dele. Neste sábado, Cruzeiro e Atlético estarão de volta ao Mineirão exatamente dois meses depois. E o Dia da Mentira parece ter sido o 1º de fevereiro, pois o 1º de abril chega com o mesmo cenário desolador do pré-clássico.

Estamos matando nosso maior produto. E, neste aspecto, sinto inveja dos cariocas. Lá, os clubes, até o Vasco, de Eurico Miranda, vendido como a personificação do dirigente de futebol ultrapassado, brigam com Polícia Militar, Ministério Público e Tribunal de Justiça para manter viva a tradição dos clássicos com torcida dividida.

Aqui, os dirigentes seguem caminho contrário. Os clubes recorrem aos órgãos para justificar as suas teses que caminham para “matar” o Atlético x Cruzeiro. O que me impressiona nas semanas que antecedem o clássico desde a reinauguração do Mineirão, em 2013, é a disposição das duas diretorias em mostrar esperteza. Cada lado prepara o seu “saco de maldades com o torcedor”, expressão criada por Emanuel Carneiro, quando se refere à venda antecipada de ingressos.

Bom era o tempo em que o saco de maldades era usado apenas na venda dos bilhetes. Hoje, ele está em todos os aspectos possíveis que possam atrapalhar a vida do torcedor adversário.

Nos jogos no Independência, a torcida cruzeirense é tratada como um bando e fica num local que, num país sério, já teria sido interditado pelo Ministério Público, pois é tudo, menos plateia de um estádio de futebol. Agora, no Mineirão, o Cruzeiro proíbe bandeiras, instrumentos musicais e até mascotes atleticanos.

No confronto entre #TimeDoPovo e #PaixãoDoPovo, o povo é que se dane. E viva a vaidade dos cartolas.

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