O processo que nunca recebi de Eduardo Maluf

Em 2010, como repórter da revista “Placar”, fiz ao lado do amigo Jonas Oliveira uma matéria sobre a força do BMG no futebol brasileiro, pois o banco tinha participação nos direitos econômicos de vários bons jogadores e ainda estampava sua marca em várias camisas de times da Série A do Campeonato Brasileiro, incluindo a dupla Atlético e Cruzeiro.

08/06/2017 às 20:21.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:59

Em 2010, como repórter da revista “Placar”, fiz ao lado do amigo Jonas Oliveira uma matéria sobre a força do BMG no futebol brasileiro, pois o banco tinha participação nos direitos econômicos de vários bons jogadores e ainda estampava sua marca em várias camisas de times da Série A do Campeonato Brasileiro, incluindo a dupla Atlético e Cruzeiro.


E durante a apuração da reportagem, me foi revelado que Eduardo Maluf, na época diretor de futebol do Cruzeiro, era uma espécie de consultor do banco. Ele não participava de negociações, mas emprestava sua experiência ao negócio.


Destaquei isso na matéria, revelando que o BMG contava com a consultoria daquele que era considerado o melhor diretor de futebol do Brasil, com um salário superior inclusive ao de muitos jogadores que disputavam a Série A por grandes clubes. E revelei o valor que Eduardo Maluf recebia na Toca da Raposa II.


Depois de um tempo, fui alertado pelo Guilherme Mendes, diretor de comunicação do Cruzeiro, que o Maluf estava bravo comigo por causa da matéria da “Placar”. Não entendi o que poderia ter acontecido, pois coloquei ele como o diretor de futebol mais cobiçado do Brasil naquele momento.


Além disso, já tinha passado um tempo considerável da publicação da matéria e não entendia a reação tardia ao texto.


Liguei para o Maluf. E ele foi direto, como sempre: “Poxa, Alexandre, você está querendo me f...?”.


Perguntei qual seria o motivo e ele concluiu, me passando a impressão de que queria até rir da situação: “Eu não ganho aquele salário que você falou na reportagem. Mas isso não é o pior. Minha ex-mulher entrou com pedido de revisão de pensão usando a revista como prova para justificar o meu salário”.


No final da conversa, Maluf disse que o advogado tinha mandado ele contestar a reportagem judicialmente. O processo nunca chegou, mas a relação ficou ainda mais aberta e respeitosa. Sabia que ele me falava coisas que não contava para outros jornalistas, embora nunca tenho ido à casa dele, nem ele à minha.


Não conheci a família do Eduardo Maluf, mas desejo a eles todo o meu sentimento pela sua morte. Ele fez mais que história, ele ajudou a fazer a história do futebol mineiro, principalmente de Atlético, onde trabalhava, e Cruzeiro, pois estava nos dois quando viveram seus maiores momentos.


Eu não estava errado quando, em 1996, como repórter do “Estado de Minas”, fui a Itabira fazer uma matéria sobre o jovem presidente do Valério, que aparecia revolucionando o futebol do interior mineiro.


Especialista em tabelas e regulamentos, transformou o nosso Estadual no melhor e mais atrativo do Brasil no que diz respeito à fórmula de disputa, que é a mesma desde 2004, o que dá credibilidade à competição.

 Além disso, tinha trânsito nas entidades para fazer com que seus clubes não fossem prejudicados por tabelas absurdas nessa maratona que se transformou o futebol brasileiro nos últimos anos.


Ele entendia mesmo do assunto. Tinha o dom para administrar o departamento de futebol de um clube, sem se perder com vaidades ou holofotes. Nunca vi Maluf querendo se colocar como estrela ou duelando por espaço na mídia com jogador. Nunca foi idolatrado por torcidas, pois se limitava a fazer, e muito bem, o seu trabalho. Vai com Deus, Maluf.

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